Capítulo 1

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— Entenda que tudo o que eu estou fazendo, é para o seu próprio bem! — minha mãe diz, com o dedo apontado para o meu rosto e o tom de voz mais alto do que de costume.

Eu estava deitado na minha cama, com os meus fones de ouvido e o violão deitado sobre a minha barriga, antes de ela entrar no quarto alvoroçada e gritar para que eu desligasse a música e prestasse atenção no que ela tinha para dizer. Confesso que eu não me importo, diferente do que aparento ser, não sou um adolescente rebelde que grita com os pais e bate as portas da casa. Se quer saber, já me acostumei com as broncas diárias da minha mãe.

— Eu não disse que não é... — Suspirei lento e profundamente antes de me levantar e deixar o violão no chão ao lado da cama. — Só acho que mudar de Doncaster para Holmes Chapel foi precipitado; não podíamos ao menos ir para Londres? — eu me arrependo das palavras logo em seguida.

— Você sabe que estamos aqui pelo seu pai, e não por nós. — Ela franze o cenho e solta o ar. Caminha até mim a passos lentos e se senta do meu lado no colchão molenga. — Sabe que, quando ele estiver satisfeito, voltaremos para casa. Mas por agora temos que respeitar suas vontades devido ao fato de que tudo o que ele faz é para nos ver bem. — Olho para ela. Está sorrindo triste. Mamãe é a mulher mais admirável do mundo. É linda e guerreira. Não é à toa que estamos aguentando este cubículo de cidade para não magoa-la.

Quanto ao meu pai, bom, já nos acostumamos com sua rotineira vida de mudanças. O problema é que dessa vez ele nos envolveu nisso com ele. Acho que foi algo relacionado à saudade que o fez tomar a decisão de alugar uma casa maior em Holmes Chapel e morarmos todos juntos enquanto ele trabalha na cidade. Sei que os dias podem ser difíceis quando passados sozinhos, mas não é fácil abandonar toda uma vida, deixá-la para trás e simplesmente fingir que ela nunca existiu. Talvez eu demore mais do que imagino para me adaptar aqui.

— E quanto ao que estávamos falando antes, você vai à padaria hoje mais tarde — ela pegou um papel no bolso da calça jeans e desenrolou para ler. — A pessoa com quem você irá falar se chama Harry e, pelo que me falaram, é ele quem decidirá se você trabalhará ou não como padeiro.

Faço uma careta e depois sorrio. Ela sorri de volta e me abraça, fazendo cosquinha em mim logo em seguida.

— Para, mãe! Está doendo! — grito em meio à risadas.

Ela cessa sua tortura contra mim e ambos nos levantamos. Dou um beijo em sua bochecha antes de ela sair do quarto.

O dia está extremamente frio e por isso decido tomar um banho quente para me esquentar.

(...)

Lottie está sentada à mesa com o celular na mão. Ela olha fixamente para ele. Parece nervosa, ansiosa. Aposto que está esperando a resposta de alguma mensagem de amor. Meninas são tão bobas...

Me sinto feliz por ter descido bem a tempo. Não que eu planeje irritá-la, daqui a pouco terei que sair e não é hora para começar uma briga. Mas nada me impede de espionar por detrás dela.

Ando devagar em sua direção, tentando não fazer barulho e atrair sua atenção para mim. Ela está muito entretida para me notar com uma garrafa de refrigerante na mão e meus tênis na outra. Acredito que será mais fácil do que imagino.

Quando passo por ela sem que eu seja pego, rio baixo, comemorando minha vitória. Fico atrás da cadeira e cubro a boca com a mão que segura a garrafa para abafar minha respiração. Quando estico o pescoço para tentar ler o que está escrito na tela do celular, tropeço no tapete e bato a boca na cadeira.

— Ai, meus dentes! — reclamo de dor, sentindo o gosto de sangue na língua.

— Bem feito! — ela dispara contra mim, se levantando com brutalidade e fazendo com que a cadeira caia para trás, me levando junto com ela. — Ninguém te ensinou sobre não bisbilhotar as coisas de uma menina?

— Ninguém te ensinou sobre... — Começo a remedá-la, mas a mesma solta a cadeira que acabei de levantar com os pés em cima de mim outra vez. — Meu nariz!

— Alguém vai ter que se esforçar muito para conseguir aquela vaga na padaria, porque se depender da aparência, você já era! — acho que nunca a ouvi falar daquele jeito. Ela soltava as palavras com precisão e seu tom era claramente de raiva.

Quando ela saiu andando em direção à escada, levantei a cadeira outra vez e me levantei, ficando sentado. Ri baixinho para não enfurecer mais ainda minha irmã e depois levei a mão à boca, conferindo dente por dente. Quase me faltou o ar quando notei a ausência de um; e pra piorar: era o dente da frente.

(...)

— Pelo amor de Deus, Louis... Você já tem dezoito anos! Ainda não aprendeu que com a sua irmã não se brinca? — mamãe perguntou, limpando o sangue na minha boca enquanto tentava me acalmar, sem sucesso.

Balancei a cabeça, sentindo dor.

— Nunca mais eu falo com ela. Pra quê tudo isso? Eu não pretendia fazer nada além de ler a conversa dela com sabe-se lá quem...

Enchi a boca de água e depois gargarejei. Ainda tinha muito sangue. Foi preciso dez enxagues para que a água saísse limpa.

— Acha mesmo que a aparência vai contar? — perguntei, com um pouco de receio na voz.

Mamãe sorriu e levou as mãos para perto das minhas bochechas.

— Só não as aperto porque sua boca está doendo. — Ela desfez o sorriso. — Louis, querido, estamos em Holmes Chapel, não em Nova Iorque. Aqui não é preciso ser um modelo da Gucci para fazer pães. — Brincou, me fazendo relaxar. — E, falando nisso, acho que você já está atrasado.

Conferi o relógio no meu braço e fiz cara feia.

— Você tem razão... — Dei um abraço nela antes de sair. — Vejo você mais tarde.

Quando vesti meu casaco e saí de casa, senti aquele típico medo de quando estamos prestes a começar algo novo.

Eu sabia que era agora ou nunca.

Eighteen | L.SWhere stories live. Discover now