Mamãe se sentou elegantemente, com suas pernas lindas cruzadas e negou com a cabeça.

- Filha vem cá, precisamos ter uma conversa com você.

A última vez que meu pai me falou aquilo foi para falar sobre sexo, e eu gostaria muito de apagar aquela cena da minha mente, imaginei o que teria de pior para ele querer falar comigo e hoje eu sei que falar de sexo foi fichinha.

- Papai por favor se for algo constrangedor, pode deixar que converso com a mamãe depois.

- Luana senta aqui por favor que eu e seu pai temos algo pra te falar. - A voz tremula da minha mãe indicava que era algo realmente grave.

Joguei minha mochila no chão e fui para o sofá olhando para um e para o outro tentando adivinhar o que poderia ser tão importante que merecesse ser falado na sala branca.

A sala branca, ou sala de estar era o lugar menos habitado da casa, talvez a falta de cor e vida naqueles móveis modernos e janelas enormes afastasse as pessoas, ou talvez ela fosse feita exclusivamente para momentos como aquele.

Eu poderia arriscar um bilhão de motivos para eles terem essa conversa comigo, mas nunca em toda a minha vida eu jamais imaginei que iria ouvir aquilo.

- Querida eu quero que você saiba que tanto eu quanto a sua mãe te amamos muito, você é e sempre será a coisa mais importante da nossas vidas, independente do que aconteça...

Olhei pra mamãe sem entender o motivo das lágrimas que ela tentava não deixar cair.

- Vocês querem parar com isso por favor, estão me assustando.

Um deles estava doente, era isso, eu iria perder um dos meus pais e eles não sabiam como me contar aquilo. Comecei a imaginar qual era a doença, tentei adivinhar qual dos dois estava mais abatido, mais magro, mas era quase impossível, mamãe era eternamente pálida e de uma magreza invejável em qualquer top model e papai nunca ficava em casa tempo suficiente para que eu pudesse notar alguma diferença.

Mas antes que eu aprofundasse minhas teorias sobre a morte, mamãei falou.

- Luana seu pai e eu estamos nos separando!

Minha mãe jogou a bomba em meu colo e não consegui me proteger, ela explodiu e acabou comigo, me lembro de ter perguntado o motivo, do meu pai mentir dizendo que ainda amava a mamãe, mas quem ama não vai embora! Depois disse que nada ia mudar, como pode alguém dizer uma coisa dessas para uma garota de 14 anos que tinha uma vida perfeita?

É claro que depois disso tudo mudou, meu pai insistiu para que ficássemos com a casa, mas minha mãe não quis, ele passou a dormir em um flat até que arranjássemos um lugar para ficar, um mês depois estavamos procurando um novo lar e logo nos mudando para o apartamento onde vivemos desde então.

Eu era uma garota boba, na época eu vivia em um conto de fadas, acreditava em familia feliz e achava que a minha era perfeita, amava meus pais de uma maneira que me cegou, eu não os via como pessoas que têm seus problemas, eu apenas enchergava eles como meus pais e esse foi meu erro, foi muito dificil, para mim descobrir que meu pai era um homem, e o pior um homem bonito, aquele tipo de homem que conseguia atrair a atenção de vadias destruidoras de familias perfeitas.

Eu nunca vou entender como meu pai, um homem rico, poderoso e inteligente pode trocar a minha mãe, a mulher mais linda do mundo, com aqueles olhos azuis da cor do céu e aquelas pernas de bailarina por uma cretina chamada Diana!

Pois é, mas foi o que aconteceu, meu pai o poderoso Sr. Ricardo Calzavari dono de uma das maiores agências de publicidade do país se envolveu com uma mulher que atende pelo nome de Diana, eu nunca tive nada contra esse nome, é nome de princesa, a mais querida que já ouvi falar, que teve uma morte trágica ( aliás uma morte que já desejei muitas vezes que a vadia da Diana do meu pai tivesse) mas eu a odiava com todas as forças.

