"Ia achar a cama muito húmida," disse Susan paciente. A senhora era sempre assim na primavera. Mas ia passar.

"Susan," disse Anne, "eu quero fazer uma festa de aniversário na próxima semana."

"Sim, e porque não?" perguntou Susan. Era verdade que ninguém da familia fazia anos na última semana de Maio, mas se a senhora queria fazer uma festa então porque não havia de a fazer?

"Para a Tia Mary Maria," continuou Anne, determinada a passar a parte pior. "O aniversário dela é na próxima semana. O Gilbert diz que ela faz cinquenta e cinco anos e eu pensei nisto."

"Minha querida senhora, pensa realmente dar uma festa para aquela..." "Conte até cem, Susan...conte até cem, minha querida Susan. Ela ia ficar tão contente. E afinal, o que é que ela tem na vida?"

"A culpa é dela..."

"Talvez seja. Mas Susan, eu realmente gostava de fazer isto por ela." "Minha querida Senhora," disse Susan contrariada, "A senhora sempre teve a gentileza de me deixar tirar uma semana de férias quando eu precisei. Talvez as deva tirar na próxima semana! Eu vou pedir à minha sobrinha Gladys para ir lá para casa ajudá-la. E nessa altura a Mary Maria Blythe pode ter uma dúzia de festas de aniversário que eu não me importo."

"Se é isso que pensa, Susan, eu desisto da ideia, claro," disse Anne lentamente.

"Minha querida senhora, aquela mulher enfiou-se aqui em casa e tem intenção de cá ficar para sempre. Ele tem-na arreliado...e chateado o doutor...e tem feito a vida das crianças num inferno. Eu de mim nem digo nada, afinal quem sou eu? Ela ralha e chateia e insinua e queixa- se...e agora quer-lhe fazer uma festa de aniversário! A única coisa que eu posso dizer, se a quer mesmo fazer... é então vamos embora fazê- la!"

"Susan, minha admirável velha amiga!"

E seguiu-se o planeamento. Susan, que tinha cedido, estava determinada que para honra de Ingleside a festa tinha que ser qualquer coisa em grande, tão perfeita que nem sequer a Mary Maria pudesse encontrar falha.

"Eu acho que vamos fazer um lanche, Susan. Assim as pessoas vão sair cedo e eu vou poder ir ao concerto em Lowbridge com o doutor. Vamos fazer segredo para ser uma surpresa. Ela não vai saber de nada até ao último minuto. Vou convidar todas as pessoas do Glen que ela gosta..." "E quem são elas, minha querida senhora?"

"Bem, as que ela tolera, então. E a prima dela Adela Carey de Lowbridge, e algumas pessoas da cidade. Vamos ter um grande bolo de aniversário com cinquenta e cinco velas..."

"Que vai ser feito por mim, claro..."

"Susan, você sabe que faz o melhor bolo de frutas da Ilha do Principe Eduardo..."

"Eu sei que sou como cera nas suas mãos, minha querida senhora."

E seguiu-se uma semana misteriosa. Um ar de segredo pairava sobre Ingleside. Toda a gente tinha jurado não divulgar o segredo à Tia Mary Maria. Na noite antes da festa a Tia Mary Maria chegou de uma visita no Glen para as encontrar sentadas com ar cansado na sala de estar já sombria.

"Estão ás escuras, Annie? Nem sei como é que alguém consegue estar assim sentada ás escuras. Fico deprimida."

"Não estamos ás escuras...está a anoitecer...houve um encontro amoroso entre a luz e a escuridão, e o fruto excepcionalmente belo que geraram foi este," disse Anne, mais para ela do que para qualquer outra pessoa.

"Eu acho que tu deves perceber o que disseste, Annie. E então vão fazer uma festa amanhã?"

Anne subitamente sentou-se muito direita. Susan, que já assim estava sentada, não se conseguiu endireitar mais.

Anne de Ingleside | Série Anne de Green Gables VI (1939)Where stories live. Discover now