CONTO 9- ANTES DE IR

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           CONTO 9: ANTES DE IR

Certo rapaz que residia na cidade de Vitória da Conquista, resolveu ir um dia para outra cidade, um local que fosse mais calmo, mais prazeroso e mais produtivo, no quesito do trabalho.
Esse rapaz fez pesquisas rápidas em seu computador, com seus dedos longos e ágeis. Pegou o celular, discou um número, e pôs-se a falar, com sua voz grave e firme:
-Oi, sou eu. Resolvi aceitar a proposta que você me fez. Vou para aquele lugar que me indicou, mesmo. Parece ser melhor.
Parou, ouviu algumas frases e desligou o celular.

                                                               
                 *              *              *

Marina tinha uma casa enorme em Nova York, mas nem sempre desejava estar lá. Certo dia resolveu comprar novamente uma casa no Brasil, seu país natal. Comprou um prédio lindo e confortável, pensando em fazer negócio.
“Já vou chegar no Brasil fazendo negócio”, pensou ela, olhando o reflexo dos seus olhos negros no espelho. Aquela manhã deixava ainda mais linda a sua pele morena, e evidenciava o brilho de seus cabelos negros. O vestido azul marinho deixava as linhas de seu corpo bem desenhadas, mostrando a perfeição de sua beleza natural. “Vou alugar algumas casas desse prédio para garantir meus gastos por lá”, continuou a pensar. “Afinal, eu não vou gastar o dinheiro que ganho em minhas empresas por lá, sabendo que lá mesmo eu posso fazer dinheiro e devolver para eles, fazendo compras”, concluiu, sorrindo.
Passaram-se dois dias e Marina já estava em seu país natal, em um apartamento que ficava dentro do prédio que comprara, e já havia conquistado quatro inquilinos. Ela recebera de todos os quatro inquilinos, uma parcela de adiantamento. Sem dúvidas, era uma boa negociante.

                                                           
                   *              *             *

Maurício estava com o seu notebook, como de costume. Agora estava longe de sua cidade, que já não estava mais dando lucros para seu trabalho, tão arriscado.
Agora ele pensava em novas oportunidades, por isso mesmo aceitou a proposta de um camarada, um rapaz que sempre indicava ele para alguns trabalhos. Ele acabou aceitando porque sabia que não havia previsão de outro emprego, ainda mais na atual situação.
Ele estava olhando para o apartamento em que estava hospedado. “Lugar maneiro, até. Diferente dos outros lugares que já fiquei”, pensou. Mas a chamada no celular o trouxe de volta para a realidade e concentração.
-OI. –disse ele.
-A mulher que você vai matar é uma tal de Lídia, morena, alta, boa pinta e tem um sotaque meio inglês, pois esteve nos estrangeiros por anos. –disse alguém a Maurício.
-Mas e a foto? –quis saber.
-Ainda não. Mas em breve conseguiremos mandar para você.
Três horas se passaram e Maurício recebeu a foto da mulher que mataria. Sim, esse era o seu trabalho.
Ele conhecia a mulher que teria de matar, pois ela era a dona do apartamento que ele estava hospedado.
-Hahaha! Vou matar a mulher que está bem perto de mim. A dona deste apartamento. Quem diria que eu cairia no lugar certo!-disse ele, sem se importar com o volume da voz.

                                                          
                   *             *             *

Marina estava indo entregar o contrato com ao homem que alugara por três dias um de seus apartamentos, quando ouviu a voz dele dizendo que a mataria. Ficou uns segundos parada, sem saber o que fazer, mas depois resolveu desaparecer do Brasil, novamente.
Uma outra inquilina estava passando no momento em que Marina decidiu ir embora, esbarrando-se nela e fazendo barulho, bem na porta de Maurício. Esse, abriu a porta e ajudou a moça a sair, ficando sozinho com Marina.
Para a surpresa de Marina, ele não agiu como um criminoso, não disse nada sobre matar, mas a convidou para entrar e perguntou:
-A senhora está bem?
-Sim. –respondeu ela, tentando ser o mais natural possível.
-Que bom. Parecia que estava machucada ou algo. Machucou? O que foi aquilo na frente da porta, caiu?
-Eu estou bem. Caí, pois a moça tombou em mim, mas nada demais aconteceu.
-Ok. Quer tomar um vinho?
-Oh, não, obrigada. Não bebo essas horas.
-OK. Já vi que vou ter que fazer do jeito mais difícil.
-O quê? –quis saber ela.
Mas ele nada disse, apenas a pegou e levou-a para um lugar do quarto que ela não podia ver, pois ele colocou algo em seus olhos para tapar sua visão e algo em sua boca para que seus gritos não fossem ouvidos.

