4° Carta.

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Olá, Eloy,

Tudo bem contigo?

Sabe com que eu sonhei essa noite? Com nós dois em um parque de diversões, foi tão divertido e parecia ser tão real...

... Nós fomos em vários brinquedos, você ganhou um ursinho de pelúcia no arco e flecha, eu comi algodão doce pela a primeira vez desde que eu iniciei a quimioterapia, foi tudo tão divertido e bom, Eloy, você me fazia rir muito, e eu me sentia o garoto mais feliz do mundo só por estar próximo de você.

Mas aí eu acordei, e sabe eu chorei, foi apenas um sonho, mas eu queria tanto que fosse real, que acontecesse mesmo, eu me senti feliz por ter sonhado com isso e triste por ser apenas um sonho.

Ah, tenho uma coisa triste para contar...

... Os meus pais brigaram de novo, dessa vez eu não sei o motivo, mas acho que eles querem se divorciar, porém um problema pequeno impede um divórcio tranquilo: eu.

Eu sou o problema, eles não querem que eu me sinta triste ou deprimido porque eles querem se divorciar, mas também não se amam como antes, eles sabem que eu ficarei triste por isso e que eu sou muito emotivo, mas as vezes é assim, né? A vida é difícil, quem você jurou amar e respeitar no altar pode não ser a pessoa que vai te acompanhar pelo o resto da vida.

Eu desci as escadas, estava entrando na sala e vi ambos brigando, na hora que eles me viram eles pararam e me encararam, eu não falei nada e eles continuaram em silêncio.

Papai falou que estava tudo bem entre eles e que eu não deveria me preocupar com as brigas deles, mamãe fez um chá de camomila e assistiu um episódio de uma série comigo antes de sair para mais um plantão de onze horas.

Mas eu percebi que eles estão brigando muito, e sei que eles vão se divorciar logo, quero que eles sejam felizes.

Mamãe é tão ocupada, queria que ela passasse mais tempo em casa, mas eu sei que ela trabalha assim pois não aguenta me encarar e saber que eu vou morrer.

Papai e eu conversamos durante algumas horas, eu contei para ele que eu era gay, ele riu e falou que me aceitava do jeito que eu era, ele disse que já sabia. Eu precisava contar isso para ele, eu não poderia morrer e não contar isso para a minha família.

Os meus irmãos já sabiam, mas os meus pais ainda não, vou te falar o que ele falou para mim, eu até chorei, ok, eu sou chorão mesmo, pode rir de mim, eu não ligo:

- Filho, eu não ligo que você seja gay, eu só quero que você seja feliz de verdade - Ele falou isso - Não me importa se você beija garotos ou garotas, o importante é ser feliz.

Eu tenho um ótimo pai, não é, Eloy? Queria que você pudesse conhecê-lo, tenho certeza de que ele gostaria muito de você. Bem, ah, se você quisesse conhecê-lo, Eloy...

Aliás, Eloy, fiquei sabendo que você teve uma briga com o seu pai, conversem, por favor, isso é o melhor, nós somos apenas humanos, não sabemos o tempo que tempos aqui. Sei que você pode mandar o foda-se para o meu conselho, mas eu gosto de você, e espero que vocês fiquem bem, espero que a relação de vocês dois volte aos trilhos e que as brigas parem (ok, sendo chato agora, me desculpe, eu não tenho o que dizer o que você tem que fazer, mas espero que aceite um conselho de um amigo).

Acho que essa foi a maior carta que eu já escrevi, Eloy, mas eu escreverei outras maiores se eu conseguir...

Até logo, Eloy, te amo!

Obs: beba água e se cuide, te amo S2!

Ok, aquela carta tinha sido bem fofa, Eloy pensou, ele a guardou na caixinha onde guardava as outras, mas por que o anónimo tinha que falar de seu pai? Isso lhe causava dor de cabeça, lembrar do que tinha ouvido há alguns dias só o deixava um pouco irritado.

Ele suspirou, deixando isso pra lá, quem era o cara apaixonado por ele? Eloy queria conhecê-lo!

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