Como se apaixonar

251 22 3
                                    

Acordei ainda confiante de que poderia agir normalmente e ao mesmo tempo me aproximar de Yuta sem parecer um doido, mas a certeza morreu um pouco quando de longe o vi conversando e sorrindo muito com outro rapaz. É muito aleatório sentir um ciuminho do nada pelo cara se nem temos nenhum relacionamento? É sim, mas não consegui me impedir. E só piorou quando passei ao seu lado e o cumprimentei e ele mal virou em minha direção, absorto na conversa com o outro. — Que diga-se de passagem era muito bonito e parecia ter a idade muito próxima da minha, além de ser dono de uma carinha muito fofa.
Mas deixei de lado o acontecimento todo da minha pequena crise de ciúme e fui em direção a sala dos professores, que adivinhem só, estava vazia, já que ainda é muito cedo.
Fiquei alguns minutos enrolando sem muito o que fazer ainda, já que era apenas meu segundo dia, até que Yuta apareceu na sala sorrindo como sempre, e veio em minha direção.
O que eu faço da minha vida? Se ele continuar olhando pra mim assim vou me declarar aqui mesmo, e se ele percebeu minha cara de quem foi atropelado a alguns minutos, e perguntar o que houve, não conseguirei mentir, porque afinal quem consegue mentir olhando para um anjo? — Ok, aqui vai eu boiolar e divagar sobre ele de novo.
— Bom dia Mark! Você está bem? Parece meio triste. — me diz já perdendo um pouco da expressão feliz de minutos atrás. Ótimo, ele está preocupado e eu sou o motivo dele não estar sorrindo agora. Aí. Meu. Deus. Vou me cagar todo de vergonha se ele souber o porque da minha cara toda cagada. Por isso faremos o que? Fingiremos demência amiguinhos.
— Nada não, só estou com sono por ter dormido tarde ontem e ter vindo para cá mais cedo que o necessário. Mas e você, como está?
— Estou bem sim, principalmente depois de conversar com o Jeno, que fez aulas aqui e que agora entrou na universidade para cursar música. Ele estava contando sobre Jaemin, que também fez algumas aulas aqui, mas decidiu cursar medicina. Fiquei feliz de saber que não se afastaram depois de Jaemin ter parado as aulas, e que não só mantiveram contato como agora namoram. — Eu já estava genuinamente feliz  com a história do garoto, já que ele parecia muito feliz e muito simpático também, mas meus amigos, descobrir que na verdade ele namora foi a melhor coisa que ouvi hoje. Eu sei. Sou muito besta por achar que eles poderia sei lá estar flertando com Jeno, mas sou meio inseguro as vezes.
Mas agora chega de assunto pesado né? Vamos focar na missão conquistar o crush. E o primeiro passo é qual? Convide-o para sair. E quando farei isso? Agora mesmo.
Mas quando estou prestes a abrir a boca e fazer o convite ele me surpreende dizendo:
— Mark, o que acha de irmos ao parque depois do trabalho hoje? — Ele lê mentes? Como assim me chamou pra sair antes de eu ter coragem de abrir a boca? Não sei se estou mais chocado pela coincidência ou pelo convite em si, e por isso fico com cara de peixe morto, porém feliz até que meu cérebro resolve funcionar o sufoco para que eu responda.
— Acho uma ótima ideia, e inclusive ia convidá-lo agora mesmo, mas você foi mais rápido. — Digo rindo, sem conter as palavras e minha surpresa. E parece que Yuta está agora tão surpreso quanto eu, e ambos ficamos rindo e conversando aleatoriedades até o horário da aula começar.
[...]
O dia foi tranquilo e passou rápido, lembrei de trazer meu almoço, mas ainda assim passei o período de descanso na mesma sala que ontem com Yuta, conversando e descobrindo que tínhamos mais em comum que o gosto pela música. E dessa vez não houveram momentos constrangedores. Não sei se fico feliz ou não, já que não passei nenhuma vergonha, mas ao mesmo tempo também não ganhei bitoquinha. Poxa, será que é possível unir minha não passação de vergonha com uns beijinhos? Seria lindo.
Logo o expediente chega ao fim e saímos juntos rumo ao parque próximo a escola.
E pouco tempo de caminhada até o parque, e mais alguns minutos até encontrarmos um lugar tranquilo, me sinto em um dorama novamente, quando me vejo sentado no gramado sob uma árvore de cerejeira. Sim, estamos na primavera, está um clima agradável, e estou debaixo de uma linda cerejeira em flor com meu crush que conheço a 3 dias. Tem como melhorar? Pois eu digo que sim.
