Uma pausa e um amor, por favor

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Bruna

Desde que acordei com o Pedro ao meu lado na minha cama, no meu apartamento, e com a minha falta de memória, eu tirei uns dias de folga. Alguns dias é pejorativo, já que se passaram dez dias e eu continuo em silêncio, reclusa, sem ir a faculdade e com uma licença do trabalho. Eu tenho esse problema quando não entendo o que estou sentindo, e foi impossível explicar isso depois daquele dia.

Sinto como se o meu coração tivesse sido partido em mil pedacinhos esses mesmos pedacinhos, tivessem sido espalhados por aí. Tentei juntar todos os pedaços que podia ao longo desses dias, mas sinto que ainda falta alguma coisa.

To vivendo aquela fase de pausa necessária. Cuidando da saúde, da rotina e, principalmente, do coração. As últimas semanas foram de altos e baixos, meu coração andou um tanto desesperado, angustiado e ansioso demais. Mas, como bem me lembraram, tudo acontece quando tem que acontecer. É o famoso clichê da pessoa certa na hora certa.

Eu estou dando uma pausa nessa história de me envolver onde não fui convidada. Ando mantendo distância de pessoas que não fazem questão da minha presença, quem dirá da minha permanência. Resolvi me abster do estresse dos dias, das confusões desnecessárias e da irritabilidade que me acompanha por onde passo. Eu sei que a culpa é de mercúrio retrógrado, e já desisti de entender o porquê ele é assim.

Eu estou dando uma pausa de olhar para trás, tenho focado intensamente no instante seguinte, no que acontece agora e no que virá a seguir. Eu estou dando uma pausa pra mim, pro meu amor, pra tudo aquilo que eu tenho a oferecer. Hoje completam dez dias dessa pausa, e o meu amor começa a bater de novo e consigo me corresponder melhor do que ontem. Quem sabe como será amanhã?


Pedro

Pensar sobre aquela noite ainda é algo que custa o sono e ataca minha gastrite. A Bruna estava muito louca, muito louca mesmo. Apesar de entrar na dela sempre, eu estava bem, e com certeza não podia deixar ela sozinha, ainda mais para voltar pra casa, não naquele estado. O problema é justamente esse: eu sempre vou me importar quando o assunto é ela e nunca vou conseguir deixar quieto. E assim começou o maior barulho que já ouvi em forma de silêncio.

Hoje completam dez dias desse silêncio ensurdecedor. A Bruna sumiu. Ela não aparece nas aulas, ela não responde as trinta e sete mensagens que envie para ela nesse período. Soube que até tirou uma licença do trabalho. O porteiro dela, o João, diz que não a vê há dias, mas que entregam comida no prédio duas vezes por dia, então deve estar viva.

Esse é o problema de você se apaixonar pela sua melhor amiga. Naquela noite, quando entramos em seu apartamento, ela me agarrou e me beijou. Ela me jogou no sofá e pulou em cima de mim, disse que me amava e não poderia viver sem mim. A Bruna sempre me disse isso, mas daquela vez parecia diferente, ainda mais com a boca colada na minha. Claro que eu perdi a cabeça, com certeza levei ela para a cama, mas foi isso. Queria que ela se lembrasse daquele momento todos os dias que me visse. O pior de você querer algo é quando ele não acontece. E acordar no dia seguinte com ela ao meu lado, completamente sem entender aquela situação e até envergonhada, foi como levar um soco na boca do estomago.

Ainda não consigo entender o que foi pior, 1) a reação dela ou 2) o fato daquele mané da cafeteria ter mandado aquela mensagem para ela. O cara parece mais um stalker! Como ela poderia se interessar por alguém assim? Não é possível! Será que a Bruna está com ele agora? Ou será que passou todos esses dias com ele? Eu não aguento mais essa espera, mas também sei que se ela quisesse, estaria aqui falando comigo. Enquanto não decido se devo continuar dando espaço a ela ou alugar um helicóptero para aparecer na janela dela, continuo seguindo a minha vida da melhor maneira que posso, sempre preenchendo o meu tempo, evitando pensar naquela noite e nesses dez dias enlouquecedores.


Felipe

Foram exatos três dias o tempo para receber uma resposta. Acreditava firmemente que já era, que eu não teria chances alguma com a Bruna. Se eu fosse ela, não me responderia, mas ela é diferente. Ela tem uma risada rouca que me faz rir junto. A voz dela com sono é algo incrível. Ah, se ela me desse uma chance real e aceitasse sair comigo.

A primeira mensagem que me enviou (na verdade era mais uma resposta), eu nunca vou me esquecer:

"Oi Felipe, tudo bem com você? É comum a sua pessoa sempre enviar mensagens a pessoas estranhas que você teve um momento em uma cafeteria? Ou seria você um stalker desses que perseguem universitárias pelo campus para depois mata-las como "Pânico"? Olha, eu não sei o que você fez verão passado, mas eu passei estudando, tudo bem? Então não se dê ao trabalho, a minha vida não é nada desinteressante, mas você não iria querer saber. Ah, mas obrigada pela mensagem. Me fez pensar como as pessoas nos observam quando não estamos olhando e isso me fez refletir sobre como a humanidade anda em suas complexidades afloradas de sentimentos reprimidos. Enfim, você até parece um cara legal, mas eu sou confusão. Um abraço, beijo é íntimo demais".

Foi isso, claro, simples e direto. Eu já estava apaixonado. Não tinha como resistir àquela menina. Eu passei cinco minutos rindo da mensagem mais aleatória que a minha, e hoje completam dez dias que estamos trocando mensagens, já nos ligamos e passamos alguns minutos em conversas sérias sobre os episódios de "Dexter", temos assistido juntos e já estamos na metade da segunda temporada. A gente também tem trocado comida, ela pede a dela favorita e manda entregar aqui em casa, eu peço a minha e retribuo.

Mas tem algo que me deixa curioso – ela sumiu. Não a vejo na faculdade, no campus, nas aulas e nem na cafeteria. Quando perguntei se tinha acontecido alguma coisa, se ela gostaria de dar uma volta para conversar, ela riu, disse que estava com alergia ao ar e que precisava resolver algumas coisas. Que tirou alguns dias de férias e que estaria de volta logo, mas não sabia quando. Eu que cheguei agora não posso querer sentar na janela, então espero ela finalmente aceitar o meu pedido para um café, naquele mesmo lugar onde a vi pela primeira vez.  

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 03, 2020 ⏰

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