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Quando eu saí da sala onde fizera a prova de recuperação, minha primeira reação foi respirar fundo. Em seguida, fiz minha dancinha patética de comemoração, pouco me importando com os olhares estranhos que recebi. Eu tinha que festejar mesmo! Porque a maioria da prova me fez sorrir com o pensamento de que eu sabia, e não havia nada melhor que ter seu esforço recompensado.

Mandei uma mensagem para meus pais contando a boa nova e praticamente corri para a saída. Thaís e Vanessa já me esperavam no portão, onde esperavam a van para irmos à nossa festa do pijama, e comemoraram comigo quando contei que achava que tinha ido bem.

— Você vai conseguir uma nota ótima, sei que sim — Vanessa disse quando já estávamos na van de Thaís com os cintos de segurança colocados. — E aí teremos que arrumar outra comemoração!

— Tem a festa de formatura sábado que vem, não podemos esquecer — Thaís replicou. Como se nós fôssemos esquecer o evento do ano! Eu esperava que realmente estivesse formada na próxima semana. Tudo dependia daquela prova que eu havia acabado de fazer. — O que vocês acham da gente ir no shopping sexta comprar as roupas?

Procrastinação era nosso ponto em comum. Vários meses desde que a data fora marcada, mas é claro que deixamos para comprar as roupas no dia anterior.

— Eu posso — confirmei, e Vanessa balançou a cabeça com vontade, porque estava muito ocupada bebendo seu décimo café do dia. — Não é possível que tanto café não te faça mal. Pelo amor de Deus, você bebeu uns cinco desse só que eu já contei.

Ela deu de ombros.

— Não me fez mal até hoje, né?

Balancei a cabeça. Que argumento maravilhoso ela tinha.

— O que você vai fazer mesmo? — Thaís perguntou para mim, apoiada na sua mochila como se ela fosse um travesseiro.

Havia uma vantagem em sentar nos bancos traseiros da van. Sentar do jeito que você quisesse era uma delas.

— O que vocês acham de cookie e bolo de cenoura? — respondi com outra pergunta, e elas levantaram a sobrancelha, pensando. — A gente pode, sei lá, pedir uma pizza pra não comer só doce. Ou fazer um macarrão. Yakisoba é muito fácil de fazer.

— Você sabe que tocou no meu ponto fraco — Vanessa suspirou, e nós rimos. Era um dos seus pratos preferidos. —  Tem tudo na sua casa, Thaís?

— Acho que não tem é quase nada — ela riu. Nós a encaramos sem acreditar. E ela só avisava agora? — Ué, meninas. Eu esqueci que a gente ia comer alguma coisa.

Foi a minha vez de rir.

— Ainda bem que a cabeça tá grudada no pescoço, senão você esquecia ela também, né?

Thaís me olhou com exasperação, mas os lábios estavam apertados para segurar uma risada. Ela suspirou.

— Ok, a gente pode ir ao supermercado perto de casa — e, sem aviso algum, ela berrou pro motorista: — Alberto, deixa a gente no supermercado por favor?

— Tudo bem — ele respondeu, a voz calma contrastando com o berro dela. Ou talvez eu não estivesse escutando direito, depois do grito dentro do meu ouvido.

O menino sentado à nossa frente colocou as mãos nos ouvidos com uma cara de poucos amigos.

— Que merda, Thaís! — ele resmungou. — Queria estourar meus tímpanos?

— Desculpa aí, Marques — minha amiga respondeu, a expressão indicando que ela não sentia tanto assim. — Foi sem querer.

Ele soltou um muxoxo de descrença antes de virar para a frente de novo.

Peace [Projeto Folklore] | CONCLUÍDAWhere stories live. Discover now