Ande pelas Sombras

Quarto para dois

Evaine abria os olhos, assustada com a claridade que saia da fresta da cortina mal fechada, estava em uma estalagem em Winterhold, na mesma cama que havia dormido as três últimas luas. Olhou para o lado mas não viu seu amigo, que dividia as noites com ela. Darsan não dormia, claro, mas, para manter a imagem de "humano normal" e para economizar, haviam alugado um quarto com cama de casal, nada mais que isso.

Ele já deve ter ido para a Escola. Pensou.

Procrastinou por mais meia hora entre os lençóis, se recusando a aceitar que não podia passar os dias na cama. Ainda estava cansada da viagem. Relutante, se levantou e vestiu suas roupas, saindo em seguida para o salão principal da estalagem.

- Dona, bom dia! - Gritou amigavelmente demais o barista. -Seu namorado pediu para eu deixar pronto seu desjejum!

-Ele não é meu namorado. - Sentou aborrecida em um banco, enquanto era servida: um copo de vinho quente, pão recém saído do forno e alguns pedaços de queijo cujo aroma inundaram os pulmões da garota.

- Ah, mil perdões dona! Seu marido!

- Ele não é... – Antes que pudesse responder, o barista se afastou, voltando a seus afazeres.

Para uma estalagem chamada O Coração Congelado eles são muito calorosos. Pensou.

Não demorou muito para se alimentar. Logo devolveu os pratos para uma garçonete e saiu pela porta dianteira. O vento gelado arranhou sua garganta com força, e logo fez Evaine lembrar de onde estava: o fim do mundo.

Winterhold já fora comparada com Solitude pelo seu tamanho e importância comercial, contudo, após um desastre natural (que muitos acreditam ter sido causado pelos magos que estudam na Escola de Winterhold), hoje a cidade não parece mais do que um vilarejo prestes a ruir. Castigada pelo frio, a capital da região homônima possui apenas uma rua principal, com poucas lojas e uma estalagem, ao seu redor apenas casas destruídas e parcialmente cobertas pela neve, o Mar dos Fantasmas quebra suas ondas perto até demais das primeiras edificações. Evaine não se surpreenderia se o local sucumbisse para as águas tão cedo.

Talvez lá não fosse o fim do mundo por completo, pelo menos não para a ex-ladra tornada aventureira, pois Winterhold foi uma das primeiras regiões a serem habitadas pelos Nórdicos, quando estes vieram do antigo continente de Atmora. Isso significa que ao redor da pobre cidade existem várias tumbas antigas, cheias de Draugr, os infames mortos vivos, para matar e tesouros para tomar. E Evaine precisava dessa adrenalina, afinal, como Madanach mesmo falou, seu espírito era livre demais para ficar num mesmo lugar por muito tempo.

[...]

Como isso ainda não destruiu esse prédio? Pensava Darsan encarando o Olho de Magnus que magicalmente flutuava no salão principal da Escola.

- Bom dia Mikael, esses dias você tá com uma cara boa, hein? – Chamava um dos colegas de classe pelo seu nome falso.

Era verdade, desde que voltara de sua "missão" e, secretamente, trouxera Evaine de volta, o daedra estava visivelmente "melhor"; é fato que ele não come ou dorme, mas a presença da amiga e vê-la segura e animada com as tumbas o transformaram, por assim dizer. Ela faz bem para ele.

Urag decidiu dar um tempo para o aluno e não mais pedia para ele recuperar livros perdidos e roubados, mas antes fez questão de falar para todos os outros estudantes sobre o "exemplo" que ele era e que todos deveriam se dedicar como ele. Bom, se Darsan já não era bem visto por alguns colegas, agora que ele não era querido mesmo; a elfa noturna Brelyna Maryon não disfarçou o desgosto. Mas fora isso, a rotina dele não havia mudado muito, entre aulas integrais e fingindo muita ingenuidade para fazer feitiços básicos, o dia logo passava e ele estava pronto para escutar as aventuras de Evaine.