Esse pequeno descanso pós trabalho está sendo muito melhor que o esperado, sinto que mesmo que tenha passado pouco mais de uma hora, poderia dizer que o conheço a anos. Sei que tem duas irmãs e uma cachorrinha que estão no Japão, e que ele mora aqui desde que entrou na universidade. Sei que é doido por takoyaki, o que descobri serem pequenos bolinhos recheados de polvo, e que coleciona brincos, e quando digo que gosta de brincos falo sério, já que outra coisa que só descobri agora é que ele tem 10, isso mesmo 10 furos mas orelhas, que eu não havia visto antes, por dois motivos, um é que eu estava ocupado ficando apaixonado por seu sorriso (a que ponto chegamos, olha a melação que passa na minha cabeça), e o outro motivo mais óbvio é que seus cabelos um pouco longos quase que ocultam todos os brincos que ele usa. O problema dessa informação? É que agora que ele afastou o cabelo das orelhas eu não consigo parar de achar a combinação aparentemente aleatória de brincos linda. Vejam bem, quando eu digo aleatória, não é nem brincadeira, são cores e formatos diferentes, mas que combinam de alguma forma que está me deixando encantado.
Mas enquanto estou fazendo um monólogo interno e sigo encarando-o a nem sei quanto tempo, percebo que ele ficou em silêncio e resolveu me olhar também, o que me deixa inesperadamente tímido, mas ao mesmo tempo incapaz de desviar o olhar. E como se fossemos imãs, nos aproximamos cada vez mais, até que finalmente nossos lábios se tocam, mas diferente da última vez, não se separam imediatamente, e sinto que todos os beijos que já dei na vida — não que tenham sido muitos — foram apenas capazes de provocar uma fração da euforia que me toma agora.
Foi um beijo simples, mas mesmo com o pouco tempo que nos conhecemos, foi carregado de sentimentos, esses que me deixam empolgado, mas ao mesmo tempo assustado com a rapidez dos acontecimentos, já que até ontem eu apenas acreditava que ficaria pelo menos alguns meses apenas o admirando a distância. E como se lesse minha mente, ou apenas sentisse o mesmo que eu no momento, Yuta me tira de meus devaneios dizendo:
— Desculpa se tudo parece estar acontecendo rápido demais, mas senti que precisava externar meus sentimentos. Mas se sentir pelo menos um pouquinho do que estou sentindo agora, espero que possamos nos conhecer melhor e tentar fazer tudo dar certo. — Eu tive vontade de abraçar ele depois de ouvir isso? Sim. Eu o abracei? Sim, porque meus divertidamente são impulsivos e não tem como resistir a carinha que ele fez enquanto falava.
— É claro que eu quero te conhecer melhor e fazer essa relação acontecer e dar certo Yuta! — Respondo ainda o abraçando. Detalhe para o fato que se ele continuar não fazendo menção de me soltar eu vou ficar aqui quietinho até amanhã, porque não tenho vontade de largar não. Muito fofinho pra andar sozinho assim sem ninguém apertando e apreciando como um neném.
Mas como nem todo sonho pode ser real, precisamos voltar para casa, já que ambos tem que preparar algumas coisas para a aula de amanhã, e eu com certeza preciso ligar para meu casal de amigos favorito e contar o que rolou hoje, porque se não contar para ninguém não vou nem dormir.
Nos despedimos com mais uma bitoquinha ao por do sol, ainda debaixo da lindíssima cerejeira, e sim, eu estou me sentindo num dorama escolar clichê (não estou reclamando, pois quem não quer um pouquinho de romance clichê na vida?).
Quando chego em casa ainda não acredito que realmente não estou mais só com um crush que não me notará nunca, afinal o crush já me notou. O CRUSH ME NOTOU. Estou desacreditado. E ainda desacreditado ligo para meus queridos amigos, já que não conseguirei cumprir minhas obrigações para amanhã se não falar com ninguém antes, e adivinha se eles não me deixaram surdo quando contei sobre nosso passeio no parque? E se não estão pensando no nosso casamento e sobre se teremos um cachorro ou um gato de estimação — eu gosto mais de cães, mas adoraria ter um gatinho para por algum nome em referência a Yuta, já que o cabelo longo o faz parecer um leãozinho. Mas eu não disse isso para não dar ainda mais corda para o surto de Tae e Dodo.
E depois da minha sessão de desabafo ao telefone, pego minha pasta para deixar alguns dos planos que montei para as aulas de amanhã, e um pequeno papel cor de rosa cai, e ao ler tenho a certeza que não irei dormir tão cedo, e que meu coração, sem que eu mal me desse conta já tinha um dono, e que aquele era o início de uma paixão.
"Toda vez que eu te vejo é
doce como chocolate"

[] Teachers In Love [²]Where stories live. Discover now