Além do que se vê... (Em desenvolvimento)

Prólogo

Olhar pela janela do carro em movimento é libertador, é claro, estou de carona na maioria das vezes com meu melhor amigo a caminho do trabalho. O enquadramento da janela me faz percorrer mundos, vagar por realidades paralelas criadas e extintas por mim e principalmente, consigo captar respostas das quais fujo periodicamente. Embora faça o mesmo percurso todos os dias, as pessoas e situações se alteram a cada segundo, até mesmo o cenário se transforma em muitos pontos e isso é fascinante. O mutável. Intimamente, desejava fazer parte dessa variação, vagar como um viajante do tempo para circunstâncias diferentes, até mesmo atípicas, em busca do que perdi de mim mesmo. Tudo seria válido, desde que me anistiasse da minha atual condição vivida há tantos anos.

Às vezes converso sozinho e me respondo em um embate intenso e muitas vezes agressivo, questionando-me, estou louco ou sou louco? Minha resposta, sempre vem acompanhada de um sorriso qual não consigo conter. Todo mundo vive em sua loucura particular, e esta minha "loucura" encontra-se acompanhada de uma covardia visceral, que enraíza meus quereres dentro de um lar que meus pais designaram... Não os culpo, afinal, qual o pai não quer o melhor para o filho? Sei disso, hoje aos quarenta e dois anos e com um casal de filhos, talvez repetisse o mesmo erro que é transferir suas vontades a prole, haveria apenas uma ressalva, os acolheria independentes de seus erros.

Minha esposa é relativamente parecida comigo, em certas ponderações, porém absolutamente inversa por aceitar o que o destino nos impôs, sem contestações. Por muitas vezes questionei se era necessário mantermos o matrimônio, ela nada disse, por nunca me levar a sério e estanquei nisso. Entendo-a. Assim como também entendo minha estagnação emocional. Se eu mesmo não faço nada para mudar, quem vai fazer? Parece clichê, não é mesmo? E é (risos). No fim, somos escravos das nossas escolhas, e temos que ter maturidade para lidar e arcar com os atos e fatos, afinal, sou adulto não é mesmo? Apesar de muitos discordarem.