Contudo, a razão de todo aquele constrangimento não era algo gerado pela falta de intimidade entre os dois. Claro que não. Já haviam conseguido conquistá-la há um bom tempo. O grande diferencial de toda aquela situação era que agora haviam sentimentos envolvidos. Eles já estavam lá, obviamente (escondidos, mas estavam). O real problema era o fato de Henrique saber da existência deles e Ayla não fazer a mínima ideia de como ou quando expressá-los.
— Desculpa — murmurou ela, encolhendo os ombros.
— Tá tudo bem — garantiu, suavemente, apressando o passo e puxando-a junto consigo ao avistar a fachada da Vinícola Montenegro; lotada de barracas e pessoas. — Sabe, eu nunca tive um encontro como esse antes — comentou distraído. Ayla o observou curiosa. — Quero dizer, conversas nunca foram muito presentes, geralmente eu passava a maior parte do tempo beijando a garota ou transan-
— Entendi, entendi — soltou um forte pigarro, fazendo uma careta logo em seguida. — Você realmente não precisa entrar em detalhes.
Droga.
Henrique foi rápido em exprimir um pedido de desculpas, sentindo-se realmente envergonhado por ter mencionado o assunto. Afinal de contas, quem era o otário que falava de suas "antigas conquistas” no primeiro encontro?
No entanto, quando olhou para o rosto da garota ao seu lado e percebeu que, aos poucos, suas bochechas começavam a adquirir uma tonalidade avermelhada, precisou levar a mão de encontro a sua boca, em uma falha tentativa de abafar uma risada.
Ela não estava vermelha por timidez. Não. Era por outra coisa.
Ele relaxou os ombros e a cutucou de leve. Quando finalmente ganhou sua atenção, sorriu, lhe enviando um olhar sugestivo.
Algo como: “você tá morrendo de ciúme, não é?”
Não!
Ayla não estava com ciúme. Aquilo não era ciúme, certo? O fato de Henrique já ter ficado com outras garotas antes dela era algo completamente normal e aceitável.
Não era ciúme.
— Não, nem começa — bradou, separando suas mãos. — Se você tava solteiro, tinha a liberdade de ficar com qualquer garota — arquejou, impaciente, cruzando os braços. — É só não detalhar. Não detalha, que dá tudo certo.
Henrique passou a língua pelos lábios, confiante, alisando seu terno e a encarando com desdém.
Ela estava com ciúme sim.
— Ou então não — mudou de ideia, reparando em seu atrevimento. O que ela era? Uma telepata? — Se quiser, eu também posso falar dos caras com quem eu já sai — a alegria no rosto do garoto desapareceu. — Teve uma vez que...
— Tá — a interrompeu, fechando a cara. — Nada de detalhar pessoas do passado — fez um bico.
Aparentemente não era apenas ele que sabia provocar.
— Ótimo.
— Ótimo.
Fuzilaram-se silenciosamente.
Henrique colocou as mãos nos bolsos, ranzinza, começando a analisar cuidadosamente o lugar onde eles estavam. Crianças corriam de um lado para o outro, havia um grande palanque montado bem no centro do terreno — no qual, com toda certeza, seu pai faria um discurso poético e memorável — além de várias barracas, cheias de comida, e alguns jogos.
— Eu tô com fome — disse por fim.
— É só comprar, as opções são ilimitadas — proferiu, amistosa, apontando com os olhos para uma pequena tenda branca, onde se encontrava uma mulher de meia-idade entregando algodões-doces para três meninas.
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Negócio Fechado | ✓
Підліткова літератураNão estava nos planos de Henrique repetir o último ano do ensino médio, mas, quando isso acontece, seu pai resolve lhe dar uma boa lição e o obriga a arrumar um emprego. Trabalhando no cinema da cidade, ele rapidamente conquista o desafeto gratuito...
Capítulo Vinte e Três
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