03| antes | nós e mais dois

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Não

Vago o olhar, esbarrando com um cara comum, cabelos castanhos, barba por fazer, sorriso gentil, corpo normal – nem musculoso demais, nem magrelo demais.

Talvez

Pondero.

— Amiga — aquele chamado me arranca da minha minuciosa análise, enquanto a mão magrela, mas de dedos largos da mulher de cabelos e olhos castanhos, pele clara e um ar imponente, agarra meus ombros, inclinando sutilmente sua cabeça para que nossos olhos chegassem a uma conexão única — Mente aberta, ás vezes o conteúdo é melhor que a capa.

Reviro os olhos.

— Não sou novata nisso Lis — a recordo.

Seus olhos me encaram desconfiada, enquanto seus dedos se afastam do meu ombro.

Lisbon Taner, advogada, minha melhor amiga desde sempre, desde sempre mesmo, pois fizemos o jardim de infância juntas, o primário e o colegial, apenas nos separamos na faculdade, enquanto ela foi para Yale, eu me mandei para a França estudar culinária. Mas dizer que nos falávamos todos os dias era eufemismo.

— Vamos começar — eloquentemente uma mulher alta, cabelos negros e lisos, em um perfeito tailleur preto e alinhado com suas medidas corporais, segurando uma prancheta em mãos anuncia.

Ao seu lado direito estava uma jovem, certamente sua assistente, com uma roupa quase idêntica a sua, enquanto do seu lado esquerdo um homem grande, alto, musculoso, com o cabelo preso em um coque, sustentava uma máquina fotográfica em mãos, captando imagem de diferenciados ângulos.

— Vai funcionar da seguinte forma, a cada cinco minutos meu relógio vai apitar — ela volta a falar, e logo aponta para o marcador de tempo solitário em uma pequena mesa — As mulheres permaneceram sentadas, enquanto os homens circulam o salão e vocês se conhecem — suas mãos se chocam uma contra a outra produzindo um barulho audível e proposital — Mulheres ocupem seus lugares.

Os lábios de Lisbon tocam minha bochecha, enquanto seus olhos ansiosos me encaram animados.

— Boa sorte amiga — murmura animada, caminhando em direção a uma das mesas.

A acompanho e sento em uma mesa quase na frente da dela. O tampo preto, liso e vazio da mesa é um convite a discrição. Meu corpo se aloja na cadeira pouco confortável de encosto reto, enquanto que a cadeira diante de mim permanece vazia, de soslaio percebo os homens praticamente se organizando em uma fila.

Apoio minhas mãos pálidas, levemente suadas sobre o tampo, enquanto meus polegares se chocam ansiosos, apenas com os murmúrios masculinos preenchendo o som. Preguiçosamente vago o olhar pelo lugar.

Não vai começar?

Penso, buscando a mulher alta e de tailleur, vagando por cada pedaço daquele salão, finalmente meus olhos se chocam com sua figura imponente, a dela e a de um homem, que segurava um pequeno bloco de notas em mãos, uma caneta em outra, trajava um jeans comum, um camisa cor mostarda e óculos em armação preta.

Estreito os olhos.

Não pode ser

Não, não, não.

Encaro, continuo encarando, o homem vira e passeia o olhar pelo salão e finalmente encontra os meus. Desvio o olhar para o mais longe possível, duvido que tenha sido discreta, apoio meu cotovelo sobre o tampo preto, enquanto meus dedos coçam minha têmpora disfarçadamente para ocultar minha bela face.

É ele. O cara da cadeia

O cara que pagou a minha fiança, que me deixou um bilhete e um número de telefone que fique encarando, encarando, encarando, mas não disquei, não por desinteresse, porque pelo incrível que pareça, aquele desconhecido tinha me ajudado a apagar Todd.

Sempre sua Garota [✓]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora