14: olhe para mim

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Áries Johnson
9 dias para o Halloween, 2019
Quando os pesadelos ganharam vida

Eu não gostava de chorar na frente de outras pessoas.

Parecia bobo. Era bobo.

Mas de alguma forma estranha, fazia eu me sentir fraca. Um passarinho com asas quebradas que não tem como fugir da morte. A garota com um coração quebrado que não teve escolha. E uma alma suja que merecia mais uma decepção.

Eu odiava chorar fora banho ou longe do meu próprio espaço.

E odiei com mais força quando senti meus olhos arderem.

— O que você quer? — Minha voz continuava ofegante. Desestabilizada. Ela soava como um murmúrio doloroso demais para ouvir por muito tempo.

Nikko soltou uma risada seca.

Era fácil imaginar seu sorriso vitorioso do outro lado da linha. Um contraste perfeito com suas tatuagens e seu cigarro.

— Eu quero encontrar você. Tem muito tempo, Áries — Ele fez uma pausa para tomar um gole de bebida. Apostaria em um whisky ou uma cerveja com gosto amargo. — E tem que ser essa noite. Encontro você na faculdade.

Minha garganta apertou. Eu senti vontade de correr para minha banheira até água quente inundar meu corpo. Mas eu não estava em casa. Eu não tinha como fugir das lágrimas escorrendo pelo rosto e dos ombros encolhidos sem vapor para acalmá-los.

Nikko riu mais uma vez.

Eu nunca deveria ter atendido aquela maldita ligação.

— O que foi? Tenho certeza que não gostaria de apresentar seu novo namorado. E que ele não gostaria nem um pouco de... — Apertei meu celular até sentir meus dedos doerem. As articulações se chocando pela força.

— Encontro você em uma hora — Não esperei uma resposta para desligar.

As lágrimas queimavam. Elas doíam igual tivesse aberto as pálpebras no fundo do oceano.

Eu queria afastá-las. Eu queria esfregar meu rosto. Eu queria gritar para que fossem embora.

Mas não fiz nada disso. Apenas olhei para frente.

Meus olhos correram pelas árvores. Pinheiros cresciam perto da calçada. Eu enxergava pouco. A floresta parecia engolir cada um deles até não existir nada além da escuridão. A música abafada do primeiro andar impedia meus ouvidos de procurar sons. De buscar por passos quebrando galhos secos ou pisadas fortes na neve.

Eu não enxergava nada.

Eu não ouvia nada.

Nikko sabia como ser invisível. Uma sombra que ninguém percebe sem um bom sexto sentido. Um fantasma.

Era uma qualidade destrutiva.

Igual minhas mentiras.

Igual a frieza mortal de Addam.

No final das contas, nenhum de nós escapava.

Existia um destino doloroso para cada um dos Johnson.

— Áries? — A voz de Damien estava distante. Ela ecoou na minha cabeça. Um universo inteiro impedia seus braços de envolverem meu corpo. Não parecia real. Era como um sussurro no final de um sonho. Aqueles que chamam seu nome segundos antes das pálpebras abrirem assustadas.

Apertei meus olhos.

Fechei com força.

Eu não estava dormindo. Não era mais um pesadelo.

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