Minha mãe sempre a defendia, eu não sei porque, mas ela sempre dizia que a culpa não era dela e sim do meu pai, eu não concordava com minha mãe, se ela tivesse se mantido longe e guardado aqueles peitos (tamanho 48!!!) dentro do sutiã eu tenho certeza que meu pai ainda estaria casado com a minha mãe.

Chorei durante o primeiro mês em que nos mudamos, mas ouvi minha mãe chorar baixinho por muito mais tempo, sempre escondido, sempre a noite, acho que ela sentia falta dele, principalmente na hora de dormir, já que ele nunca aparecia em casa antes das 11 da noite, eu também sentia muito a falta dele, mas com o tempo a saudade foi se transformando em raiva, revolta e foi assim que comecei a odiar comercial de margarina.

- Mamãe será que dá pra vocês brigarem um pouco mais baixo? Eu estou ouvindo tudo!

Eu odiava quando isso acontecia, eles começavam a falar de mim como se eu fosse uma mercadoria, algo que eles negociavam e quem conseguisse a melhor oferta levava, o problema é que eu não estava a venda, não mais, já fazia um tempinho que deixei de aceitar seus presentes absurdos como forma de me comprar.

A novidade do momento eram as férias de julho, no ano passado eles tentaram me dar a minha tão sonhada viagem para a Disney, mas seria uma viagem de familia, eu meu pai e ela!

Eu comecei a rir na cara dele, desde quando aquela vadia era alguma coisa minha?

É claro que não aceitei!

Agora ele estava tentando novamente, e a minha resposta seria a mesma, eu não vou a lugar nenhum com aquela mulher, já basta ter que viver no mesmo planeta que ela, pior, no mesmo estado! Olhar pra ela, ouvir a vor e respirar o mesmo ar era pedir demais, eu não fui e pronto!

Minha mãe dizia que eu estava me comportando como uma criança, eu não me importava, se a minha mãe decidiu que queria perdoa-lo era um problema dela, eu não perdoei e não perdoaria e não vou viajar com eles de jeito nenhum. Pronto !

Vinte minutos depois minha mãe finalmente desligou o telefone e se sentou ao meu lado.

- Bom dia querida.

Eu já estava comendo minha segunda tigela de cereal, não que eu estivesse com fome, mas eu estava nervosa e sempre que eu ficava nervosa comia mais que o necessário.

- Mamãe eu já vou polpar seu tempo, a resposta é não. - respondi sem tirar meus olhos do episódio de Os Feiticeiros de Warvely Place que estava passando. Desejei ser uma bruxa e poder jogar um feitiço que fizesse aquela mulher desaparecer do planeta.

- Não? Mas você nem sabe o que vou dizer?

- Eu sei sim, você vai me dizer que o papai está me fazendo "aquela" proposta indecente novamente e a minha resposta é não.

Minha mãe balançou a cabeça inconformada com minha infantilidade.

-Não é nada disso sua boba, seu pai quer almoçar com você hoje, só vocês dois no restaurante de sempre, ele vai passar aqui pra te pegar as onze e meia, portanto para de comer isso porque senão você não vai conseguir comer nada no almoço.

- Como é que é? - Perguntei estarrecida.

- Amoço ás onze e meia com seu pai, agora eu vou indo que tenho hora marcada no cabelereiro, te vejo mais tarde filhotinha, te amo.

Minha mãe me deu um beijo estalado e saiu apressada me deixando ali sentada com meu pote de cereal pela metade e imaginando o que ele queria falar comigo que exigia um tempo perdido com almoço.

Já sei!

Quem sabe ele vai me dizer que a vadia já era, que eles se separaram. Talvez eu não precise ser uma bruxa para conseguir realizar esse desejo...

Levantei do sofá largei a tigela na pia e fui correndo para meu quarto, ocasiões importantes pedem uma roupa especial, e eu precisava me arrumar.

O dia promete!

Antes dos 20 - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora