Capítulo Um- A Garota

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  • Dedicado a Drielle Assunção V. Alves de Brito
                                    

  "Aquilo a que chamamos nosso desespero, é a frequentemente dolorosa avidez de uma esperança insasfisfeita." - Eliot, George.

   –Mattew! –A doce voz de sua irmã Madison agora soava com uma mistura de irritação e preocupação através da porta de seu quarto. –Mattew, pode ficar trancado o resto de sua vida no quarto, mas pelo menos tente comer, por favor! 

  Matt estava em seu quarto a três dias, estava tendo o que costumava a chamar de "crise de depressão temporária" na qual sente que se visse um ser vivo que seja arrancaria seus membros fora com os dentes, por isso não gosta de sair do quarto nesses dias, já que não gosta de tratar mal seus primos. Se trancar no quarto significava se trancar da comida, sua barriga doía e roncava loucamente, ele não gostava de ficar com fome mas aprendeu a conviver com ela. Madison começou a bater na porta, era a terceira vez que voltara ao seu quarto hoje para lhe oferecer comida, as três ele não a respondeu. Ele bufou. 

   –Eu vou descer pra comer, obrigado Madison. –Sua voz saiu rouca, como normalmente sai quando fica muito tempo sem falar. Ele levantou de sua cama sentindo as pernas tremer levemente, e foi ao banheiro. Seus olhos verdes brilhantes estavam opacos e com olheras escuras, seu cabelo negro completamente bagunçado e estava com a barba a fazer. 

  Tomou banho, arrumou o cabelo e desceu até a cozinha. Madison deixou um imenso prato de arroz, carne e cenouras na mesa, acompanhado de suco de laranja e uma barra de chocolate. Ele vivia com sua irmã e seus dois primos, Madison era a mais velha, com 22 anos e era a responsável pela comida, Harper era responsável pela limpeza e Aiden pela segurança da casa, que dispunha de uma segurança precária por não ser um solo sagrado e ser invadido por um ou dois demônios de vez em quando, e, finalmente, Matt, que era considerado mais o peso morto que vive no porão, costuma a quebrar algumas coisas e passa do dia reclamando da morte. Ambos seus tios e pais estavam mortos. 

   –Olha só quem saiu da crise! Achei que iria ficar lá pra sempre dessa vez, eu já tava começando a achar que morreu lá. –Aiden sentou-se do seu lado a mesa. 

    –Que coisa adorável pra se dizer.

    –Ainda não entendo porque tem que fazer esse showsinho toda semana, Matt.

   –Você sabe muito bem porque. E não é um "showsinho", Aiden. Você também sabe muito bem porque me tranco quanto estou tendo crises de depressão.–Sua voz estava grave, já perdeu a conta de quantas vezes havia brigado e até mesmo batido em Aiden quando depressivo. 

    –Ok, não é "showsinho", é TPM. –Ele riu, depois ele ficou sério de novo – Se realmente tem essa depressão porque acha que vai morrer, acho que não deveria estar se trancando no quarto, e sim saindo e aproveitando a vida enquanto pode. Mas,–Aiden levantou-se da cadeira– você faz o que achar que deve, e aprendi a não me intrometer nisso. 

    –Sadie, Sadie levanta por favor. – Sam dizia a irmã, que estava pálida e ensanguentada no colo da irmã ajoelhada ao chão. Ao redor das duas, uma poça de sangue que descia da enorme corte da barriga de Sadie crescia. Sam chorava, suas lagrimas caiam no rosto da menina em seu colo, agora sem expressão. –Sadie, me desculpa, me desculpa, por favor...

   –O que você fez?!– Noah, seu irmão, sentou-se ao lado de Sadie. Seus olhos voltaram-se a lâmina escarlate na mão de Sam. –Foi você, foi você que a matou não foi? Porque?!

  –E-eu...–A barriga de Sam estava fria, seu rosto soado, seu coração apertado e disparado. Foi ela. Fora ela que matara sua irmã. Mas como dizer isso a Noah? –Eu não tive escolha, me desculpe...

   –Seu monstro! Porque? Ela é sua irmã! –Noh apertou o corpo de Sadie ao seu, o sujando de sange.–Ela era minha irmã.  

