Lembro-me que Ashley havia falado alguma coisa sobre Peter e Diana serem de fraternidades co-irmãs na festa de Halloween. No momento eu não entendi o que aquilo significava. Agora percebo que deveria ter prestado mais atenção.

- Pode ser uma montagem... – Trisha diz, olhando para a foto. Eu olho para a foto novamente, sentindo um fio de esperança.

Liza revira os olhos e se levanta do balcão.

- Você pode mandar essa foto para mim? – eu peço.

Ela dá de ombros, pega o celular das mãos de Angelina e envia a foto para mim.

Angelina fala alguma coisa para Liza, mas não estou mais ouvindo as duas. Subo as escadas rápido até o meu quarto, com o celular nas mãos. Assim que estou sozinha, começo a examinar a foto. Talvez Trisha tivesse razão. A foto estava escura, então poderia ser uma montagem, não poderia?

Eu não podia continuar me torturando daquela maneira, então clico na foto e a envio para Peter. Não consigo pensar em uma mensagem para digitar depois da foto e meus dedos estão trêmulos demais para se movimentarem sobre a tela do celular. Espero com o celular nas mãos, repetindo um mantra na minha mente.

Por favor, que seja uma montagem.

Por favor, que seja uma montagem.

Por favor, que seja uma montagem.

O celular vibra nas minhas mãos e o rosto de Peter aparece. Meus dedos vacilam por um segundo, mas eu atendo a ligação.

- Covey? – ouço sua voz do outro lado da linha. - Covey, você está aí?

Por favor, que seja uma montagem.

Por favor, que seja uma montagem.

Por favor, que seja uma montagem.

- Covey, essa foto... essa foto não é o que você está pensando... – ele diz com a voz entrecortada. Acho que não era uma montagem afinal.

- Eu não estou entendendo...

Minha cabeça está fervilhando.

- Não aconteceu nada entre mim e essas garotas.

- Essas garotas? – ele falou no plural, não falou? Será que estou ficando louca?

- Merda!

- Você pode me explicar o que significa essa foto? - eu peço, mas ele fica em silencio.

- Eu... eu não posso dizer...

- Como assim não pode dizer?

- Eu... eu não posso dizer, Lara Jean. Mas... mas você tem que acreditar em mim! Não aconteceu nada...

- Acreditar em você? Acreditar em quê, se você não está me dizendo nada?!

- Vamos fazer o seguinte... amanhã eu vou aí. Eu falto à aula e ao treino, não tem problema. A gente conversa pessoalmente. Vai ser melhor! – ele fala de um jeito desesperado.

- Melhor? Melhor por quê? Você vai me dizer como foi que a sua roupa desapareceu do seu corpo e como essa garota apareceu no seu colo nessa foto? É isso? – ele não diz nada. – Se não for isso, Peter, não precisa vir aqui. Aliás, não precisa vir aqui nunca mais!

- Não diz isso, Lara Jean... eu chego aí cedo amanhã, a gente conversa e resolve tudo.

- Resolve como? Você acha que vai vir aqui, a gente vai fazer sexo, e tudo vai se resolver assim, num passe de mágica?

- Claro que não! Acredita em mim, Lara Jean. Não aconteceu nada demais nesse dia!

- Nada demais? Você está quase nu com essa garota no seu colo e quer me dizer que não aconteceu nada demais? – silencio. – Eu vou fazer o seguinte... vou ali no campus achar um garoto que queira tirar uma foto dessas comigo. Daqui a pouco você vai receber no seu celular uma foto minha, seminua sentada no colo de um garoto qualquer. Depois você imagina se aconteceu alguma coisa demais entre nós dois...

- Pelo amor de Deus, Lara Jean. Não faz isso!

- Pois pode ficar com o celular por perto, Peter Kavinsky, porque vai ser a última foto íntima que você vai receber minha pelo resto da sua vida.

Desligo a ligação, me sentindo desolada. Em dois segundos o telefone toca novamente. Vejo que é Peter, então desvio a ligação. O telefone volta a tocar. Desvio a ligação e desligo o celular.

Deito-me sobre a cama e começo a chorar.

Como Peter havia feito uma coisa dessas comigo? Como ele havia feito uma coisa dessas conosco? Tínhamos uma história tão linda juntos, cheia de planos e de sonhos para o futuro... cheia de renuncias no presente... será que era tudo mentira?

Parando um pouco para pensar, os sinais estavam bem claros na minha frente, eu quem fingia não os ver.

Primeiro nós não dormíamos juntos no alojamento da sua faculdade, o que era muito estranho.

Lembrando-me agora, não foi comum aquele desespero todo de Peter para irmos embora da festa de Halloween, e, por coincidência, depois que Diana e suas amigas chegaram. E aquela desculpa de que ela havia estado no seu quarto para checar como estava a adaptação dos calouros não fazia o menor sentido. Ainda tinha o seu apelido de Casanova pelos seus amigos da fraternidade.

E então penso nas pequenas coisas, como quando ele me disse naquele dia à noite que não me merecia... era remorso! Era isso que Peter estava sentindo! Eu estava tão solícita, passando o Dia de Ação de Graças na casa do seu pai e ajudando a sua mãe na cozinha, enquanto ele estava me traindo durante a semana. Talvez ele tivesse ao menos um pouco de consciência.

Sinto-me uma completa idiota, imaginando que ele deveria estar me traindo durante todo esse tempo em que estávamos distantes.

Enquanto as lágrimas continuam a rolar dos meus olhos, ouço a porta do quarto se abrir. Angelina se aproxima e se senta ao meu lado, permanecendo em silêncio.

- Era ele mesmo, Angelina... – eu digo, sem me mover. – Era o Peter naquela foto...

- Que merda! – ela fala.

Vejo sua mão se aproximar do meu rosto, mas ela recua. Angelina não era o tipo de pessoa que afagava uma amiga que estivesse chorando. Ela era do tipo de pessoa que permaneceria ali, ao lado, pelo tempo que fosse preciso.

- Pensei que o Peter fosse diferente dos outros garotos. - ela diz, com a voz triste.

- Eu também...

- Acho que nenhum garoto presta afinal!

Não respondo. Eu não tinha tantas experiências assim para confirmar aquela tese, e o único namorado que tive, acabava de partir o meu coração.

- Isso é o que mais me dói nisso tudo. Eu pensei que conhecia o Peter melhor do que ninguém, depois de tanto tempo juntos... mas nem reconheço a pessoa que está naquela foto...

Angelina se deita na cama ao meu lado e permanecemos em silencio. O único som que ouvimos no quarto é o dos meus suspiros enquanto choro. Até que em algum momento eu adormeço.

Toda sua, Lara JeanOnde histórias criam vida. Descubra agora