Segredo

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Junho, 04

Acordou sentindo o braço dormente, a cabeça dolorida e com um terrível aperto no coração. A mão livre foi usada para esfregar os olhos, tentando se acostuma com a luz que invadia o quarto através da pequena fresta entre as espeças cortinas. Olhou para baixo, vendo o emaranhado de fios negros e o rosto sereno do Uchiha, ele ronronava serenamente em seu peito, agarrado a cintura dela firmemente e com as pernas entrelaçadas. "Vai ser complicado sair assim" pensou, não queria acorda-lo. Depois da noite e madrugada agitada, Sasuke precisava descansar. Com cuidado, conseguiu escapar do abraço sem fazer muito barulho, e na ponta dos pés saiu do quarto.

Enquanto descia as escadas, pronta para recolher seu vestido da lavanderia, avistou a ruiva sentada no sofá da sala. Karin tinha um porta-retrato na mão, e os belos olhos castanhos fitavam a parede completamente perdida em pensamentos. Sakura não sabia se deveria seguir seu trajeto ou ir ver se a mulher precisava de alguma coisa, não queria ser invasiva nem nada do tipo.

Entretanto, não gostava da ideia de deixa-la naquele estado. Respirou fundo e se aproximou com cautela, os orbes inchados e avermelhados desviaram da parede e pousaram sobre ela, diferente da primeira vez que a viu, não havia o brilho característico no belo rosto da Uzumaki.

ㅡ Bom dia. ㅡ cumprimentou-a tentando sorrir. ㅡ Sasuke ainda está dormindo... ㅡ explicou constrangida. ㅡ Hm... precisa de alguma coisa? Café, suco... não sou boa cozinheira, mas acho que posso fazer isso.

ㅡ Não precisa se preocupar, não estou com fome. ㅡ Karin disse, voltando a encarar o porta-retrato em sua mão. ㅡ Ele sempre foi complicado, mas... mesmo assim, eu me apaixonei desde o primeiro momento em que o conheci. Uma vez derrubou um milk-shake na minha camiseta favorita dos Beatles, foi sem querer é claro, ele estava andando de costas quando esbarrou em mim... você tinha que ver a cara dele, ficou ainda mais pálido do que já era e começou a pedir desculpas sem parar, tentando limpar a minha roupa com a própria jaqueta. ㅡ contou, um pequeno sorriso desenhou o rosto cansado, Sakura sentou ao lado da ruiva ouvindo atentamente a historia. ㅡ Ele passou uma semana atrás de mim, eu me fiz de difícil é claro, tinha acabado de entrar na puberdade e não sabia controlar os meus hormônios perto dele. Mas, um dia ele simplesmente apareceu na minha janela as duas da manhã com uma ridícula rádio velha no ombro, acordando todo o bairro com Hey Judi, e nossa, ele canta muito mal! ㅡ mesmo que continuasse sorrindo, uma fina lagrima maculou a face entristecida. ㅡ Sasuke estava com ele, morrendo de vergonha.

ㅡ E você o desculpou? ㅡ perguntou Sakura, curiosa com o romance juvenil.

ㅡ Não deu tempo, minha mãe jogou um balde de agua fria neles e meu pai ameaçou eles com uma espingarda. ㅡ lembrou, soltando uma pequena risada. ㅡ Mas, ele ainda teve tempo de jogar uma sacola na minha sacada, era uma camiseta nova e tinha um bilhetinho que dizia "me desculpe pimentinha malagueta, mas eu não consigo viver muito tempo sem você"... acho que foi a declaração mais cafona que me fizeram, mas, no dia seguinte quando eu fui liberada do meu castigo, eu beijei ele bem no meio da quadra durante um jogo de queimado... tínhamos treze anos, então já deve imagir o desastre, parecia que ele ia me engolir e no final a língua dele ficou presa no meu aparelho. ㅡ Sakura não resistiu e acabou rindo ao imaginar a cena. ㅡ Foi o pior melhor beijo da minha vida,  desde então sempre estivemos juntos, mesmo quando ele começou a se envolver com pessoas erradas... nunca desisti dele, Sasuke e eu fizemos o possível pra tirar ele do vicio, mas... ele só parou quando eu engravidei.

ㅡ É uma história muito bonita, Karin. ㅡ a Haruno disse tentando conforta-la, Karin mordeu o lábio inferior com força e secou rapidamente os olhos.

ㅡ Eu tinha acabado de fazer dezoito anos e a poucas semanas de começar a faculdade, meus pais surtaram e me mandaram embora porque eu não quis abortar... "você estragou a sua vida por causa daquele marginal", minha mãe disse. Claro que eu sabia que ia ser difícil, estava apavorada...

AcordoWhere stories live. Discover now