MORTE ÂMBAR

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Seu coração batia forte, acelerado. Ele respirava ofegante, seu corpo todo lutava, suas pupilas se dilatavam procurando sorver cada ínfimo de luz disponível na penumbra daquela noite, seus ouvidos redobraram a atenção tanto que podiam ouvir o ar gélido entrando em seus pulmões e queimando como fogo, seus músculos contraem tentando obter a força necessária para escapar do destino arrepiante que o perseguia.

Enquanto corria de forma errante pelos becos sinuosos da cidade velha. As luzes dos postes de lamparina dançavam ao ritmo do vento gélido que soprava naquela fatídica noite. as chamas torciam de um lado para o outro dando a cena uma iluminação turva um dourado trêmulo e trepidante, tudo ficava ainda mais confuso em meio aos tropeços, tombos e esbarrões, o som dos passos apressados misturavam-se a um som que poderia ser facilmente descrito como o aço frio de uma lâmina arranhando os paralelepípedos úmidos e gelados que cobriam aquelas ruelas apertadas. Desesperado, ele tentava agarrar a esperança de que sairia vivo de mais esta. Afinal ele era um homem de sorte, sorte esta que havia lhe sorrido pouco minutos antes no cabaré.

Quem diria, a noite que começara com uma mão vantajosa num jogo de carteado qualquer na casa de luz púrpura que ele comumente frequentava acabaria daquela maneira:

- Corra, Corra!!!

Ecoavam os gritos roucos, secos e profundos, tanto que conseguiam penetrar a carne pareciam estar ecoando dentro do seu próprio peito:

- Pequeno porquinho eu consigo te escutar!

A assombrosa voz seguia:

- Consigo escutar os descompassos acelerados do seu coração, cada bombear de sangue por seus músculos, gerando espasmos involuntários e tremores:

- E sim você virou na esquina errada porquinho!!!

A voz cessou.

Encurralado ele já não hesita mais, vira e encara seu algoz. Se prepara, pois, se for morrer, irá morrer lutando. Afinal já havia saído vitorioso de muitas lutas contando com os errantes afagos de sua auto proclamada sorte. De veras ele preferia confiar em sua sorte que em suas capacidades bélicas.

Ele soltou um último grito desesperado, procurando se animar. Focou seus olhares no olho de seu algoz tentando desvendá-lo. Maldito seria ele ao descobrir que conseguiria.

O tempo congelou e ele percebeu aqueles imensos olhos sedentos, duas gemas âmbar o encarando, ansiando para que ele reagisse querendo tirar cada gota de prazer sádico daquela caçada. Tanto ele quanto seu algoz já sabiam que está "batalha" já estava decidida a diferença de habilidades estava claramente visível na imagem inexorável daquela fera parada ali em sua frente. Seu tamanho absurdo, músculos bem definidos e desenhados sobre a pele esticada do abdômen, mesmo esticada sobre os gigantescos músculos abdominais, ainda sim era visivelmente resistente, suas orelhas apontando o céu, seus dentes ferozes, vorazes, gigantescos. Sua postura curvada sobre os braços, que de nada amenizava a aura aterrorizante que emanava de tal criatura tudo coberto por um manto de pelos negros e densos, ouriçados como se cada fio ansiasse se deleitar nas vísceras de sua vítima.

Em uma fração de segundo tudo se finalizou, as garras gigantescas perfuravam e rasgavam o corpo como se desfiassem um naco de carne bem cozido, o sangue jorrava e coloria o chão e as paredes com um carmesim mórbido. Os cheiros de ferro e cobre se misturavam ao cheiro de pedra molhada e inebriavam a atmosfera conforme o sangue escorria pela rua daquele claustrofóbico espaço, dando a cena toda um tom repugnante e lamentável.

Caído sobre o meio fio ele já não sentia dor, somente o toque frio das pedras recortadas de maneira assimétrica e encaixadas a força no chão. A ferocidade do ataque teria sido um último afago de sua amiga sorte, uma morte fugaz.

Agora ele assistia a tudo, distante, desvanecendo.

Saciado, ao menos por esta noite de sua vontade sádica. O monstro de olhos âmbar, salta por entre os telhados usando a penumbra da noite como lar. Deixando pra trás mais um pobre coitado que se atreveu a confiar nos efêmeros afagos de sua sorte. Uma composição sangrenta de horror e vísceras desenhada no rosto e corpo desfigurado deste "sortudo" porquinho.

Morte ÂmbarWhere stories live. Discover now