Prólogo

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Era um dia difícil pra Jorge. Trabalhar o dia inteiro em uma empresa com funcionários mal educados acaba com a saúde mental de qualquer soteropolitano, ainda mais Jorge, que tinha problemas em lidar com sua raiva. Diversas eram as ocorrências em brigas de bar que estavam na sua ficha, o que o fizeram maneirar no álcool e começar a investir no café, frequentando uma lanchonete que ficava um pouco mais afastada da sua empresa, em frente a sua casa. 

- Bom dia - ele disse enquanto sentava numa mesa qualquer. 

- Bom dia, seu Jorge. Que cara de coitado é essa? - a balconista disse - Se anime aí viu, sexta feira tá chegando pra gente se jogar! 

- Sem condição alguma, Dona Zelda. Só vou me jogar na minha cama mesmo. Quase não vi minha filha esse mês, tô com saudades. 

- Deve ser difícil, hein? Peraí que alguém já vai te despachar. 

- Tá certo.

A lanchonete era humilde, mas bem decorada. A fachada era nova, com um design moderno e atraente, o cheiro de comida perfumava todo o ambiente e o som da chapa era música para os ouvidos de qualquer esfomeado. A luz do pôr do sol iluminava o salão, dando um toque romântico aos fregueses. 

- Zelda Lanches, o que deseja? Sou Ariel e vou atendê-lo hoje - Uma voz de sono disse enquanto Jorge lia um jornal. Ele levantou os olhos e fitou a figura. Usava uma camisa branca, calça jeans, Allstar e tinha o cabelo cumprido preso num rabo de cavalo.

- Eu vou querer um pão da casa com o café mais preto que você tiver, pode vir pocando. 

- Mais alguma coisa? - Perguntou enquanto anotava preguiçosamente no bloco de notas. Tinha pele branca, seu rosto tinha traços finos e suas olheiras pareciam ter metros de profundidade. Sua palidez dava uma certa dúvida sobre sua saúde.

- Não, pode pedir. 

- Ô Anderson, tem como você montar essa bandeja aqui pra mim enquanto eu atendo o resto dos clientes? - ele perguntou ao amigo garçom. Era um homem preto, alto e de cabelo curto. Sua expressão era séria e os movimentos, duros.

- Tem, vá lá. - ele respondeu.

O lanche saiu rápido, já que ele era cliente fiel da casa. Devorou o pão artesanal com manteiga como um animal selvagem e o café desceu pela sua garganta como gasolina entra no carro. Passou alguns minutos lendo o jornal e pediu a conta. 

- Cinco reais, né? - Ariel perguntou.

- Isso mesmo.

Ele tirou uma nota de vinte e o entregou. 

- Vai deixar gorjeta? 

- Hoje não, meu brother.

Sua expressão não mudou, mas a frustração foi palpável. 

- Brother?... - suspirou. Suas sobrancelhas franziram, quase imperceptíveis. O olhar de atenção e julgamento cobriu o cliente.

Jorge não teve reação para aquele desconforto.

- Só um minuto, já trago seu troco. - Ô Anderson, tem troco pra vinte aí? - ele gritou para o colega.

- Tem, mas é tudo miúdo - ele respondeu. 

- Vai servir. 

Não demorou até sua volta vagarosa, devolvendo como troco algumas notas sujas e de baixo valor, talvez como sua forma de vingança. 

Jorge os embolou sem contar e enfiou no bolso do paletó. 

- Valeu - disse enquanto se levantava. 

- Cuidado. Soube que tá tendo assalto nessa rua da frente e o senhor tem uma presença forte.

A Bruxa de BrotasOnde histórias criam vida. Descubra agora