Capítulo 7

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Fiquei pensando no que dizer diante das palavras de Manoel, como eu poderia convencê-lo que ficar na minha casa era a melhor coisa para ele no momento? Ele tem cara de ser orgulhoso e até entendo isso, ele já deve ter passado por muitas coisas desde que foi morar nas ruas, existem pessoas muito ruins lá fora e não quero nem imaginar o que ele teve que enfrentar. Mas seria irresponsável da minha parte deixar ele voltar pras ruas estando ferido e debilitado, ele não pode nem se defender se alguém o atacar. Mandá-lo lá pra fora é o mesmo que mandá-lo para a morte e eu não quero carregar essa culpa, sempre fiz de tudo para salvar pessoas e não matá-las e isso não vai mudar apenas por que ele está fazendo birra.

_ E pra onde você pensa que vai?- pergunto tentando manter a calma.

_ Não sei, mas não vou para sua casa. - ele fala emburrado, parece uma criança quando não consegue o que quer, até parece que ele tem melhores opções.

_ E qual o problema de ficar na minha casa? Ela não é boa o bastante pra você? - ele me olha assustado por eu alterar a voz.

_ Você sabe que não é isso... - ele parece envergonhado.

_Eu não sei de nada Manoel. -falo esperando que ele me diga o porquê, mas ele permanece calado.

_ Me diga o que é então? Eu não arrisquei minha vida para salvá-lo para que depois você morra nas ruas Manoel. Isso não vai acontecer, por que se depender de mim você não volta mais pra lá. - falo saindo do carro.

_ Então agora você quer que eu deixe de ser mendigo e me torne gigolô?-ele sorri debochado mas consigo sentir uma nota de raiva. Sorrio por suas palavras mas não respondo.

_ Bruno ajude Manoel a se instalar no quarto de hóspedes por favor.- escuto ele resmungar dentro do carro, ele achou que eu ia bater de frente com ele, já percebi que ele quer me irritar a ponto de mandá-lo embora, mas não será hoje querido.

_ Eu não disse que ia ficar...- ele grita ainda dentro do carro quando Bruno abre sua porta.

_ Se ainda não percebeu, você não tem escolha.

Quando chego em casa Célia está me esperando na sala, ela ficou animada quando eu disse que teríamos um hóspede por uns dias, geralmente somos apenas nós duas e fico mais tempo fora do que em casa isso quando não passo semanas viajando, então seu trabalho se resume a cuidar mais da casa do que de mim. Ter Manoel em casa vai mantê-la ocupada enquanto trabalho e sei que ela cuidará dele com muito prazer. Antes que ela possa me perguntar qualquer coisa escutamos passos dentro do cômodo e logo vejo Bruno segurando as sacolas enquanto Manoel anda sozinho bem devagar, ele é tão teimoso que não aceitou a ajuda do homem para chegar até a cobertura. Vejo seu olhar passar por tudo no cômodo discretamente, depois ele olha pra mim de forma reprovadora parece que o fato de eu viver em um lugar luxuoso não lhe agrada muito.

_ Célia , esse é Manoel , ele vai ficar conosco por um tempo. Quero que o trate como todas as pessoas que frequentam minha casa. - ela sorri pra ele de forma meiga, acho que ela gosta dele. Ele retribui o sorriso e parece ser o mesmo homem de sorriso encantador que vi naquela noite, o mesmo sorriso que aparece em minha mente todas as noites antes de dormir.

_ Ola querido! Venha... vou te levar até seu quarto. - ela nem espera que eu o apresente e sai puxando ele para o quarto onde ele ficará. Acho que ela percebeu o clima estranho que está entre nós.

_ Onde deixo essas sacolas senhorita? - pergunta Bruno impaciente. Ele está comigo a alguns meses mas como viajei por um tempo não o conheço tanto ainda, na verdade só o mantive por causa do meu irmão que insistiu para que eu tivesse um segurança. Como eu odeio dirigir fico grata por ele fazer os dois.

Tinha Que Ser Você (degustação) Where stories live. Discover now