Capítulo 2: Entreolhares.

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Equilíbrio. Era a palavra que precisava absorver, não apenas refletir. Conhecer-se... Romper as barreiras de seu temperamento apático e não mais restringir-se tão-somente a sorrisos vazios. Vazio, precisava emergir para vida, que ao seu ver foi furtada por pura covardia em revidar decisões impostas.

Havia uma empolgação incomum acendendo misteriosamente em suas terminações nervosas. Após o longo banho, desceu as escadas e olhou com a visão periférica Elisa parada diante ao modesto bar no canto da ampla sala de estar.

_ Então é isso? – Seu corpo tremia.

Ele parou com os dedos na maçaneta. Pareceu congelar-se e manteve-se inexpressivo por quase um minuto.

_ Vinte anos jogados no lixo? – Insistiu ela no mesmo tom.

_ Nada é em vão, Elisa. – Ponderou, sua língua pesava.

_ Você pode pelo menos olhar para mim? – Berrou tentando dominar o incontrolável.

Ele virou-se devagar. Seus olhos gritavam o que ela infelizmente aguardava escutar, cedo ou tarde, porém esquivava-se criando alternativas para manter o que várias fotos espalhadas ao longo dos moveis da sala representavam: uma mentira.

O silêncio os interligou novamente. Um silêncio sepulcral e demasiadamente dolorido, para ambos, contudo nenhum dos dois cedeu. A postura fria e rígida de Elisa personificou o que os anos fizeram com ela, enquanto ele manteve-se preso dentro de suas frustrações. Palavras não adiantavam mais. O silêncio ecoou o fim anunciado.

Após fechar a porta, Marcos encaminhou-se diretamente para frente da residência, à espera do motorista de aplicativo. Assim, que adentrou, cumprimentou e logo mirou nas belas casas do condomínio e sorriu concluindo algo ainda abstrato. Colocou os dedos diretamente sob os lábios e disfarçou puxando um assunto qualquer.

Assim que chegou a construtora, avançou para a sala de reuniões cumprimentando a todos, e expôs todo seu planejamento nos mínimos detalhes, incansavelmente por sessenta minutos, respondendo a tudo que era questionado.

Henrique, qual cobriu o atraso, foi o primeiro a aplaudir a performance do arquiteto e questionou após o fim, de onde saiu tanta inspiração. O projeto fora aprovado unanimemente pela comissão.

_ Não sei, mas parece que voltei a ser o mesmo aluno do tempo da faculdade. – Relatou empolgado guardando o material em sua mesa. Nostálgico.

_ Tô vendo. Avaliava com um riso frouxo. – O que me deixou um tanto confuso, por que a Elisa me ligou mais cedo extremamente chateada, relatando que você estava jogado no meio quarto. – Riu mais ainda. Ele tinha um humor ácido. – Pensei que ela tivesse acabado contigo, irmão.

Os olhos de Marcos abriram-se como de um adolescente recebendo a primeira habilitação.

_ Bom, acabou, pelo menos com o casamento. – Noticiou relativamente empolgando procurando alguns objetos nas gavetas.

_ Sério? Não acredito! Ela disse isso? – Chocou-se. – E você fala assim?

_ Não sei, não sei como falar. Só sei sentir. – Foi absurdamente verdadeiro. – E o que sinto é meio vago. – Sorriu. – Sei que não deveria estar nessa empolgação moderada, mas cara, é isso. Talvez ela tenha dito o que queria dizer em anos. – Avaliava isso como válido. – Sinto-me um merda por isso, sabe? Por ter aprisionado isso em mim, só que...

_ Acho que você deve ter pensado nos filhos, no que está em jogo. – Ponderou Henrique muito surpreso.

_ Não foi por causa de ninguém, foi exclusivamente por mim. – Deixou claro, até gesticulou. – Sei lá. Deixa pra lá. As palavras não saem.

Além do que se vê... (Em desenvolvimento)On viuen les histories. Descobreix ara