Parte 3

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1ª Lição: O Olhar

Se os relacionamentos são complexos, imagine se apaixonar por um amigo. Em minha opinião, isso era algo fora de questão. Lucca e Laura conheciam meus pensamentos sobre esse quesito então, talvez, eu fosse um pouco culpada por ele ter se afastado ao invés de contar comigo.

O que ele deveria ter entendido é que eu aplico minhas regras exclusivamente a mim. Ele e Laura juntos? Eu até acharia bonitinho.

- Primeira lição. - anunciei largando a mochila no meu sofá e sentando no chão do quarto.

- Você viu a cara da sua irmã ao me ver? - Lucca sentou-se na minha frente, rindo divertidamente - Parecia estar presenciando uma aparição fantasmagórica.

De fato, a expressão de Paula ao observar Lucca entrando pela porta, fora algo digno de nota. Mas agora, olhando para o garoto sentado sobre meu tapete lilás, eu mesma sentia como se visse um fantasma do passado.

- Uau, seu quarto está ainda mais afeminado do que da última vez que estive aqui. - observou ele.

- Não está não, eu guardei a coleção de barbies. - retruquei, com a ponta de um sorriso no lábio.

Encarei o cômodo tentando vê-lo através do olhar de Lucca. Os tons de branco, rosa e lilás, eram leves e confortáveis a vista. Um armário, uma escrivaninha, um pequeno sofá, uma cama e uma estante que ostentava minha TV, meus livros e DVDs. Não era assim tão exageradamente feminino.

- O que você estava dizendo sobre a primeira lição? - Lucca perguntou.

- Ah, sim, primeira lição. Esta é simples, na verdade. - cruzei as pernas e apoiei minhas costas na cama - O olhar.

- Vai me dizer que tenho problemas até no meu modo de olhar? - o garoto riu descrente.

- Não, não é isso. - expliquei - Quando alguém desperta nosso interesse, a tendência é que nosso olhar fuja em direção ao da pessoa. É automático. Podemos estar em uma multidão, o olhar vai encontrar a fonte de interesse.

- Isso soa bem romântico para alguém tão descrente em relacionamentos. - observou ele.

- Não é romance. É biologia. - retruquei, continuando meu discurso - A primeira lição é reparar no momento em que seus olhares se cruzarem. Mantenha os olhos fixos por alguns segundos, para ela ter certeza de que é realmente para ela que você está direcionando a atenção. Se ela apenas desviar os olhos, mau sinal, teremos muito trabalho pela frente. Se desviar mas ruborizar, bom sinal, você tem chances. Se sorrir, você não deve precisar de mim para completar o trabalho.

- Como você sabe disso? - Lucca parecia alternar entre a surpresa e a desconfiança.

- É um padrão de comportamento. - dei de ombros - Quase um ritual.

- Espera. - pediu - Eu pensei que precisasse demonstrar "menos aparência e mais conteúdo". - ele repetiu minhas palavras formando aspas com os dedos.

- E precisa. - confirmei - Eu só quero ver como Laura reage a você, assim podemos seguir para a próxima lição.

- Que seria? 

- Aproximação.

**

Depois de poucos segundos de uma conversa banal, na qual Lucca admitiu que, após o fatídico verão da internação do meu pai, ele começou realmente a gostar de Buffy, tendo assistido todas as temporadas sobra a caça vampiros, o celular do garoto começou a tocar.

- Um minuto. - pediu ele, afastando-se para atender.

Sentei na cama, observando o garoto caminhar de costas. Em que momento seus ombros se tornaram tão largo? De alguma maneira, sua aparência atual contrastava fortemente com o ambiente, mas não de um modo desagradável. Era quase reconfortante, na verdade, pensar na possibilidade de voltarmos a ser amigos.

Ela Não Está Tão A Fim De Você (Amostra) - DISPONÍVEL NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora