O início do Fim

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— Porra. Vai se foder. Caralho. Merda.— Harry estava muito irritado. Já tinha esgotado seu arsenal de palavrões lembráveis e continuava repetindo-os vez ou outra, perdido em pensamentos sobre os acontecimentos de alguns minutos atrás. Ele não entendia como as coisas conseguiam dar errado de um segundo para o outro, como se ele vivesse na corda bamba entre o perfeito e o inaceitável.

A noite anterior estava há séculos de distância, e ele já sentia a falta dela. Não tinha motivos para sentir, afinal, havia apanhado feio e estava com muita dor nas costelas. Mas a conversa que tivera com Draco tinha marcado-o de um jeito diferente. Ele não sabia se era porque a pele cheirosa do loiro estava perto dele o suficiente para aquecê-lo, ou se eram os olhos ridiculamente azuis. Mas algo havia realmente feito ele feliz, na noite anterior.

Madame Pomfrey examinava Harry e apalpava o garoto na região do tórax para se certificar que os ossos estavam em seus respectivos lugares. Ela ouvia os xingamentos do moreno já faziam alguns minutos, e sua paciência já estava se esgotando. Ergueu os olhos e suspirou.

— É impossível que você esteja xingando porque está sentindo dor. — Ela disse. — O que aconteceu?

— O que disse? — Harry virou a cabeça rapidamente na direção da curandeira.

— Você está incomodado com algo. Visivelmente. E não acredito que esteja relacionado com a surra que levou ontem. — Ela tirou os óculos e apoiou as mãos nos lençóis. — O que aconteceu?

— Nada! — Ele percebeu o quanto pareceu nervoso ao falar naquele tom com Madame Pomfrey. — Não aconteceu nada.

— Certo. — Ela ficou em silêncio por um momento, apenas pensando. — Você está tentando me convencer disso, ou está tentando convencer a si mesmo?

Harry apenas olhou para ela e, pela primeira vez, a viu como uma mulher. Não apenas a curandeira de Hogwarts, mas um ser humano. Que levava sua vida cuidando de outros seres humanos. E ele entendeu que milhares de alunos já haviam passado pelas mãos habilidosas da senhora, milhares de olhos haviam a encarado e mentido sobre estarem sentindo dor apenas para conseguirem voltar ao jogo de Quadribol. E ele desconfiava que era por isso que estava tão na cara de que havia algum problema, além, é claro, do fato de ele ser um péssimo mentiroso e não conseguir esconder seus sentimentos.

— Ambos, Madame Pomfrey. Estou tentando convencer nós dois de que não há nada de errado.

— Imaginei. — Ela pegou a mesma cadeira na qual Rony havia se sentado mais cedo e a aproximou da cama de Harry, acomodando-se. — Conte-me.

— É uma história longa.

— Tenho tempo.

— E é complicado.

— Tenho uma imaginação fértil, também. Sou velha, já pensei muito.

Harry comprimiu os lábios. Não poderia simplesmente contar sobre Draco ter sumido, ou a tentativa de salvá-lo estar fracassando terrivelmente. Por isso, ele tentou ser cauteloso com as palavras que escolhia.

— Madame Pomfrey...a senhora já conheceu alguém, e construiu uma visão sobre essa pessoa por anos, a ponto de saber exatamente quem ela era e o tipo de comportamento que a pessoa desempenharia em qualquer situação? — Harry apertou as mãos nos lençóis. — A senhora já achou que podia prever alguém, ler alguém, mas na verdade a pessoa não era nada daquilo que a senhora pensava? E a senhora não sabia o que fazer com o sentimento que tinha em relação a pessoa, porque você alimentou essa emoção por anos?

A pergunta pairou no ar e se infiltrou por todos os poros da pele do grifinório. Ele não sabia de onde vinha aquilo que estava saindo dele, mas precisava falar algo para alguém que não o julgasse. Alguém que não fosse de seu círculo de amizades.

O Garoto Que Foi Esquecido • DrarryWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu