Grande talvez.

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"VALE A PENA?"

*

— Eu não entendo — Marlene diz inquieta enquanto procura outra caixa de primeiros socorros.

— Nunca entendi — Sirius diz baixo, fraco — Remus não merecia passar por isso.

— Como..? — Lene pergunta finalmente.

Acreditar que Remus Lupin, o garoto mais doce que ela conhecia, sofria tanto com uma doença fazia seu coração disparar, fazia sua esperança no mundo diminuir.

— Ele era novo — O Black a encara enquanto ela se aproxima com uma seringa na mão — Tinha apenas quatro anos quando encontrou Fenrir Greyback.

— Tanto tempo convivendo com isso — Lene pensa em voz alta — Lupin não merecia.

— E alguém merece? — Sirius indaga — Não acho que ninguém nasce destinado ao sofrimento

— É inevitável — Lene responde, ríspida — Algumas pessoas terão lindas vidas — Ela rapidamente pensa em Lily — Outras apenas estão aqui de passagem..

— Você está aqui de passagem, Mckinnon? — Ele pergunta, o que faz a loira arregalar os olhos.

— Achei uma pergunta invasiva

— Você está literalmente costurando minha barriga, eu tenho direito de fazer perguntas invasivas — Rebate

— Não sei — Lene diz sincera — Imaginar o amanhã é o que nos impulsiona, mas nunca fazemos nada. Simplesmente usamos o futuro para escapar do presente, pensar que vou morrer amanhã vai me fazer perder o hoje.

— Se você irá morrer amanhã, por que ter o hoje?

— Por que não? — A loira pergunta enquanto fecha o último corte.

— Não podemos nascer e não podemos morrer. Só podemos mudar formas, tamanhos e expressões — Sirius diz rapidamente — Li isso em um livro, acho que combina com a situação.

— Talvez, Black — A garota indaga — Acho que não sabemos absolutamente nada, apenas existimos todas as manhãs, sem viver o presente, esperando um futuro que talvez não venha

— E o que deveríamos fazer então, sábia Mckinnon?

— Nada — Lene diz colocando um curativo branco no corte — Bem.. Devemos respirar fundo, ate nosso pulmão parar de funcionar.

— E vale a pena?

— O que?

— Viver?

— Ainda não sei. Talvez — Marlene responde, calma.

— Um grande talvez — Sirius diz —
Afinal, como sair desse grande labirinto da vida? Só podemos "respirar" e esperar nosso grande talvez.

— Espero que encontre seu grande talvez, Black — Ela diz se afastando do maroto.

— Igualmente, Mckinnon.

— Você precisa descansar — A loira diz depois de um silêncio constrangedor. — Quer ajuda para voltar pro quarto?

— Não, Pontas já deve estar voltando — Ele diz tentando se levantar, mas logo mostrando uma careta de dor.

— Você acha mesmo que depois de todo esse trabalho eu vou deixar você se levantar e estourar seus pontos? — Marlene fala enquanto o empurra com delicadeza de volta para a cama — Tente dormir, vou procurar eles.

— Não — Sirius responde já dorminhoco, "o remédio realmente agia rápido", pensa. — Sua companhia é boa, mesmo sendo uma garota mórbida

— Nem todos tem futuros brilhantes como o seu, Black — Lene diz se sentando novamente no chão — Alguns estão destinados a serem passageiros e "mórbidos"

— É — O maroto já estava grogue com a poção — Que seja uma boa passagem, Lene.

— Que eu encontre meu grande talvez enquanto estou viva — Mckinnon diz baixo o bastante para que o garoto não escutasse.

— Boa noite, loirinha — Ele cochicha antes de apagar.




      Todas as noites Marlene tinha sonhos estranhos - "mórbidos", como Sirius diria - que a deixavam apavorada.

      Nesse momento ela se encontrava em uma sala escura e Remus gritava com ela, falava que se Lene não o matasse ele mataria seus irmãos.

     A garota chorava, chorava muito.

      — Marls — uma voz doce começa a ecoar de fora do sonho — Levanta!

     — Lily? — Lene acorda preocupada, ela ainda estava deitada no chão frio da ala médica, mas agora a grande porta secreta estava aberta.

      — Vem, vamos embora! — Ela responde calma, oferecendo a mão para Lene tomar impulso.

     James Potter e Peter Pettigrew apoiavam Sirius, que ainda estava inconsciente.

      — Que horas são..? — A loira pergunta.

      — Umas cinco — A Evans fecha a porta — Demoramos mais tempo do que eu previa.

     A cabeça de Lene para de raciocinar o que Lily falava no momento que ela vê o céu.

      Estava lindo, o amanhecer do sol era magnífico em Hogwarts.

     — Deve ser mais bonito ainda na torre.. — Fala baixinho enquanto se vira para o lado oposto dos quartos.

     — Mar, é por aqui —  Retruca, confusa.

    — Eu sei — Ela responde — Confia em mim?

    — Depende — A ruiva força um sorriso amarelo — Mas no fundo, sim — Assente.

     — Então vem — Lene puxa a mão da amiga.

     Ela até podia ter acabado de acordar, o que provavelmente a deixaria estressada, mas Marlene estava tão empolgada com o amanhecer do sol que não deixou o sentimento ranzinza atrapalhar.

     Lene guiava Lily pelos corredores de Hogwarts, correndo em direção a Torre de Astronomia. Ambas sabiam bem que se fossem pegas estariam em sérios problemas.

     Entretanto, o risco valia a pena. O céu visto pela torre era ainda mais encantador. Um vento frio batia no rosto das amigas e Lene se sentia viva.

     — Está com cheiro de chuva — Lily diz encarando a paisagem sobre a grande torre.

     — Uhum — A loira assente. — Que noite louca.

     — Nem me fale — A Evans diz rindo — Eu convivi com James Potter por mais de seis horas sem o matar.

     — Será isso uma evolução?

     — Ele não é uma pessoa tão ruim — Lily ri

     — Por Merlin, é o começo de uma amizade? — Lene ironiza

     — Ah, me poupe — A ruiva exclama dando um pequeno tapa no ombro de Marlene.

       De uma coisa Lene tinha certeza, Lily fazia parte do seu "grande talvez". Ela era um dos motivos pelo qual a vida valia a pena.

*

329 days before.

Visions - Blackinnon.Where stories live. Discover now