— Que nada... Senti os calos nas pontas dos seus dedos... E não é por cuidar de cavalos, que instrumento você toca? — Jun Wu indagou com a voz macia por trás dele, enquanto tornava a guiar os dedos confusos de Shui.

— Pra que dizer?... Vai me achar antiquado. — Huan Shui retrucou em tom evasivo, tentando trocar a posição dos dedos entre o dó e o lá maior.

— Eu não vou... — Jun Wu soprou baixo, ajeitando os dedos que tremelicavam entre as cordas erradas. — Quero apenas saber algo bom sobre você... Não só o que te deixa triste.

Se antes Huan Shui estava concentrado tentando executar as notas no braço do violão, enquanto marcava o ritmo com a batida, ele ouviu o dito e se deu conta que Jun Wu estava perto demais, que os dedos dele guiavam os seus e de repente, ele olhou por cima de seu ombro e viu o rosto de Jun Wu tão imensamente próximo do seu.

Sua mão errou a batida e o nervosismo fez a saliva acumulada em sua boca descer torta.

— Por que?... Não devíamos ter conversas tão pessoais. — Huan Shui replicou, com seu olhar a perscrutar aquela tez flutuando tão perto.

— Tarde demais... Fui comparado com uma tela de Goya de manhã, vai negar que isso não é o mesmo que observar alguém com interesse? Você se aproxima de mim com observações delicadas e sutis, mas quando eu tento me aproximar de você...

— Olhe para você. — Huan Shui o interrompeu, com uma pitada de ironia velada na voz. — Já não está perto o suficiente de mim?

Os dedos de Huan Shui estavam encaixados nas cordas, assim como os braços dele passavam por seu corpo e as mãos dele tocavam levemente as suas... A se vislumbrarem dentro de um atmosfera em parte envolvente, parte exasperada e em parte venéreo.

— Não o suficiente... Porque seu coração está fechado para mim.

Se qualquer outra pessoa lhe dissesse o mesmo, Huan Shui consideraria como uma cantada das mais clichês, mas já que era a voz de Jun Wu, as ondas sonoras num cochicho que lhe soava ardente, sentiu-se irritado porque de uma forma que detestava estava indubitavelmente atraído.

— Você vai embora quando menos esperar... Por que eu deveria abri-lo para você? Não estou interessado em ter um caso passageiro.

— Quer dizer que eu te desse garantia de ficar aqui na província por tempo indeterminado... Você reconsideraria?

Os dois continuaram a mirarem-se num silêncio convidativo além da conta, Huan Shui não conseguiu responder, esse olhar de um negrume quente que parecia devora-lo previamente estilhaçava toda indiferença que ele se esforçava para manter feito um escudo.

A agitação íntima fulminante advertia-o que estavam a um triz de unirem seus lábios num beijo.

O pânico que sentiu como ter a mente terrivelmente em branco, fez Huan Shui agir instintivamente como um animal em fuga. Ele ergueu subitamente o violão que antes descansava em sua coxa e o colocou entre ele e Jun Wu.

Com o coração pulsando na palma da mão que segurava o intrumento.

— Não... Eu não posso reconsiderar. Eu saí recentemente de uma relação... Não quero me machucar de novo.

E nem bem o disse, empurrou o violão entregando-o bruscamente para Jun Wu.

Huan Shui se levantou e como um raio pulsante e inquieto foi se sentar na janela da casa na árvore, encarando a paisagem necessariamente... Disfarçando a vontade de chorar, numa atitude com um resquício de violência dolorida.

Jun Wu tinha ímpetos de se levantar, fazê-lo olhar em sua direção, mas ele apertou o braço do violão com os dedos... Pensando que Huan Shui estava tão magoado, que se impor e tentar conseguir detalhes sobre algo tão recente, seria uma péssima estratégia.

Em vez disso, Jun Wu suspirou.

Ajeitou o violão contra seu corpo.

— Huan Shui... Quer ouvir alguma música em especial?

Ele fez menção de olhar em sua direção, mas não olhou.

Seus gestos eram de uma hesitação infinita.

Tremendo secretamemte por dentro, contendo o incontível.

— Faça uma música... — Huan Shui replicou com alguma emoção atravessada na voz.

— Mas... Agora? — Jun Wu franziu de leve as sobrancelhas.

— Sim... Com essa sequência de acordes... Que tentou me ensinar.

Dessa vez foi Jun Wu quem hesitou por um instante, seus dedos se alternaram rapidamente entre as três posições... Dó, lá e sol em tons maior.

Uma sequência de acordes tão simples que parecia brincadeira de criança.

Diante do pedido, agora sabendo que o rapaz estava de coração partido, não poderia negar.

Seu corpo sentado na esteira virou-se para Huan Shui e Jun Wu apenas afinou a corda sol antes de seus dedos colocarem-se a dedilhar o encordoamento.

O sol límpido do violão folk preencheu a casa na árvore e enquanto o córrego ao longo da paisagem continuava a fluir e as folhagens conversavam entre si incentivadas pela brisa, Jun Wu teve a impressão que Huan Shui praticamente imóvel no parapeito da janela... Secou discretamente um vestígio de lágrimas num movimento suave e breve com a lateral do dedo indicador.

 Secou discretamente um vestígio de lágrimas num movimento suave e breve com a lateral do dedo indicador

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