Capítulo 3: Laila Bourscheid

408 39 73
                                    

23/09/2014

-Mamãe, ta doendo... -Falei, sentindo minha barriga doer, muito

Sentia meu olho arder, minha cabeça doer e principalmente minha barriga, doía mais do que qualquer coisa

Tentava falar alto o suficiente pra ela escutar, mas não tinha forças pra isso, e ela estava longe

Me levantei, sentindo minhas pernas fraquejarem

Segurei firme na porta para não cair, e fui até minha mãe

Abri a porta de seu quarto, ela olhou pra mim

Senti minha cabeça tontear e perdi totalmente as forças das pernas

-Mamãe -Falei, alucinada

Já não estava mais sob mim

-Filha? Filha?! -Foi apenas o que escutei antes de cair desacordada

05/10/2014

-Doutor, por favor, fala logo -Pediu minha mãe chorosa, enquanto eu estava escutando escondido na entrada do corredor

-Câncer -Falou suspirando e eu arregalei os olhos -Câncer no pâncreas -Falou sério enquanto minha mãe estava imóvel

Estavam falando de mim, certo?

-O caso dela não é iniciante, se avançou mais rápido que o normal, desenvolveu muito... Muito rápido -Ele tentava falar explicando, de um jeito que justificasse

Era eu, com 11 anos, diagnosticada com câncer

...

12/03/2016

-RÁPIDO, LEVEM PRA UTI, INTERNAÇÃO-O médico falava apressado com os outros enfermeiros, que me levavam numa maca, enquanto eu gritava de dor

Minha barriga doía, muito, era insuportável a dor

-Me ajuda -Falei em meio a soluços, logo gritando novamente sentindo a dor corroer dentro de mim

Tudo parou quando uma agulha entrou em contato com minha pele, e eu fui completamente cedada, imediatamente

Minha visão embaçou, e eu adormeci

...

13/03/2016

Acordei, meio tonta

Novamente em um quarto de hospital

Olhei para os lados, tentando raciocinar e acordar por completo

-ELA ACORDOU -Um homem falou alto e eu me assustei, vendo um médico entrar dentro do quarto, com um sorriso falso de quem tentava disfarçar algo

-A princesa bela adormecida acordou -Falou sorrindo largo, e veio até mim, simulando cócegas

Eu sorri, ele não podia tocar minha barriga pelo fato que voltaria a doer

-Princesa, você vai ter que ser forte -Falou, me olhando

Já senti o desespero tomar conta

-O-o que aconteceu? -Perguntei trêmula

-Calma, ok? -Respirei fundo

Ele suspirou

-Ontem, você teve uma piora, muuuito forte -Falou, tentando descontrair um pouco -E a gente teve que te internar, e você ficou desacordada essa noite -Fez uma pausa

O olhava com atenção, ansiosa pra saber o que tinha acontecido

-Sua mãe... -Suspirou e eu senti meu coração apertar, meus olhos já lacrimejaram -Ela ficou sabendo, e veio desesperada pro hospital -Falou, calmo -E no meio do caminho, ela sofreu um acidente -Arregalei os olhos assustada, não conseguia falar ou demonstrar nada

Apertei o lençol com força, sentindo as lágrimas sairem sem esforço

-Foi grave, e ela foi socorrida, mas não a tempo de chegar no hospital mais próximo, e quando chegou, ela já estava morta -Falou suspirando

Senti uma forte pontada na nuca

-Minha mãe... Morreu? -Perguntei com a voz fraca, vendo ele assentir devagar

Apaguei desmaiada

...

Era o dia do velório da minha mãe, a família toda estava aqui

Eu vim acompanhada do Luíz, o mesmo médico que me deu a notícia, eu ainda não podia sair do hospital, mas tomei algumas dosagens e pude vir

Luiz estava conversando com alguns familiares, enquanto eu observava minha mãe, deitada num caixão

Era a única pessoa que eu tinha, era quem fazia tudo por mim

-Você tá chorando né? Mas a culpa é sua! -Escutei a voz da minha tia e me virei, vendo ela junto com minha vó, ela falava chorando -Minha irmã morreu, a culpa é sua, sua inútil! -Abaixei a cabeça

Não liga pra isso...

-Ela não deveria se preocupar com você, você é uma doente que vai morrer, não tem utilidade, é uma morta-viva -Falou em meio a um soluço -Você matou minha irmã, você é um monstro, é tudo culpa sua, sua doente, você não tem cura, deveria morrer, as pessoas fingem que se preocupam com você mas todos querem que você morra! -Falou aumentando o tom de voz

Eu chorava, de cabeça baixa

-Você a matou!

...

Acordei no susto, me sentando na cama sem conseguir respirar direito

As lembranças nunca me deixam em paz

Respirei fundo, tentando controlar minha respiração

Passei a mão por meus cabelos, sentindo minha testa suada

Passei o braço pela mesma, tirando a coberta de cima de minhas pernas

Usava uma camisa abotoada branca, meio transparente, de manga longa, mas tinha 3 botões desabotoados, junto com uma saia preta

Estava com calor, e suada

Me levantei, e encarei o espelho

Memórias... Elas não me deixam dormir, tenho medo de não acordar, e mesmo quando durmo, continuam presentes em minha mente

Suspirei, encarando meu reflexo

Me encarava, o reflexo me lembra dias que me atormentavam, atormentam, e sempre vão me atormentar

Sentia a vontade de chorar vindo

Joguei a cabeça pra trás, xingando mentalmente tudo o que aconteceu

The Hill •Billie Eilish [HIATUS]Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon