Capítulo Dois

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A noite passada ainda estava reverberando em sua cabeça, aquela entrevista havia sido incrível. Falar abertamente sobre política em um cenário totalmente catastrófico em que estamos inseridos nesse momento era tão necessário, poder da voz, poder falar sem medo, poder opinar, poder transmitir todo conhecimento absorvido era incrível. Pelo menos alguma diferença ele estava fazendo no mundo e isso era indescritível, pois ele já havia sonhado sim com tudo o que havia conquistado e o que estava conquistando, mas poder lutar por pessoas menos privilegiadas, poder dar voz a minorias, poder ajudar de alguma maneira e até fazer com que jovens se liguem mais em política e, quem sabe até em utopias perfeitas, conseguir ajudar a evoluir mentes para que a longo prazo a mudança de fato apareça era algo surreal demais para ele. Ele não queria ser mais apenas um produto midiático, ele queria poder de fato mudar a vida de pessoas e poder fazer isso com sua voz era satisfatório.

Levantou-se da cama e após utilizar o sanitário olhou-se no espelho sorrindo levemente. Não era apenas satisfação de polemizar e sim satisfação de verdade, em acreditar poder estar dando um pequeno pontapé inicial na mudança. Passou as mãos em seus cabelos, arrumando-os somente um pouco, afinal devido a pandemia somente estava ele e ele mesmo naquela casa imensa. Escovou os dentes e ainda de pantufas foi até a cozinha comer alguma coisa. O café da manhã passava direto para o almoço, visto que seu trabalho mudou totalmente sua rotina o fazendo virar madrugadas e dormir pela manhã.

A casa parecia estranhamente maior essa manhã. Sua mãe e seu irmão não estavam ali e sua namorada, bem, agora ex, havia ido embora faziam alguns meses. Há coisas que simplesmente não se explicam, somente acontecem. Mas no fundo sentia verdadeiramente sua falta. Abriu a geladeira e esquentou no micro-ondas algo que havia sobrado do dia anterior, sentou-se à bancada e ali mesmo comeu. Seu celular não parava um minuto, mas decidiu ignorar um pouco, sabia que era apenas trabalho. Mais trabalho do trabalho. Só trabalho. E mais trabalho. Por um minuto relembrou de sua vida antes disso tudo. Antes de ter uma casa imensa. Antes de ser conhecido. Antes de começar a falar na internet. Quando ele era apenas o Felipe. Uma rápida nostalgia bateu em seu ser e ele sorriu timidamente, quase conseguiu sentir o cheirinho da comida que sua mãe preparava naquele tempo, mas ele sabia que muito além do dinheiro, que era uma consequência de seu trabalho, era mais feliz agora fazendo o que realmente amava. Mas bem que uma casa mais cheia era bem mais legal.

Após lavar a pequena louça que se formara na pia, foi até sua sala e sentou-se no sofá. Antes de ir ao banheiro tomar banho e escovar os dentes, queria dar uma olhada em suas redes sociais. Na primeira, os comentários de sua entrevista ainda rolavam com uma velocidade absurda. Abriu a segunda e várias pessoas falavam com ele, vários símbolos de contas certificadas pulavam em sua tela. Ao decidir por uma mensagem, acabou abrindo outra que logo apareceu em sua tela. Era a conta de uma pessoa desconhecida. Havia um texto enorme na verdade, mas a última coisa escrita era "Falar ajuda um pouco, hoje já me sinto menos pior que ontem. Obrigada.". Ele não conseguiu ignorar aquilo, o que ela queria dizer? Ele queria entender o contexto, queria passar os olhos rapidamente para saber do que se tratava, mas não conseguiu. Ele leu tudo. Cada linha, cada palavra. Ele conseguiu sentir todas as palavras. Lembrou de sua própria dor. Curioso foi até o perfil da pessoa, haviam umas poucas fotos, a maioria de coisas aleatórias demais, mas as poucas fotos dela falavam por si só. Um sorriso no rosto. Um olhar vazio. Esse vazio era preocupante. Releu mais uma vez tudo o que ela havia escrito, sem aceitar, para que pudesse manter seu anonimato. Recostou-se em seu sofá com um leve suspiro, olhando para o teto. O que podia fazer? O que devia fazer? Deveria de fato fazer alguma coisa? Ele não podia ignorar. Esperar. Decidiu então esperar mais um pouco, talvez ela falaria mais alguma coisa, daria mais informações a seu respeito e aí ele decidiria o que fazer.

Seu telefone não parava de berrar em seus ouvidos, muita coisa para fazer, muito trabalho, ainda uma reunião. Ele olhou mais uma vez para a foto de perfil da pessoa não sabendo ao certo o que sentia a respeito e partiu rumo aos seus deveres. 

A Whole New World - Uma FanFic com Felipe NetoWhere stories live. Discover now