um | hunt finley

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O primeiro soco veio forte e rápido e antes que eu pudesse me esquivar, havia sangue pingando do meu queixo em minha camiseta. O segundo me fez praguejar, em cheio na boca do estômago. Fechei os olhos por alguns momentos, sentindo a súbita onda de falta de ar. Abri uma das pálpebras, depois a outra. Sentindo o gosto metálico no paladar, murmurei:

— É um ótimo gancho de esquerda.

Resposta errada.

O cara parado na minha frente me prensou com mais força contra a parede. Parecia que queria me esfolar vivo, mas eu não o culpava. Se eu encontrasse alguém com minha namorada, também ficaria com raiva. Só que eu não sabia que ela estava comprometida, em minha defesa.

No momento, a garota se encontrava encolhida no lado oposto do quarto, um lençol branco enrolado no corpo e os olhos lacrimejando. Parecia hesitante, diferente do momento em que nos encontramos em um bar mais cedo e ela se apresentou. Foi natural, a gente flertou, nos beijamos e então ela me convidou para ir até a casa dela.

— Para com isso, John. Ele não tem culpa. — Sua voz não passava de um fiapo. — Eu não disse que tinha alguém.

John me encarou por alguns momentos, enquanto eu sentia o rosto latejar. Na verdade, meu corpo todo meio que doía.

Suas mãos se foram abruptamente e eu suspirei. Em dias normais, se eu não estivesse bêbado, teria retribuído ou ao menos tentado me defender. Mas, no estado deplorável qual eu me encontrava, só era capaz de terminar de abotoar a calça com dificuldade e pegar as chaves da minha moto enquanto ignorava a discussão barulhenta que se desenrolava entre o casal. Eles que se resolvessem, já estava na hora da minha deixa.

O apartamento não ficava muito longe do lugar onde eu morava, então cheguei em quinze minutos. Se eu não estivesse tão chapado, teria levado quatro ou cinco. Minha cautela em me certificar de que eu não bateria a moto em um poste e nem atropelaria um pedestre me fez andar em uma velocidade deliberadamente lenta. Eu sabia que estava sendo a droga de um irresponsável, só que realmente precisava ir para casa.

O prédio onde eu vivia há apenas cinco dias ficava situado em uma área consideravelmente movimentada de Massachusetts, também tinha ótima localização porque ficava perto do campus da Harvard, onde eu estudava. Vinte minutos de distância. Era prático em dias em que eu queria dormir por uns momentos a mais ou estava com preguiça de sair da cama.

Antes de entrar em meu apartamento, observei a única porta do outro lado do corredor. Não havia visto ninguém sair dali desde que tinha terminado a mudança e vindo para cá oficialmente. Suspeitava de que estivesse vazio antes de ouvir alguns ruídos vindos de lá naquela manhã.

Eu queria muito saber que tipo de vizinho ou vizinha eu tinha. Aparentemente era alguém pragmático, que gostava do silêncio e tinha uma rotina organizada. Seus horários nunca batiam com os meus. Eu sempre ia para a faculdade dez ou quinze minutos atrasado, saía para festas à noite e voltava durante a madrugada.

Tropeçando para dentro do meu mais novo lar, só tive tempo de chutar os coturnos para fora dos pés antes de desabar sobre o sofá, pegando no sono quase que imediatamente.

* * *

Eu estava quinze minutos atrasado para a faculdade.

Minhas costas doíam e meu rosto estava cheio de hematomas, meu abdômen parecia aquela pintura chamada Noite Estrelada de Van Gogh, em tonalidades diferentes de roxo, azul e amarelo.

Resumindo, eu estava com uma aparência de merda e mal conseguia respirar sem que meu interior parecesse incendiar. Droga de gancho de esquerda. Com pressa, tomei o banho mais rápido da minha vida, depois vesti as primeiras duas peças de roupas que achei: uma regata e uma calça jeans rasgada nos joelhos. Estava tão atordoado que nem percebi que estava chovendo, só quando cheguei ao hall do prédio após descer alguns lances de escadas e olhei para fora através das portas de vidro.

Uma tempestade.

Eu tinha uma prova e, se não chegasse em alguns momentos, ficaria encrencado. Empurrei uma das portas e fiquei sob o toldo do edifício, sentindo frio feito um otário. A chuva caía impiedosamente no estacionamento e molhava toda superfície descoberta, inclusive o banco e os escapamentos de minha moto.

Por que diabos eu tinha uma moto?

A porta atrás de mim foi aberta e alguém saiu do prédio, o som de passos arrancando-me de meus pensamentos.

Olhei sobre o ombro.

A garota ao meu lado parecia alheia a minha presença. Ou me viu e me considerou mais irrelevante que a lata de lixo à minha esquerda, como se eu fizesse parte daquele cenário.

O cabelo longo dela era liso e preto feito nanquim. Por alguns momentos, me prendi aos seus detalhes. O rosto delicado, a pele clara feito lua, a franja que caía sobre sua visão. E, ao contrário de mim, estava vestindo um casaco pesado e calçando botas, além de segurar um guarda-chuva fechado nas mãos. Estava na cara que ela tinha se preparado para o temporal.

Seus olhos escuros finalmente se conectaram aos meus.

Mas foi só por uma ou duas frações de segundo e ela não demonstrou nada que não fosse indiferença. Logo depois, ela abriu o guarda-chuva e fez uma corrida lenta/caminhada depressa até um Ford novo estacionado a alguns metros de distância. Por algum motivo, esperei com que ela manobrasse e saísse do estacionamento para me enfiar sob a chuva e subir na minha moto.

* * *

Eu perdi o teste.

Ou melhor, a inspetora me parou assim que coloquei uma de minhas botas encharcadas para dentro de um dos edifícios da Harvard. O olhar que ela me lançou foi estranho, mas não fiquei ressentido porque eu devia estar mesmo parecendo um maluco. Ensopado, concussão na têmpora, roupas que não condiziam com o clima e tatuagens em setenta por cento de pele à mostra, alguns piercings e automaticamente eu me transformava em um possível infrator.

O tempo passou e após eu mostrar para ela o cartão da biblioteca, confirmando que eu estudava ali, ela disse que eu não podia fazer o teste naquele estado então eu simplesmente subi na moto e voltei para casa.

Aproveitei o resto da manhã para dormir e, quando resolvi sair, mais tarde, parei ao ver alguém na frente da porta do outro lado do corredor.

Eu reconhecia aquele cabelo de mais cedo.

Ela mal percebeu minha presença atrás de si, só quando girou para fechar a porta. Sua mão congelou na maçaneta e seus olhos me fitaram com um misto de surpresa e reconhecimento. O momento durou cerca de três segundos, até eu dar um passo para frente.

Estava pronto para dizer que eu era o vizinho novo e que me chamava Hunt Finley, mas, em um rompante, ela fechou a porta bem no meu rosto. Franzi o cenho com força, nada de "Boas-vindas" para o vizinho novo?

Com certeza seríamos grandes amigos

* * *

oi, gente! demorou um pouco pra postar mas finalmente tá aqui, o capítulo um reescrito. estou tirando muitas cenas e pontos que considerava irrelevante em DFY, para tentar deixar o livro mais limpo e fluido.

bjs, até logo <3

Die For You se passa depois do fim de Bad For You (ordem cronológica de tempo)

Die For You (completo na Amazon)Where stories live. Discover now