Ab aeterno

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Demorei bastante hein, prometo que vou tentar compensar!
Boa leitura.
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O ar era tão amargo quanto ele podia sentir, e o frio avidamente agarrava a pele úmida de suas bochechas.

No entanto, ele não conseguia mais sentir o frio, outra coisa que o lembrava de que ele não era mais humano.

Harry viu o mundo desaparecer diante dele em branco.

"Quatro milhões oitocentos e trinta e três mil trezentos e sessenta e cinco"

As chamas ondulavam contra sua pele, quase como um felino tentando chamar atenção.

 Ele não conseguia sentir o calor que nem chegava a carbonizar sua pele. 

Harry fechou os olhos e ouviu o assobio quando as pequenas gotas de água atingiram as chamas.

"Oito milhões, duzentos e cinquenta e nove mil, oitocentos e vinte e seis."

O vento uivava de dor e implorava para ser ouvido, mas só seria encontrado por ouvidos desinteressados.

 Harry costumava amar o vento contra sua pele, isso o fazia se sentir vivo, mas agora não fazia nada além de lembrá-lo de tudo o que havia perdido.

"Vinte e sete milhões, oitocentos e quarenta e cinco mil, quatrocentos e vinte e quatro."

A chuva chorou e acariciou sua pele, escondendo os diamantes líquidos que caíam de seus olhos cor de esmeralda. 

Mesmo quando a água encheu seus pulmões, lavando-os, tentando limpá-los de sua tristeza, uma tentativa inútil, afinal não se podia afogar o que nunca esteve vivo.

"Quatrocentos e vinte e seis milhões, trezentos e cinquenta e cinco mil, novecentos e três."

Harry se perguntou por que ele ainda contava, mas parte dele não suportava esquecer. 

Quantos mundos ele viu, cada um ligeiramente diferente do anterior. Tudo que fazia parte deles desapareceu, pouco importando-se. Uma escuridão se instalou no coração de Harry e ele começou a temer a si mesmo.

O homem à sua frente tinha uma faísca de travessuras que havia perdido nos olhos há muito tempo, e ver seus velhos olhos era reconfortante. 

O homem não era nada como Harry tinha sido em seus dias de juventude, este homem era alto e pecador. 

Sedutor, o sorriso e as palavras dele deslizariam sem esforço para o seu coração, para afundar suas garras e somente quando estivesse satisfeito, o deixaria ir.

No entanto, essas garras não soltariam sua presa com delicadeza, não gostariam de deixar danos além do reparo. 

Este homem era tentador até ossos, mas era jovem ao contrário de Harry.

Ingênuo e corajoso, Harry já havia sido assim. No entanto, então ele viu, o tom azul penetrou nos olhos do outro enquanto observava Harry pela primeira vez. 

Harry não sabia se queria rir ou chorar, essa pessoa era tão parecida com ele que doía. 

Este homem estava sendo usado e manipulado, ou pelo menos Harry tinha noventa por cento de certeza.

A visão de Harry ficou preta.

Lentamente, seu corpo se recuperou, os tecidos se curavam e se conectavam, entrelaçando e crescendo. Sangue saindo do chão debaixo dele e sendo absorvido de volta ao seu corpo. 

Repetição.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora