Prólogo

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Blake Carter

Todo o sangue...

Eu nunca irei esquecer o cheiro que impregnava o lugar que eu construir para ser o meu lar. Ele foi corrompido, não era mais imaculado e sagrado. Entraram aqui e tiraram tudo de mim, tudo o que eu tinha. Não deixaram nada.

— Senhor Blake? —Era o policial. — Preciso que faça a identificação. Acha que consegue? — Se eu consigo? Pergunto a mim mesmo, em meio à nevoa de dor que cobre o meu coração. — Posso ligar para algum familiar, se assim desejar.

Penso que a única pessoa para qual eles poderiam entrar em contato seria Jeremy, e eu jamais iria expor meu irmão mais nova á todo esse horror. Sem outra escolha, sigo o policial até o andar de cima, onde fica o quarto principal. Lá, jogada sobre a mesma cama que dividimos segredos e juras de amor, estava toda a minha alma.

O corpo da minha esposa sem vida, e em seu ventre, o nosso tão desejado e esperado primeiro filho.

Julia Carter, o meu alicerce. A mulher que me deu tudo, inclusive uma vida. Agora ela está morta.

Sinto o amargor da culpa, as pontadas na consciência. Como eu não a protegi? Ouço a voz de meu pai, como um sussurro que entra pela janela: um homem que não consegue zelar pela própria família, não é nada.

— É a sua esposa, senhor? Pode me confirmar isso? —Sei que ele quer, tanto quanto eu, sair desse lugar. Então dou o que ele espera.

— Sim, é ela.

Quando meu cérebro finalmente registra isso, ele entra em colapso. O mundo para de girar, o chão parece sumir debaixo dos meus pés. Sinto-me flutuar para uma dimensão onde nada disso está realmente acontecendo. Onde tudo está em seu perfeito estado, e isso não passa de um pesadelo.

Eu chego em casa depois de um longo dia no escritório de contabilidade. Julia está na biblioteca que eu montei como presente de aniversário de casamento. Ela ama esse lugar. Passa horar lá dentro, e só sai quando se lembra que precisa comer. Está sentada no chão, usando apenas uma blusa minha. Suas pernas estão dobradas e ela parece que tem 17 anos, ao invés de 25.

Tão jovem e bela. Uma verdadeira luz na minha vida.

Seus olhos brilham ao me ver, e ela vem correndo para me abraçar. Diz que estava ansiosa pela minha chegada e que tem uma notícia para me dar. Vamos ter um filho. Eu explodo em pura felicidade. Era tudo que mais queríamos. Para comemorar, eu a levo para jantar em seu restaurante favorito, para depois finalizarmos a noite na melhor forma; amando um ao outro.

Como um pulso elétrico, sou puxado de volta para a realidade, e não àquela que a minha mente estava criando para me proteger do fato de que eu nunca mais ouviria a voz da minha esposa. Não sentiria o seu cheiro e nem veria seus fios negros espalhados pelo lençol da nossa cama. Eu não mergulharia mais em seus olhos cor de safira.

Julia se foi para sempre, levando consigo tudo de mim.

Saio cambaleando do quarto, escorando pelas paredes e tentando não colocar todo o meu almoço para fora. Há sangue por toda a parte, que seria impossível cobrir tudo com uma simples pintura. Mas não sei porque estou pensando nisso, já que nunca mais irei retornar a esse lugar. A casa está rodeada de polícias e peritos. Ouço vozes, mas não entendo nada do que dizem. Meu cérebro parece estar em transe. Caminho para fora dali, mas não vou muito longe. Meus joelhos fraquejam e eu caio na grama. Choro de raiva, dor e ódio. Tento descontar nas filhas verdes abaixo de mim. Arranco um punhado nas mãos enquanto soco a terra árida.

Quero encontrar o desgraçado que fez isso. Quero que pague com a própria vida. Como diz o ditado: olho por olho, dente por dente. E eu irei até o inferno se for preciso, para colocar a mão no responsável por destruir a minha vida.

— Precisa vir comigo, senhor. —Dessa vez não era um policial. Um homem de expressão fechada e de terno me olhava de cima. — Está na hora.

Jeremias é o seu nome. Sei disso, pois ele está na minha cola desde a morte dos meus pais. Tentei muitas vezes fugir do que o destino havia me reservado. Tentei ser um cara comum, ao invés do homem que tinha um fardo pesador e perigoso nas costas. E foi isso que tirou Julia de mim para sempre. A minha negligencia e falta de coragem para encarar o que me foi predestinado.

Mas agora eu não tinha mais desculpas e nem motivos para não seguir o meu caminho. Tudo o que me antinha na luz, não existia mais.

As trevas vieram para me buscar.

E eu estava pronto para me entregar. 

***

Presentinho pq vocês são as melhores leitoras do mundo! Gostaram? 

Espero que estejam prontas para conhecer mais um pouco sobre esse homem que tem tanto á nos contar. 


Meu Para Proteger - Série Homens Feridos, livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora