Capítulo 1

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As vezes a vida nos coloca em situações que de certa forma, sabemos que iremos passar mas nem por isso estamos prontos. Uma delas é a morte.

A morte é o tipo de situação em que até as pessoas mais fortes sofrem, dependendo de quem estiver no caixão. Eu não sabia disso, eu nem sequer pensava sobre isso, para mim e para minha família era algo totalmente distante. Eu não sei exatamente o motivo mas pensava isso.

E claro, eu pensava assim até dois dias atrás, quando o irmão do meu falecido namorado bateu em minha porta e me contou sobre tudo o que aconteceu. Eu nem consigo pensar nisso sem chorar, gritar ou até sentir muita raiva e mágoa dele. Hoje a morte pra mim é algo que vou carregar pro resto da vida. O buraco em meu peito sempre estará aqui.
Sou esperta o bastante para saber que não posso mudar o que aconteceu, mas ainda fraca demais para não pensar o que teria sido se aquele dia fosse diferente.

Aqui, agora, diante deste caixão só consigo pensar em como Matthew mudou minha vida desde a primeira troca de olhares até o último beijo que deixou em meus lábios antes de sair da minha casa, da minha vida... para sempre.

Neste momento o padre já estava falando um monte de merda sobre sobre morte, sobre como Matthew era um garoto lindo e sofrido sobre como ele era bondoso e generoso e blá blá blá. Eu não ligo, não dou a mínima pra esse discurso idiota. Ninguém de fato o conhecia nem mesmo eu o conhecia, caso contrário teria evitado o que aconteceu. Mas essa era a verdade, eu não o conhecia tão bem quanto imaginava e teria que aceitar isso. Eu o amava mas também era egoísta demais para não odia-lo por como ele se foi, para ser mais exata, ele ter se matado foi a minha morte. Uma parte de mim foi embora com ele junto para aquele caixão mas não era algo que eu deveria falar a ninguém.

Me perdi em pensamentos e tive que ser cutucada pelaa minha mãe para me levantar e ir ler minhas palavras de adeus para Matthew, como se meu subconsciente o deixasse ir embora totalmente. Eu era mestre em fingir meus sentimentos e emoções e estava na hora de voltar com isso novamente.
Me levantei e fui em direção ao altar com classe e confiança como minha mãezinha "elegante e confiante" ensinou. — Boa tarde, é com grande insatisfação e luto que início esse discurso. Eu deixaria minhas lágrimas rolarem mas tenho certeza que não é isso que Matthew iria querer. E como uma forma de dizer adeus, irei deixar meu melhor sorriso mesmo que ele não seja verdadeiro.
Dei um pequeno sorriso e um suspiro bem fundo e olhei para as palavras em meu papel começando a cita-las a todos que estavam presentes. Eu nem sequer escutei o que estava falando eu não acreditava em poha nenhuma do que estava dizendo ali e não me importava também nada mais importava mas devia minhas melhores palavras a sua família, como uma forma de adeus. Pois faria questão de desaparecer de suas vidas para sempre, não preciso ser fardo de ninguém. Não nasci pra essa merda.

Assim que o funeral acabou me levantei e fui direto para o meu carro. Sem falar com meus pais ou com qualquer um que quisesse me desejar pêsames pela morte do meu namorado. Poha, morto. Morto de verdade. Nem dava pra acreditar nessa merda. Invés de ir pra casa decidi andar de carro para desestressar um pouco.
Imaginei que, quanto mais longe eu ficava daquela igreja quanto maior a distância, mais iria deixar ele para trás. E até que estava dando certo.

Horas e horas de carro os mesmos pensamentos indo e voltando. Ele esperou o verão todo para fazer o que fez.

Eu não sei os motivos, eu não sei exatamente nada do que passava por sua cabeça.

E o mais estranho é que fui a pessoa que mais ficou com ele durante seus últimos meses de vida. Dói saber que todos os sorrisos e gargalhadas dele eram falsos, dói saber que tudo o que ele dizia sobre nosso futuro ou como ele estava animado para quando eu fosse estudar na mesma faculdade que ele era mentira, era só enrolação. Será que ele pensou em mim? Será que ele pensou nas nossas promessas? Odeio ser egoísta ao ponto de estar pensando nisso mas é só o que passa pela minha cabeça agora.

Meu Deus, a faculdade, A POHA DA FACULDADE! Por um momento tinha esquecido completamente de que:
Um - faltavam duas semanas para começar oficialmente a faculdade
Dois - Sou a ex namorada de um garoto extremamente popular que se matou.

Quando estaciono em frente a nossa praia favorita, me desabo a chorar, não era pra isso estar acontecendo, eu estou totalmente perdida sem ele nunca conseguirei esquecer ele e sei disso, tudo girava em torno dele, a escola, a vizinhança o meu futuro.. tudo o que eu queria era que ele estivesse aqui me abraçando agora e colocando minha cabeça em seu colo para eu chorar, como ele sempre fazia.
Mas acabou de vez. E tudo o que terei dele são as memórias, os momentos bons.
O amor e o ódio, na mesma intensidade.

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