Capítulo I - Labirinto dos Sonhos

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Silêncio mútuo estava instalado no local. O breu absoluto não lhe permitia ver nada. O frio que sentia trazia uma remota sensação de conforto.

Questionou a si mesmo se estava acordado, girando a cabeça para tentar identificar algo em meio ao breu. Abraçou seu corpo com seus próprios braços, tentando reter algum calor. Estaria sonhando?

De súbito, uma fraca luz vermelha se acendeu no que parecia ser um corredor. Seus olhos arderam diante da pobre iluminação, sendo forçado a esfregá-los. Ao se acostumar, focou o olhar naquela direção, a luz vermelha se projetava em uma parede de azulejos perfeitamente simétricos na saída do cômodo em que estava. Diante da luz, um vulto veloz a fez falhar por um instante.

Permaneceu parado no mesmo lugar, não sabia se deveria segui-lo ou não. Analisou o local: uma sala fechada, grande e vazia, sem janelas, com um ar frio e parado. A única saída era a porta que levava ao cômodo seguinte, de onde vinha a pouca luminosidade que se projetava parcialmente a região do vão da porta. Com uma dose de coragem, seguiu na direção da saída do cômodo, ouvindo seus próprios passos ecoando no vazio.

A luz vinha do fim do largo corredor de azulejos brancos, sua fonte parecia ser de uma lanterna virada em sua direção. Em frente à luz, um corpo pequeno fazia uma sombra longa se projetar no chão e nas paredes. Era a silhueta do que parecia ser um animal felpudo, com longas orelhas. Um coelho. Seu pequeno corpo estava curvado para frente, e seu mastigar fazia pequenos ruídos. Olhando-o de costas, contra a luz, não soube dizer o que ele mastigava. O coelho lhe era muito familiar.

- Skipper? - sua voz rouca ecoou no corredor. O coelho virou a cabeça na direção da voz e rosnou ferozmente antes de saltar sobre a lanterna e correr para a escuridão. Seu coelho Skipper geralmente viria em sua direção ao ouvir o chamado. Talvez não fosse ele?

Hesitou em se aproximar. Seu corpo parecia não responder aos seus comandos. Parou em frente à lanterna, fixando o olhar no chão. Uma pequena poça escura se expandia no local em que o coelho estava, e em seu centro havia um pedaço do que parecia ser carne crua e mastigada. Intrigado, agachou diante do pedaço de carne. O cheiro ferroso de sangue roçou em seu nariz. Sua mão moveu-se involuntariamente na direção do pedaço de carne, se aproximando lentamente. Os dedos gelados estavam próximos o suficiente para senti-la pulsar e molhar a ponta de seus dedos com sangue.

Rapidamente se afastou, nauseado. Aquilo seria um coração?

Um coração humano?

Era algo surreal demais para acreditar.

Recolheu a lanterna do chão, evitando levar o olhar ao órgão humano de pulsava fraco sobre o chão. Lançou a luz vermelha na lanterna na direção na qual viera. Não sabia identificar onde aquele corredor largo acabava. Talvez não tivesse um fim. A porta pela qual passou para chegar ao corredor não estava mais ali também. Descrente, estreitou os olhos e ousou voltar alguns passos para ter certeza. A porta havia desaparecido como mágica.

Com a insegurança correndo por suas veias, teve o breve pensamento de que seria melhor continuar seguindo na direção em que o coelho havia desaparecido. Pequenas pegadas com a mesma coloração escura da poça denunciavam o caminho que o coelho seguiu. Pegadas de sangue. Sem mais opções, seguiu na mesma direção.

O silêncio inabalável no local era extremamente incômodo. Odiava o fato da luz vermelha não conseguir iluminar totalmente o local, e até mesmo se perdia em meio ao breu, caso tentasse focá-la muito além das paredes. Cegamente, decidiu que seria melhor seguir as pegadas do coelho, mantendo a luz no chão. Seu coração batia forte.

Após longos minutos silenciosos andando, as pegadas do coelho subitamente desapareceram. Levantou o olhar, junto com a luz da lanterna, deparando-se com uma porta fechada. Aos arredores, não havia sinal algum de que o coelho teria pegado outro caminho. Respirou fundo antes de tocar a maçaneta gelada e girá-la, empurrando a porta pesada.

Coelho BrancoWhere stories live. Discover now