Os três pedidos de Damian

Três pedidos

Uma batida insistente na porta o fez acordar. Suspirou pesadamente antes de levantar. Bocejando e esfregando os olhos, abriu a porta e viu um garotinho de cinco anos com um cabelo mal penteado e roupas que pareciam ter sido colocadas as pressas.

- Estamos atrasados! – Repreendeu o menor.
- O que?
- Se eu não tivesse acordado teríamos perdido o Papai Noel!
- Você sabe que ele vai estar no shopping pela semana inteira, né?
- Eu sei! Mas quero ser um dos primeiros a falar com ele!
- Tudo bem, mas vamos combinar uma coisa. Enquanto eu me arrumo, você vai voltar para o quarto e se vestir direito.
- Tt. – Apesar de amar quando o irmão fazia esse barulhinho, já imaginava que ele poderia virar algo irritante no futuro. – Eu estou arrumado!
- Suas roupas estão tortas e seu cabelo tá despenteado.
- Isso porque você não viu o seu.
- Cuidado com o que diz ou não vai ganhar presentes.

Ao ouvir aquilo o menor ficou vermelho e deu as costas para ele, caminhou de volta para o próprio quarto. Desde o mês passado o menininho tentava se comportar bem e se redimir pelas coisas mal-criadas que fez. Queria a todo custo entrar na lista dos bonzinhos do Papai Noel. Ao vê-lo se afastar, Richard, apelidado de Dick, voltou para o seu quarto e começou a se arrumar. Quando ficou pronto procurou pelo irmão e viu como ele estava, aparentemente, Damian conseguiu se arrumar com perfeição. Os dois desceram e foram tomar café da manhã.

- Bom dia. – Cumprimentou Alfred, o mordomo da casa que era considerado um parente muito querido por todos.
- Bom dia, Alfred.
- Bom dia, Alfie. Onde estão os outros? – Apesar de estipular as possíveis respostas, queria ouvir da boca dele.
- Patrão Bruce acordou cedo hoje e com um pouco de pressa, mal tomou café e saiu, o que eu considero uma sorte.
- Jason?
- Sim. Ele chegou a pouco tempo e está dormindo profundamente.
- E Tim?
- Bebeu dois copos de café antes de sair para, você sabe onde.
- Pra onde ele foi? – Perguntou o menor que até então estava calado.
- Atrás de presentes. – Mentiu, mas era por uma boa causa, não queria acabar com o encanto que conseguiram colocar nele.

Apesar de ser uma criança, Damian não viveu muito como uma normal até pouco tempo atrás, e isso era evidenciado ao não saber quem era o Papai Noel. Damian era filho de Bruce com Tália, uma mulher que escondia suas atividades criminosas tão bem quanto o próprio pai. Numa festa, ela e Bruce se conheceram e deram início a um romance que acabou quando ele descobriu quem ela realmente era. Quase quatro anos depois, o Wayne descobriu que tinha um filho com ela e fez de tudo para conseguir a guarda dele. Não foi fácil, mas conseguiu. Agora tinha que fazê-lo se sentir bem-vindo à nova casa, mesmo que passasse a maior parte do seu tempo trabalhando e o deixando sobre os cuidados de Alfred Pennyworth. Neste novo ambiente, Damian tinha três irmãos mais velhos e um mordomo que agia como um avô. Fazia quase um ano que ele estava ali e esse era o seu primeiro natal com a nova família, por isso Dick, Alfred e Bruce tentaram de tudo para fazer daquela uma data ainda mais especial.

Após terminarem de comer, os dois irmãos partiram para o shopping. Ambos estavam ansiosos, Damian por fazer seus pedidos e Dick por finalmente descobrir o que ele queria. O menor não contava para ninguém o que queria, dizia que só o Papai Noel tinha que saber, para sorte de Richard, Tim seria o Papai Noel e poderia lhe contar o que Damian desejava. Alguns minutos depois, eles já estavam no shopping e de frente para a fila que levaria ao bom velhinho.

‐ A fila está meio grande, quer voltar outra hora?
- Não. – Respondeu firme.

De longe, Tim viu os dois irmãos chegando e sentiu um pouco de medo, e se Damian descobrisse quem ele era? Respirou profundamente para se acalmar e receber as crianças. Durante toda manhã, ele recebia pedidos de crianças mimadas, tímidas, entre outras, se não fosse pelo dinheiro teria ido embora a muito tempo. Tim queria ganhar seu próprio dinheiro e com ele comprar um presente para Bruce, não seria nada muito caro, mas seria suficiente. Lembrava-se de como o pai ficou orgulhoso de saber que ele tentaria ganhar o próprio dinheiro com um trabalho honesto. Juntando forças, tentou não surtar quando percebeu que estava chegando na vez de Damian. O garoto estava animado, mas quanto mais perto do bom velhinho, mais ele se sentia nervoso. Será que ele aceitaria realizar seus três pedidos?

- Damian? – Chamou Richard vendo como ele paralisou. – É a sua vez.

Tomando coragem, ele se aproximou daquele homem de "barba".

‐ Olá garotinho! – Cumprimentou Tim usando uma voz diferente e esticando os braços para pegá-lo no colo.
- Oi. – Respondeu enquanto se acomodava melhor.
- Então, o que quer de natal este ano?
- Bem. – Olhou para Dick e se aproximou do ouvido do Papai Noel, certificando-se de que ninguém mais ouviria. – Eu quero pedir três coisas.
- Três coisas? Não acha que é muito? – Comparado com alguns até que ele não pediu muito. Tim não queria que ele virasse uma daquelas crianças mimadas e tentaria ensinar uma lição para ele, mas a sua postura seria quebrada.
- Eu sei que é muito, mas se me der isso não precisa me dar mais nenhum presente de natal pelo resto da vida! – Falou firme e vendo se Dick não ouviu.
- Hã? – Sua voz saiu um pouco fina, mas logo a mudou. – Não estou entendendo, pequeno.
- Eu não preciso de nenhum outro presente se realizar os meus pedidos.
- Mesmo? Nem quando você quiser um brinquedo bonito?
- Não pedirei mais nada, juro! – Suas bochechas ficaram vermelhas.
- Vamos ver o que eu posso fazer. O que você quer?
- Primeiro. – Se aproximou do ouvido dele. – Eu quero me dar bem com o Tim, ele é um dos meus irmãos e não quero mais viver brigando, quero que ele goste de mim.

O mais velho sentiu como se uma faca atravessasse seu coração. Podia brigar com o menor, mas não significava que o odiava!

- Segundo: eu quero que o meu pai passe mais tempo em casa. E por último, quero que o meu pai e o Jason parem de brigar, quero que eles se dêem bem.

Certo, Tim não tinha palavras para descrever o que ouviu. Sentiu o coração apertar.

- Se me der esses presentes, nunca mais peço nada.