Os olhos não podem ver.

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  Era patético, eu, uma princesa de 17 anos, atordoada pelos seus piores pesadelos tendo que vim buscar ajuda de uma bruxa, cujo vale sua vida.

Não era como andar de cavalo pela primeira vez, ou roubar o arco e flecha de seu tio para aprender a atirar. Eram algo muito mais... perigoso, Perigo era a palavra certa, vindo atrás de uma solução para um problema que pode causar mais problemas.

- Mary, você está bem? Você parece pálida. - Angeline me olhou, deu um riso de lado e completou. - Mais pálida do que o normal.

- Oras, eu estou em uma aventura aterrorizante com a minha melhor dama de companhia a busca de uma bruxa que nem temos certeza que existe.

- Não se acanhe, só precisamos ser discretas. Ah, e você fica bonita de cabelos negros. - Ela disse olhando de relance para os meus fios.

- Deus me deu cabelos loiros e só resta a mim aceitá-los, obrigada pelo elogio. - Disse em um riso, mas ele se foi em questão de segundos quando encarei o homem alto e forte que se encontrava na nossa frente com um cheiro forte de vinho.

- Ora, ora. - Ele falou com um riso malicioso nos lábios - O que senhoritas tão lindas estão fazendo há essa hora perto de uma taberna cheia de homens? Seriam as novas putas de Klaus?

Meu coração pulsava quase saindo pela minha boca, mas que merda, onde eu estava com a cabeça quando decidi vim pra cá? Onde?

Junto do homem havia mais 6 do mesmo porte, pareciam gêmeos pois todos tinham caras de monstros pervertidos.

- Nós estamos a procura da floresta, a obscura. - Angeline disse, e por incrível que pareça não tinha medo em sua voz, não tinha receio, não tinha nada. Mas o que é isso?

O homem nos avaliou por uma última vez, virando sua atenção totalmente para Angeline, Graças ao bom Deus.

- Não tem nada lá para garotas burras como vocês, voltem do buraco que saíram. - Ele disse e se sentou em seu banco de madeira sem nem se quer manter contato visual.

- E com certeza um homem burro como você não saberia dizer onde fica. - Angeline disse e naquele momento eu sabia que iríamos morrer, eu nem reinei ainda e nem tive filhos, não posso acabar assim.

- O que disse sua vadia? - ele apoiou as mãos na mesa com força, levantando e atraindo olhares curiosos. Aliás, que mulher levantaria a voz para um guerreiro faminto e raivoso?

- Se você não estivesse ocupado com toda sua arrogância e fedor, teria ouvido exatamente o que eu disse. - Ela falava sem medo algum, como se fosse mais forte que todos os homens daquela taberna juntos.

O homem a olhou de cima a baixo como se ela fosse uma puta, nada contra as putas. Então ele riu, se aproximou dela botou a mão nas suas bochechas e apertou.

- Olha aqui sua magrela nojenta - Ele apertou mais - Você tem sorte por eu estar de mal humor e não arrebentar esse rostinho de pêssego e fazer ele virar uma fruta podre e ensangüentada.

Quando vi aquela situação meu primeiro
Impulso foi pensar em alguma estratégia pra sair dela. O que os homens não resistem? A uma mulher que sabe convencer. Se nós não ganharmos na força, ganhamos pela inteligência.

- Aliás, do que vai adiantar você bater nela, matá-la? Se nós não estamos aqui para arrumar confusão. Oras, foi só um mal entendido. - Todos pararam o que estavam fazendo e olham para mim, meu queixo estava erguido e meu olhar seguro, minha postura ereta e minhas palavras afiadas, eu estava preparada para qualquer discussão para tirar eu e minha amiga dali.

- Do que vai adiantar? Eu vou ficar bem feliz se eu desse uns murros nessa carinha linda - Ele move o rosto dela para mim, eu vejo minha amiga totalmente desesperada e no seu olhar eu podia entender a palavra "socorro".

- Você parece que gosta de luta, não é? Gosta de bater. Tenho a conclusão que você se sentiria melhor nos protegendo. Aliás é assim que um homem ganha honra, fazendo seu papel de protetor da mulher e honrando sua masculinidade. -

- Você está dizendo que eu não sou homem o suficiente? - Ele deu um riso irônico e forçado. - quanto mais você fala, mais merda sai. - Ele disse tentando me botar para baixo, mas eu cresci a infância toda com pessoas fazendo isso, então não baby, não vai rolar.

- É óbvio que não é, desde quando homem que bate em mulher é homem de verdade? Você é apenas um capacho covarde que só se garante com violência mas não aguenta um minuto de diálogo que surta. Você deve ter muitos traumas de infância não é? - Se ele queria discussão arranjou, mas eu não entro numa guerra pra perder.

Ele empurrou minha amiga no chão e veio em minha direção, agora o problema dele era outra pessoa.
Eu.

- Eu já estou cansado dessas vagabundas, peguem elas e botem na carroça, vendadas e amarradas.

Parecia que tudo acontecia em câmera lenta, eu podia prestar atenção em todos os sentidos. Eu tinha foco, rapidez e inteligência. Era como se ao mesmo tempo também, eu perdia os meus sentidos. Que porra é essa?

Em uma fração de segundos, eu tive a consciência. Não era eu, que estava ali habitando meu corpo. Era alguém que eu não conhecia e eu sentia a presença do feminino e um empoderamento que eu não sabia da onde saia mas era tanto, tanto que me preenchia por completo.

Eu estava ali dentro, dentro do meu corpo e mente mas não tinha controle sobre absolutamente nenhum sentido do meu corpo.

- Que porra é essa? - Ouvi o mesmo homem que mandava me aprisionar com uma expressão de choque.

Meus olhos esquentavam tanto que pareciam estar em chamas, podia sentir meu corpo todo queimando como se eu fosse uma daquelas bruxas que o reino mandou queimar na fogueira, eu sentia todas elas dentro de mim, sentia o fogo mas não me queimava.

- Que maduro você, hein? Querendo aprisionar duas garotas indefesas. Mas talvez eu não seja tão indefesa assim. - Num ato rápido aquela coisa que estava dentro de mim comandando tudo que eu fazia, arremessou o homem a metros de distância sem tocar uma mão nele. Ele voava, e se arrebentou no chão.

- Angeline, saia daqui. - Olhei para ela, e ela estava totalmente hipnotizada como se estivesse em transe e obedeceu o que aquela voz dizia pra ela, a voz que saia de dentro de mim.

- AGORA TODOS VOCÊS VÃO QUEIMAR ASSIM COMO EU QUEIMEI! - E de repente, eu só via fogo. O fogo refletia em meus olhos como se estivesse dentro de mim, as pessoas corriam e eu assisti em terceira pessoa todos aqueles homens sendo queimados.

Mas, eu acordei.

E o que me restava era uma lembrança de fogo, como se aquilo tivesse sido outro sonho real que eu tive, e que só me recordava de detalhes.

Minha cama estava molhada de suor, eu estava quente. Levantei rapidamente e fui me olhar no espelho, meu cabelo estava loiro e não mais preto, estava com o meu vestido rosa bebê que minha mãe dizia que combinava com o meu tom de pele.

Mas por mais que parecia tudo igual, algo havia mudado.

Alias, tinha mesmo sido um sonho? Isso eu vou ter que descobrir.

 

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⏰ Last updated: Oct 23, 2022 ⏰

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