Ainda não tinham trocado o primeiro beijo quando a avó de Mu Qing decidiu que queria morar num asilo, isso o deixou receoso. Nunca havia ficado sozinho e não entendia a decisão de sua avó.

Ela não queria mais sua companhia? Não sabia dizer.

Mas, quando contou ao Feng Xin o que passava enquanto tomavam café numa padaria das redondezas, ele sugeriu sem pensar duas vezes que viesse morar em seu apartamento.

Mu Qing que tinha os olhos circunspectos e quase marejados, piscou com seus cílios demasiados compridos para um rapaz e sem saber de seu porque, aceitou. Ainda que morar com um quase estranho adorável, não fizesse lá grande sentido.

No entanto, Mu Qing sabia que as melhores coisas da vida, não possuíam um sentido discernível. Elas simplesmente se manifestavam em forma de oportunidade.

Em algum ponto, nos dias seguintes, tornaram-se um casal.

Desde então, três anos se passaram.

O aroma de café instantâneo vagava na cozinha, que por ironia ou falta de planejamento arquitetônico, era o maior e mais espaçoso cômodo do apartamento.

Feng Xin bebeu do café e Mu Qing mordeu uma rosca doce.

Ocupando a mesa feita em madeira, ainda ouvindo a chuva.

Ambos estavam quietos, Mu Qing vestia apenas uma cueca e um camisão de seu namorado e Feng Xin nada mais que a roupa íntima e uma hanfu descuidado, aberto.

__ A chuva está te deixando melancólico?

Feng Xin tinha a voz grave e suave e sua pergunta tinha uma complacência curiosa enquanto desencostava a xícara de porcelana branca dos lábios.

— Não.

E a voz de Mu Qing era seca e algo reservada, quase deixando escapar um traço de seu nervosismo, de suas preocupações guardadas.

— A rosca doce está velha?

— Não... Está boa, gosto do açúcar como neve sobre ela.

— Sente alguma dor?

— Nenhuma dor.

— Então... O que está incomodando você, Mu Qing?

Não entendia como Feng Xin conseguia entrever seus sentimentos mais obscuros. Mu Qing desviou o olhar para a chuva batendo contra o basculhante da cozinha, não respondeu de imediato, mas sabia que Feng Xin estava olhando paciente sem sua direção esperando uma resposta.

A chuva e o ventos ameaçaram abrir parte do basculante, fazendo os vidros trepidarem.

— Fazer sexo com você... Está me deixando entediado.

Feng Xin arregalou um bocadinho o olhar, as sobrancelhas franzidas, deixando num gesto simples e suave a xícara sobre o tampo da mesa.

— Que merda sem sentido!... E o que você quer que eu faça para tornar o sexo mais interessante?

— Acho que em três anos já fizemos um pouco de tudo.

— Hum... Não sei, quer comprar um brinquedo novo? Fazer uma posição que nunca fizemos?

Mu Qing mordeu outro pedaço da rosca e bateu com as pontas dos dedos no tampo da mesa, como se pudesse arrancar uma melodia dela, ou perfura-la ao toque.

— Acho que já fizemos as posições do Kama Sutra de trás para frente e vice-versa... E... Porra! não quero brinquedinhos, eles são frios.

— Acho que o sexo virou rotina para dois nós.

— Isso é terrível.__ Mu Qing falou muito sério.— Porque eu... Eu-eu realmente gosto de você... Mas, quando fazemos sexo, sinto vontade de bocejar.

— Mas, acho que nossa relação não funciona sem sexo.— Feng Xin retrucou numa reflexão sombria.

A rosca também caiu sobre a mesa, comida pela metade. Um nó se formara na garganta de Mu Qing, tinha que concordar com seu namorado. Os dois eram relativamente jovens, Feng Xin tinha vinte e oito anos e Mu Qing quase vinte e nove, ambos tinham muita disposição sensual e gostavam verdadeiramente do sexo.

Mu Qing considerava que o sexo era a graxa que fazia as engrenagens de seus sentimentos amorosos funcionarem de forma eficaz e saudável. Sem o sexo, temia que terminassem por se separar.

Esse pensamento sufocante quase o fez chorar e por isso, abandonou a mesa e saiu à pressas da cozinha a se esconder como uma criança sobre a colcha da cama ainda desarrumada.

O que o arrancou da angústia obscurecida de seu esconderijo foi Feng Xin puxando-o pelos ombros, acolhendo-o contra si.

Depositando um beijo em sua têmpora.

— Mu Qing... Vamos pensar em algo.

— O quê?...__ Mu Qing deixou escapar um suspiro, num tom tão mal humorado quanto ligeiramente encabulado.__ Já invertemos a condição de macho alfa, já fizemos em vários lugares diferentes, de vários modos diferentes... Já demos até uma rapidinha no corredor e quase que o síndico nos pegou...

— Parece que o problema está em nós dois.

Mu Qing meteu-lhe um soco no ombro, recusando a afirmação de Feng Xin.

— Não tem nada errado com nós dois!...

— Então, o que...__ Feng Xin deu de ombros, perdido, ignorando o soco.

— Acho... Acho que precisamos de um namorado.

— Mas!... O que você está dizendo?... Nós já somos namorados... Está sugerindo para namorarmos outras pessoas?... Mu Qing...

Mu Qing ficou de joelhos na cama, jogando a colcha para o lado.

— Não, idiota! Estou dizendo... Que precisamos de um namorado que seja de nós dois.

O jeito de Feng Xin devolver o olhar, fazia parecer que Mu Qing tivesse sugerido para darem uma volta num óvni.

— Uma terceira pessoa na relação?...

— Alguém... Que você e eu queiramos namorar.

Feng Xin também estava de joelhos, um de frente para o outro.

Olharam-se ao passo que o barulho da chuva só se fazia aumentar junto ao vento.

— Mas... Quem?

A interrogação de Feng Xin veio junto com o abraço, trazendo Mu Qing para perto de si como a chuva e o vento lá fora.

Mu Qing não sabia quem, mas iria descobrir, iriam escolher alguém.

Recostou-se contra o peitoral de Feng Xin ouvindo lá dentro as incertezas no coração a pulsar.

Os lábios dele beijaram seu cabelo.

Os lábios dele beijaram seu cabelo

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☆arte de Meru 90☆

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