Capítulo 6 - Cara estranho

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Eric


Mas que diabos estava acontecendo? Por que eu senti um formigamento lá embaixo? Alguém poderia me explicar?

Inevitavelmente afastei meu rosto, com o cenho franzido. Liam parecia estar tão assustado quanto eu, a ponto de soltar minha camisa que estava firmemente segura entre seus dedos, quando, há poucos minutos, ele queria me bater. Será que estava sentindo a mesma coisa que eu? Por que ele sentiu esse negócio também? Meu Deus, quantas perguntas.

Liam estava tão espantado, que nem piscava os olhos. Eu nunca o vi com tal semblante. Ele sentiu ou não? Acreditava que sim, porque conseguia ver em suas feições que havia sido algo mútuo e compartilhado por nós dois. Era como se fosse uma assombração, na verdade, pior que assombração, era um verdadeiro pesadelo.

Afastei-me ainda mais dele, fazendo de tudo para não sentir aquilo novamente, até porque, sempre que eu sentia algo parecido com isso era quando eu estava com... Mulher. Com mulher! Como algo assim podia ter acontecido entre mim e um cara? E pior, não era qualquer garoto, era o Liam: um moleque atrevido que cresceu alimentando um tremendo ódio por mim.

— Parece que os ânimos de vocês já se acalmaram — ouvi a voz do juiz, mas não o vi, porque, por mais que eu tivesse me afastado do Liam, não conseguia parar de olhá-lo, assim como ele também não tirava os olhos de mim, tão intimidado quanto eu. — Eu vou ter que a marcar a falta e te dar cartão amarelo. Você atingiu o tornozelo do adversário — prosseguiu enquanto eu permanecia calado, sem conseguir dar uma palavra sequer. — Ei... — tocou em meu ombro, fazendo-me finalmente acordar e desviar meu olhar do Liam para ele. — Cartão amarelo.

— T-Tá... — gaguejei, sentindo-me meio desorientado e totalmente perdido, ao ponto de não conseguir nem argumentar algo contra o cartão amarelo e dizer que não cometi falta. Se fosse em qualquer outra ocasião, eu, com certeza, teria alegado qualquer coisa para impedir a marcação, mas, naquele instante, não tinha a capacidade de fazer algo, se não organizar meus pensamentos para tentar entender o que tinha acontecido ali.

— Quem vai bater a falta? — o juiz perguntou ao Liam, mas ele continuou me olhando e não deu a mínima atenção. Parecia imerso e absorto em pensamentos que o impediam de se concentrar em qualquer outra coisa. — Ei... — Dessa vez, seu ombro foi tocado, fazendo-o finalmente olhar para o lado. — Quem vai bater a falta? — questionou outra vez.

— Que-Quem vai bater... A falta? — Liam gaguejou tão desnorteado quanto eu, como se estivesse em outro plano, um universo paralelo. E, por mais, que eu não pudesse ler sua mente, curiosamente sabia o que ele estava se passando em seu interior. Ele estava afetado pela situação de segundos atrás.

— Sim. — Um dos árbitros replicou com inquietude, porque, provavelmente, já estávamos perdendo muito tempo, com nossas caras de bobos um para o outro, sem tomar uma atitude definitiva que desse continuidade ao jogo.

— O técnico mandou você bater a falta, Liam. — William, o amigo do Liam, apareceu na parte do campo onde nos encontrávamos.

Liam olhou para o William, para mim e para o juiz, exatamente nessa ordem, deixando-me curioso sobre o que estava pensando. Então, em questão de segundos, tornou a me encarar, respirando fundo e fazendo com que seu típico semblante surgisse: seguro de si, confiante e convencido. Começou a agir como se nada tivesse acontecido.

— Beleza — retrucou com firmeza. Seu habitual porte altivo e estupidamente nojento apareceu, destoando completamente do rosto pasmo e aturdido de pouco tempo atrás. Parecia que nem era a mesma pessoa ali. — Pode deixar. Vou bater a falta.

Jogada de MestreOnde as histórias ganham vida. Descobre agora