O Dia Em Que Minha Filha Nasceu.

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- O senhor está me ouvindo? – despertou-me o médico. – Está pronto para ver sua filha?

- Liz está viva? – perguntei, abalado.

- Sim, sua filha sobreviveu. Nasceu com o peso ideal e muito saudável.

Acompanhei o médico até a sala de parto. Não vi Érica lá, somente uma enfermeira que segurava um pequeno pacotinho em seus braços. Era Liz, minha pequena Liz.

Liz era uma garota linda e não digo isso porque era minha filha. Conforme o tempo foi passando ela adotava cada vez mais características de sua mãe. Ela tinha seus cabelos escuros, seus olhos castanhos. Era como se Érica a tivesse feito sozinha. E se eu já amava minha filha, passei a ama-la ainda mais por enxergar Érica toda vez que a via.

A melhor parte de ser pai é acompanhar a evolução da criança. Ver aquela coisinha miúda, enrugadinha e frágil crescer, tomar forma e se tornar maior e mais forte a cada dia que passa não tem preço. E tem as primeiras refeições, os primeiros passos, os primeiros dentinhos de leite e é claro, as primeiras palavras. As primeiras palavras de Liz não foram nem "mamãe" e nem "papai", as primeiras palavras dela foram "Quero" e "Bolo". Depois que começou a frequentar a escola finalmente surgiu o "papai" e depois a "mamãe". Depois vieram as frases curtas e quando me dei conta já estávamos conversando como iguais. Liz era muito inteligente e não era só eu que havia notado isso. Seus professores e pais de amiguinhos sempre comentavam sobre como ela estava muito à frente da sua idade. Nunca achei isso estranho ou anormal, apenas sentia orgulho da minha garotinha.

Liz tinha cinco anos de idade e falava como uma adulta. Não gaguejava e nem cometia erros gramaticais. Sua dicção era tão boa quanto a de um locutor de comerciais de TV. Confesso que ela falava melhor do que eu ou qualquer outra pessoa que eu conhecia. Fora as notas na escola e as ideias de mundo que ela tinha. Entramos em várias discussões em que fui refutado como um homem das cavernas. Foi então, considerando toda sua inteligência e maturidade, que achei que ela estava pronta para saber sobre sua mãe que, por incrível que pareça, até aquele momento ela nunca se quer havia perguntado sobre.

Desenterrei as caixas de madeira que havia guardado no sótão com todas as fotos de Érica e eu. Fui até a sala de estar e chamei Liz para se sentar comigo no sofá.

- Sabe que dia é hoje, meu amor? – perguntei a ela.

- Não, papai... Qual é?

- Hoje seria o aniversário da mamãe.

Liz sorriu.

- Sei que nunca falamos sobre ela antes, acho que é porque o papai nunca chegou a superar de verdade o que aconteceu com ela. Mas sei que te devo isso. Não seria justo não permitir que você a conhecesse.

Abri a caixinha no meu colo e retirei algumas fotos.

- Essa aqui era ela, está vendo? Se parece muito com você, não acha?

- Sim, papai. Mas olha, não precisa me mostrar essas fotos.

Franzi a testa, surpreso.

- Por que não, meu amor? Não quer conhecer a mamãe?

- Eu já a conheço, papai. Muito bem, inclusive.

- Como assim, meu anjo?

- Ora, papai... Quem você acha que matou ela? Deus?

Senti a mesma sensação de quando o médico me deu a notícia sobre minha esposa.

- O que está dizendo, meu amor? Por que está falando uma coisa dessas?

- Ela te amava, papai. Mas ela nunca seria capaz de realizar o seu maior sonho sozinha.

- Meu maior sonho? – perguntei, incrédulo.

- Sim, papai. Eu.

- Eu não entendo...

- Poxa, papai, você é muito bobinho às vezes. Mamãe não podia ter filhos. Ela nunca contou para o senhor porque tinha medo de que a deixasse por não ser capaz de te dar aquilo que o senhor mais queria. Mamãe fez vários tratamentos em segredo, mas nenhum deles deu certo. Ela orou e orou e suas preces foram atendidas. O preço foi alto, mas mamãe se mostrou disposta a pagar. E agora, cá estou eu.

- Q-Qual... Qual foi o preço, Liz? – perguntei, sentindo o ar esvair-se de meu corpo.

- A alma dela, papai. O maior erro da mamãe não foi ter feito o acordo, foi não ter lido os termos. Sinceramente, no lugar dela, eu não o teria feito.

- Por que diz isso?

- Olha, eu amo você, papai... Muito. Estou feliz por estar aqui com você, mas... Milagres não existem, entende? O corpo da mamãe não era apto a gerar vida e não há o que se fazer quanto a isso. Mamãe morreu e eu também. No entanto, mamãe pagou o preço e o que ela pediu tinha que ser feito de um jeito ou de outro, então eles me enviaram.

- Te enviaram? – nunca senti tanto pavor em toda a minha vida.

- É, papai... do inferno.






Opa, e ai? Beleza?! Muito obrigado por ter chego até aqui. Gostou dessa creepy? Então não deixa de me seguir no Insta @_bymyey3s e aqui no Wattpad. Em breve novas histórias serão postadas e daremos início a produções no YouTube! Fique ligado!!


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