— Você quer alguns minutos para pensar? Sei lá, nunca conversamos nem nada do tipo. — Perguntou.

Eu mordi o lábio para não sorrir... Ah Grace, eu não preciso pensar mais em você.

— Tanto faz Grace, eu já imagino o que vou fazer e você? Precisa de um tempo? — Ela deu um sorriso tímido.

— Na verdade, não! Eu já sei o que vou fazer também.

— Tudo bem. — Eu dei um sorriso. —Vamos lá então.

Ela assentiu e começamos os desenhos, eu fiz os primeiros traços, finos, leves e delicados como ela.

Não vou perder a chance de termos uma conversa de verdade.

— Então... Você gosta de... Água?

Nossa senhora das vergonhas vergonhosas me mata, por favor!

"Você gosta de água?"? É sério isso Anthony? Meu Deus! Que vergonha.

Ela riu e caralho, que risada maravilhosa.

— Sim Anthony, eu gosto de água... — Ela riu de novo. — E você? — Perguntou irônica, eu sorri envergonhado e baguncei o meu cabelo.

Meu nome fica lindo saindo da boca dela né? Imagina se fosse em um gemido? Ok Anthony deixa de ser um babaca pervertido!

— Gosto sim.

— Você não parece uma pessoa que tem dificuldade de iniciar uma conversa, White. — Grace comentou casualmente.

Merda! Como explicar para ela sem ter que falar "eu não tenho mesmo, só com você porque eu te observo e quero ficar com você desde a primeira vez que te vi"?

— Eu não to em um dia muito bom. — Falei e ela assentiu.

— Eu puxo o assunto então... Quantos anos você tem? — El parou de desenhar por um minuto para me olhar.

Novamente quando nossos olhares se encontraram eu senti meu corpo arrepiar e precisei arrumar as mangas do meu casaco para ela não perceber.

Será que vai ser assim toda vez que ela olhar nos meus olhos?

— 18 e você?

— Também, hum... Qual sua matéria preferida? — Ela voltou a desenhar.

— Educação física... — Ela riu baixinho e sussurrou um "eu já imaginava". — E a sua?

Podemos ver que eu estou nervoso porque não consigo fazer nada além de devolver as perguntas dela.

— Literatura, filosofia ou história, são minhas preferidas. — Falou suspirando em seguida.

— São legais, menos literatura. — Fiz careta. — Odeio literatura.

Grace riu e mais uma vez eu fiquei igual um idiota olhando para ela.

— Literatura pode ser o inferno na Terra às vezes. — Deu de ombros. — Qual sua comida preferida?

— Pizza.

— Hambúrguer é melhor. — Rebateu com um sorriso irônico.

Eu não acredito que ela falou isso!

— É claro que não, Grace. — Soltei meu lápis. — Pizza é muito melhor, o molho, o queijo, a massa, tudo na pizza é melhor.

— Não White, isso é um absurdo. — Ela negou com a cabeça sorrindo. — Todo mundo sabe que hambúrguer é melhor, o pão, a carne, o bacon, o queijo, infinitamente melhor que pizza.

— Só nos seus sonhos Thompson, pizza é melhor!

— Hambúrguer é melhor! — Ela cruzou os braços.

— Pizza...

— Hambúrguer...

— Pizza...

— Hamb... — Interrompi ela.

— Já sei. — Levantei e ela me olhou confusa. — Atenção galera... — Falei alto e todos me olharam, a professora arqueou as sobrancelhas mas não me repreendeu. — Vamos fazer uma votação rapidinho, pizza ou hambúrguer, levantem a mão quando eu perguntar, ok? — Todos assentiram e Grace levantou também.

— Isso é loucura White. — Sussurrou.

— Adoro loucuras... — Pisquei para ela. — Quem prefere pizza? — Contei as mãos levantadas: 12. — E quem prefere hambúrguer? — Contei as mãos levantadas: 14. — Merda!

— Viu... — Grace riu do meu lado. — Eu te falei, hambúrguer é melhor.

Suspirei derrotado e voltei a sentar. O celular dela vibrou em cima da mesa e eu olhei a tela de longe, o que é muito errado e, na verdade, preferia não ter olhado.

"Honey, venha almoçar com seu pai aqui em casa amanhã.
Tenho uma coisa importante para falar com vocês."
- Rick Amorzinho

Agora é oficial: Grace a partir de amanhã se tornará ainda mais impossível para mim.

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Continua...

Na Segunda Carteira Where stories live. Discover now