  Sam levantou, ela olhou novamente as mãos vermelhas, ela ainda não conseguia largar a faca. Ela correu direto para fora da casa, estava chovendo. Seus pais tinham saido para uma missão da Clave. Ela virou-se uma última vez para sua casa: um lugar simples, com tantas flores, até pequeno para três filhos. Agora seria só um. Ela queria jogar a faca com força no chão mas não conseguia, e gritou de raiva, angustia, tristeza e correu para a primeira casa que veio a mente, a casa dos Blackmark, os caçadores de sombra mais próximos. 

 A chuva estava forte, suas pernas estavam tremulas, ela caiu algumas vezes na rua até chegar na casa. Ela abriu o portão. Eles vão estranhar o sangue, ela pensou. Com a faca, fez diferentes cortes em sí, e, finalmente, jogou a faca o mais longe que conseguia. Ela bateu a porta e esperou. Seu queixo tremia com o frio e ela sentia seus braços arrepiados. A porta se abriu, um garoto moreno se assustou com a quantidade de sangue que pingavam da roupa de Sam. Ele a acolheu em seu braço e a puxou para dentro, fechando a porta atrás de sí. Uma mulher de cabelos caramelo presos em um coque frouxo atrás da cabeça se assustou também ao vê-la e correu para o quarto de cima.  

 O homem a sentou em uma cadeira e a mulher retornou com um cobertor e o enrolou em Sam. Ele examinou alguns dos cortes no braço dela, provavelmente com medo de ver os da barriga. 

   –Quem é você?– A mulher a perguntou.

  –Meu nome é Samantha, Samantha G...–Ela iria falar Goldblood, que era de fato seu sobrenome, mas eles provavelmente questionariam porque não estava na casa de sua familia. –G-Greentree. Eu fui atacada por um assaltante mundano e vi as marcas de seu portão, percebi que eram caçadores de sombras e pensei se poderiam me ajudar...

   –Mas é claro que vamos, como não são ferimentos demoníacos, podemos ajuda-la agora mesmo. Posso desenhar uma iratze em você ou prefere tratamento comum? 

  –São muitos cortes, é melhor tratamento comum. 

  –Tudo bem –ele virou-se para a garota– Harper, pode ajuda-la por favor? 

 –Claro. –Harper virou-se e foi para o quarto ao lado, e voltou com uma caixa de primeiros socorros. Ela começo a cuidar dos cortes e um garoto veio andando comendo uma maça. Ele vestia uma camiseta transparente na qual dava pra ver todo o abdomem, marcas e cicatrizes, e uma calça jeans. 

  –Harper, você podia me arranjar um pano? Eu derramei suco no meu quarto e...–Seus olhos se viraram para Sam, que reparou o quanto eles eram verdes.–Quem é a garota ensanguentada? 

  –Matt, essa é a Samantha, ela foi atacada e veio aqui procurando ajuda.–O homem explicou. Ela não pode deixar de reparar como Matt a encarava, como se com um olhar pudesse vasculhar todo seu interior, descobrir todos seu segredos.–E, ela pode passar a noite aqui se quiser. 

  –Eu gostaria se não fosse incômodo. –Sam disse, sem conseguir tirar os olhos de Matt, ele era tão atraente, tinha trassos tão perfeitos.

  –Vai deixar a garota que não conhece dormir aqui? Nunca te alertaram contra estranhos?– Matt dizia como se ela não estivesse aqui.

    –Ela é uma caçadora de sombras, é nossa irmã, devemos isso a ela.–O homem olhava Matt como se estivessem lutando com os olhos, mas ele apenas deu de ombros e mordeu sua maça. Ele se encostou na parede e voltou a encarar Sam. 

     –Desculpe, se importa em levantar? –Harper pediu a Sam, que levantou-se deixando o cobertor cair atrás de sí. Harper começou a tratar dos ferimentos de sua barriga, levantando sua blusa.

     – Com licença. –Matt virou-se foi para o corredor de onde veio. 

    –Não ligue para ele, tem um terrivel problema de bipolaridade. Mas acredite, ele é um doce.–Harper garantiu. 

   Depois que Harper acabou, o homem, que se apresentou como Aidren, a levou para um pequeno quarto com uma cama, uma escrivaninha e uma janela e disse que poderia dormir o quanto quisesse. Sam deitou-se na cama. Macia de mais, pensou. Ela passou grande parte do tempo acordada, com medo dos pesadelos. Isso pode soar um pouco infantil, mas ela já havia visto coisas horriveis no sono, mas não poderiam ser piores que a vida real, então resolveu dormir, com esperança de descobrir que o que passou fosse o verdadeiro sonho, e que amanhã de manhã estivesse conversando com sua irmã de novo.

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