Capítulo 2

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 - Senhor Barão. – Disse o chofer enquanto gentilmente abria a porta traseira do elegantíssimo Rolls Royce 73 preto.

- Para onde agora?

- Iremos à escola que leva o nome de seu falecido compadre.

- Chateaubriand, é claro, como pude me esquecer?

- O senhor está tendo uma semana agitada!

- Claro, claro.

Enquanto levava a mão direita aos bagunçados cabelos grisalhos que lhe preenchiam a cabeça, Patrícia, sua secretária, que se assentava a sua frente, tratava de relatar suas obrigações quase que diplomáticas no compromisso que o aguardava, mas, seus lembretes passaram despercebidos. Lembrar da memória de seu antigo amigo era delicadamente emocionante para Barão.

- Já faz cinco anos!

- Desculpe senhor, o que disse?

- Nada, nada. – Respirou fundo – Apenas continue!

Interrompendo-os, Leila, sua esposa, que se assentava à esquerda de Barão, questionou-o.

- Querido, você está bem?

- Estou sim, querida. – Sorriu gentilmente para ela, então continuou - Carlo, quanto tempo até nosso destino?

- Uma hora senhor!

- Ótimo, terei tempo para homenageá-lo. Rápido, alguém me dê papel e caneta! - Patrícia prontamente os entregou.

Quando finalmente chegaram ao destino, Carlo posicionou o carro em frente ao portão principal da escola. Como era de praxe, saiu do veículo, contornou-o por trás e abriu a porta traseira para Barão.

A presença de Barão impunha respeito aos que ali estavam. O abotoar de seu imponente Armani super cento e oitenta azul, foi assistido pelo comitê de boas-vindas que estava ali presente, quase que em câmera lenta. Pouco lhes importava seu cabelo despenteado ou a visível pressa que tinha para fazer o que tinha de fazer.

Deu um único passo e parou, olhou nos olhos de todos que compunham a comitiva e acenou-os um por um, com um gesto discreto com a cabeça, enquanto aguardava sua excelentíssima esposa descer do Rolls Royce.

Ao recebe-la com o braço esquerdo, deu mais dois passos a fim de preencher o semicírculo que o aguardava.

- Cavalheiros – disse cordialmente.

- Barão – respondeu um, que se mostrou líder do bando - deixe-me apresentá-lo! – E dirigindo-se aos seus, continuou - Rapazes, este é o excelentíssimo Barão de Montenegro!

- Devo interrompe-lo, quisera eu ter tal título, ou ainda tal descendência, mas tenho Barão apenas por nome e Montenegro por sobrenome, de origem Portuguesa diga-se de passagem. Pois bem, devo recomeçar. Cavalheiros, é um prazer conhece-los, Álvaro Barão de La Plata e Montenegro. Podem me chamar de Barão de Montenegro, mas é importante frisar que não tenho tal título.

- Equívoco meu Barão, perdoe-me!

- Não é para tanto. Vamos?

- É claro senhor, por aqui. – E conduziu-o pela rampa até a entrada da escola. Ao entrar no prédio, foi conduzido sem delongas à uma escadaria que dava imediatamente ao palco. Em frente a ele, já estavam devidamente posicionados todos os estudantes que compunham o período da manhã.

Com a chegada de Barão, todos levantaram-se de suas cadeiras em posição de sentido, como militares a recepcionar um superior. O Barão achou graça e deixou escapar um discreto sorriso no canto esquerdo da boca. Aproximou-se do púlpito que tivera sido posicionado para seu discurso e começou sua palestra.

- Baronesa, é uma honra para todos nós recebe-los em nossa escola. – Disse o diretor.

- Por favor, Leila. Não temos títulos.

- Perdoe-me. Leila. O Barão foi sem dúvidas o melhor secretário da educação que nosso estado já viu. Temos muito orgulho de tê-lo conosco nesta tarde. Suas palavras certamente motivarão nossos alunos e a todo corpo docente!

Enquanto conversavam aos cochichos no canto direito do palco, Barão seguia seu discurso inspirador, fundamentado em ética, perseverança, e exaltando a todo instante a importância dos estudos e dos livros.

Na verdade, seu discurso não era nenhum pouco original, tinha por base a mesma formula que qualquer outro usaria ao palestrar para estudantes. O que dava peso maior às palavras, era quem as proferia. Poucos de fato tinham conhecimento de que Barão não era um título, e isto, somado à boa reputação que tinha graças à excelência de seu mandato, apenas o agregava valor e admiração.

Barão palestrou freneticamente por 50 minutos, sem hesitar. Fazia palestras dês de que fora eleito, o que lhe dava certa confiança e domínio. Aquela era a segunda palestra naquele mesmo dia, e ainda faria mais duas até o fim da tarde, o que lhe conferia certa pressa em se encerrar.

Emocionou-se no fim do discurso, quando mencionou o velho amigo. Tomou nas mãos o discurso que escrevera, mas, sabendo que a figura pública de seu amigo era controversa, com fama de "valentão" e "bocudo", e dada a extensão do texto que escrevera, dobrou o papel, colocou-o no bolso e improvisou uma curta menção.

- Daquele, cujo nome este prédio leva, não vos contarei de sua vida pública, que é o que encontrarão nos livros ou ouvirão dos mais velhos. Mas, do importante papel que teve na minha infância e consequentemente em toda minha vida. Ele ensinou-me a pensar, ensinou-me a imaginar, ensinou-me a sonhar. E pelos sonhos que tive a minha vida toda, lutei para chegar aonde cheguei, e assim, pude realizar o que sempre sonhei. Uma educação digna, para que possam pensar por si próprios, imaginar o impossível, sonhar com dias melhores, e quando formados, terem a capacidade de lutar pelo que almejam.

Ao fim do discurso foi aplaudido de pé com grande entusiasmo pelos alunos e professores. Acenou brevemente com a mão direita enquanto se retirava, e ao virar-se, tomou sua esposa pelo braço e começou a caminhar com passos apressados para a saída.

Checava as horas constantemente enquanto caminhava, sua assistente o acompanhava passando os dados de seu próximo compromisso enquanto se atrapalhava com suas pastas e anotações.

O diretor e outras figuras da escola caminhavam ao seu lado agradecendo-o e convidando-o para o café. Todas essas vozes, inclusive a de Patrícia, emaranharam-se para ele, e não se esforçou para tentar entender nenhuma delas. Apenas seguia em frente, em passos apressados.

- Tenho outro compromisso, não posso atrasar-me. – Desculpava-se a todo instante durante sua retirada.

A porta do Rolls Royce era convenientemente eficaz quanto ao isolamento acústico, e quando Carlo a fechou, o silencio que se instalou proporcionou-o conforto instantâneo.

Barão pediu aos seus companheiros de viagem, que permanecessem em silencio para que pudesse contemplar aquela calmaria, que sabia que seria passageira. E assim, seguiram viagem.

A CordaWhere stories live. Discover now