✩ Capítulo 2 ✩

Começar do início
                                    

Revirei os olhos e passei por ela, deixando-a para trás enquanto retirava as sandálias de saltos gigantes e corria atrás de mim. Meu irmão Odin detestava Ana Clara, dizia que a garota era um aborrecimento ambulante e eu tinha consciência disso, mas nós fazíamos parte da mesma turma de amigos desde sempre e ela era muito querida por todos.

Sempre rolou aquele clima de paquerinha entre nós dois, mas só foi começar a acontecer algo a mais há uns quatro anos, quando estávamos os dois muito bêbados numa festa de Ano Novo e terminamos a noite nos agarrando dentro do meu carro quando fui deixá-la em casa. Daquele dia em diante, passamos a transar ocasionalmente, mas havia uma regra implícita entre nós, de que não estávamos nem nunca estaríamos em um relacionamento. Eu gostava da minha liberdade e Ana também, pois era tão solta quanto eu.

Parei no segundo degrau da escada quando percebi que não estava mais sendo seguido e olhei para trás, vendo que a loira esperava pelo elevador. Uma coisa inútil naquela casa, já que só era usado por minha mãe, que não estava mais viva.

— Ana... — chamei, cansado, descendo e indo até ela. — Sério mesmo? São só dois lances de escada.

— Vai me carregar no colo? Meus pés estão doendo.

Sabia que ela estava louca por isso, então levei um dedo aos lábios pedindo mais uma vez por silêncio e a peguei no colo, jogando seu corpo sobre meu ombro e dando um tapa na bunda que o vestido curto deixou de fora.

Como a boa safada que ela era, senti suas mãos passeando pelo meu corpo e puxando a barra da minha camisa, mas logo a soltei sobre minha cama e me afastei. Ela relaxou porque entre nós não havia mais aquela necessidade de impressionar o outro, e ficou jogada sobre o colchão, inerte, enquanto esperava por mim.

Pensava se deveria perder alguns minutos e tomar um banho, quando vi que Ana já estava tirando sua calcinha. Uma rápida olhada para aquele pequeno pedaço de carne entre suas pernas abertas me fez tomar outra decisão e deixar o chuveiro para mais tarde, após a brincadeira.

Precisei abrir os olhos depois de levar a terceira cutucada no meio da testa e a primeira coisa que vi foi o par de olhos mais lindos que existiam.

— Tio, "vampa" piscina! — pediu Eva, minha sobrinha e afilhada de quatro anos, vestida em seu maiô azul, sua cor favorita, enquanto me encarava sentada ao lado do meu travesseiro.

Eu me espreguicei e lancei logo um olhar para o espaço vazio na cama, aliviado ao ver que Ana Clara já tinha ido embora e minha princesinha não flagrara nada promíscuo. Sorri para Eva, que sequer piscava enquanto aguardava minha resposta.

— Deixa o tio acordar e tomar um banho primeiro — falei, agarrando-a e a enchendo de beijo e cócegas. — Já tomou seu café da manhã?

­— Para tioooo! — Eva soltou seus gritinhos histéricos enquanto tentava se livrar de mim. — Ah! Papai! Papai!

Odin logo apareceu na porta do meu quarto, falando no celular, mas o desligou assim que entrou e eu soltei Eva para que corresse até ele. A pequena foi gargalhando, toda vermelha de tanto rir, e meu irmão guardou o telefone no bolso da bermuda antes de se abaixar e pegá-la no colo.

— Acordou esse preguiçoso? — perguntou para a filha e um bateu na mão do outro. — Muito bem. Vou pagar seu picolé mais tarde.

— Uva!

— É um absurdo ficar comprando uma criança de quatro anos, irmão. Vire homem e venha você mesmo me acordar.

Lancei um sorriso irônico para ele e me espreguicei, sentindo os efeitos da bebedeira na noite passada. Não cheguei a encher a cara como fazia quando era mais novo, pois desde que comecei a trabalhar oficialmente com Odin e nosso pai, fui obrigado a desacelerar minha vida noturna. Tomava um enorme cuidado de não me envolver em confusão, boatos ou ser citado pela imprensa. Um escândalo de grandes proporções certamente seria o suficiente para meu pai me deserdar. Afinal, Apolo Montenegro carregava a fama de um dos três maiores cirurgiões plásticos do país e tinha criado seus filhos para seguirem seus passos de Midas. Ele passava a maior parte de seu tempo entre as clínicas de Brasília e São Paulo, Odin se revezava entre Porto Alegre e Rio de Janeiro, enquanto eu ainda permanecia somente em solo carioca.

[DEGUSTAÇÃO] Não Foi Amor À Primeira VistaOnde histórias criam vida. Descubra agora