                                                                 
                   *              *             *

Estava tudo escuro, e Marina tinha medo. Ela queria sair dali, mas relutava, no pensamento de que se saísse, o homem poderia ir atrás dela e machucá-la, novamente.
Ela não ouvia mais o barulho do homem, pela casa. Quando ele tinha saído do quarto onde deixou ela, fez alguns barulhos pela casa, e depois disso, ela apagou. Tudo o que ela lembrava depois dos machucados horríveis que aquele desgraçado havia feito nela foi que ele fez barulho, ou seja, ainda estava na casa.
Marina criou coragem e começou a se levantar. Percebeu que não sentia mais a dor cortante que sentia minutos atrás, e, quando procurou suas sandálias, viu seu próprio corpo no chão, todo machucado, com um aspecto de dor bem visível no rosto. Ela tentou chorar, mas não descia nenhuma lágrima.
Tentou carregar o seu corpo e reanimá-lo, mas suas mãos ultrapassavam o corpo, sem causar nenhum toque. Foi aí que ela percebeu que o seu corpo estava morto. O único sentimento que ela conseguia ter era a raiva. Tinha raiva do miserável que tinha tirado sua vida. Ela tinha uma vida bem sucedida porque lutou por aquilo. Jamais teve uma vida fácil.
Ela nasceu em uma periferia, no Brasil. Vendia latinhas de cerveja para ajudar nas despesas da casa, foi ajudante de manicure, foi várias coisas antes de ser empresária. Ela não aceitava o fato de um homem desconhecido tirar tudo dela em seu melhor momento, depois de passar por tanto perrengue.
“Deve haver algum jeito de me vingar! Sim, tenho que dar o troco aos desgraçados que fizeram isso comigo!”, pensou ela.

                                                        
                  *             *              *

Após chegar de uma volta para beber um vinho, Maurício estava entrando no apartamento, quando viu uma carta em letras meio indefinidas, mas claras, onde estava escrito:

QUEM MANDOU ME MATAR? EU NÃO ESTOU LITERALMENTE MORTA...”

Ele parou de ler aí, e foi procurar o corpo de Marisa. Quando o viu, respirou fundo. O corpo dela estava lá. Quem escreveria aquilo? Se ele encontrasse alguém, mataria, pois aquilo era a prova de que ele foi visto praticando o crime.
Olhou a carta para ler o resto e lá estava escrito:

EU SEI QUE VOCÊ VAI ACHAR ESTRANHO, MAS EU ESTOU VIVA FORA DO MEU CORPO. EU QUERO SABER QUEM MANDOU VOCÊ  ME MATAR. SE NÃO ME DISSER, VAI SER ATORMENTADO PARA SEMPRE. PEÇA A PROVA DE QUE ESTOU VIVA E TE DAREI”.

Ele se apavorou, mas tentou manter a pose de homem mau, homem que não tem medo.
-Quebre alguma coisa aqui na sala, onde posso ver que não tem ninguém. –disse ele.
Quando ele terminou a frase, um vidro se quebrou em sua frente. Ele recuou, mas continuou fingindo que não se importava, que aquilo era alguma brincadeira.
-Eu sei que é você procurando brincadeira, Jeferson! Pode sair daí.
Mas ninguém saiu de lugar nenhum.
Minutos se passaram e ele disse:
-Se for mesmo quem diz ser, escreva algo aqui no vidro. –disse ele, apavorando-se mais ainda.
Ele descobriu a mesa e esperou. Não demorou esperando, pois segundos depois de ter descoberto a mesa, Marina tratou de prová-lo que estava mesmo “viva”, escrevendo:

ACREDITA AGORA? VOCÊ NÃO ESTÁ VENDO NINGUÉM, MAS ESTÁ LENDO O QUE ESTOU TE DIZENDO. DIGA AGORA O NOME DE QUEM MANDOU ME MATAR!”

Apavorado, Maurício disse:
-Não me mata. Eu vivo disso. Quem mandou matar foi Fabiana, pois ela tinha inveja de você. Ela disse ao Jeferson, que é o cara que indica os trabalhos para mim. Por favor, não me mata, eu tava trabalhando!
Marisa escreveu na mesa:

“EU TAMBÉM ESTAVA TRABALHANDO, QUANDO VOCÊ ME MATOU”

                                                        
                   *              *              *

Dois dias depois, Jeferson, Fabiana e Maurício foram encontrados mortos, todos na casa de Fabiana, de uma forma misteriosa. Ninguém conseguia dizer qual seria o motivo de matarem eles, juntos, uma vez que não tinham vínculo.
Marina finalmente conseguiu descansar em paz, antes, fazendo a única coisa que poderia libertá-la, para que seu descanso fosse garantido. Antes de ir, ela fez aquilo que deveria ser feito, pois, se um matador não quer morrer, imagina uma batalhadora?

Vidas Marcadas: Contos de Terror e SuspenseWhere stories live. Discover now