Cinzas

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Eu vi as lágrimas que caíram dos seus olhos, mas você me fez acreditar que eram chuva. Chamei-as, então, de orvalho. O orvalho — oh! Orvalho — que brilha como cristal, que me traz o arco-íris sempre que eu quero, sem precisar pedir. E eu me perguntei por que estavas na chuva, e lhe fiz a pergunta logo em seguida. Me disseste que a chuva era liberdade, riqueza e vida. Chuva, sem fim. Depois, você me ensinou sobre a terra, sobre o ar e — assim que me julgou pronta para tal — contou-me os segredos do céu e, juntos, contamos milhões de estrelas, de mãos dadas, esperando a chuva chegar. Trocamos nosso tempo, e esquecemos do que havia no fogo. Cinzas. As cinzas. Nelas descobri o que era você, e quando chegaste no final, não tive medo. E fui. Você, que me ensinou a não ter medo, e esqueceu de dizer que o medo serve para nos ensinar no que devemos acreditar, e em quem podermos confiar. Não era para ter sido mais fácil para mim. Então, resolvi esquecer de tuas palavras doces. Você, que me ensinou tudo, mas esqueceu de me dizer que eu não podia confiar em você. E esqueceu de me contar que eu pertencia a mim mesma. E deixou que eu me entregasse sem perceber.

Hoje, sou cinzas.

Igual a você.

Olhos de Vidro [COMPLETO]Where stories live. Discover now