༺ Quatro ༻

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ELA


— Vocês já se conhecem? — Alguém perguntou, mas a voz soou longe e baixa.

Os batimentos do meu coração faziam com que qualquer som além dele fosse quase que ignorado. Eu estava zonza e irritada demais para sequer entender como aquilo tudo foi se desenrolar daquela forma.

Mas, e se ele já soubesse sobre mim? Talvez por isso me tratou com tanta rispidez no bosque.

Estava zombando de mim em seu íntimo.

— Filha, você está bem? Por favor, cumprimente o seu futuro noivo. — Quanto mais mamãe me incitava a fingir, mais eu afundava naquele chão que parecia se abrir sob os meus pés.

Até articulei algo para falar, mas meus lábios tremiam assim como as minhas mãos e antes que eu pudesse cometer um acidente, coloquei minha xícara de café em cima da mesinha que estava na minha frente.

Eu me obriguei a ficar de pé e estender a mão para ele que logo aceitou e a beijou com delicadeza por cima da luva que eu usava, sem tirar os olhos dos meus.

O asco que eu tinha dele me fazia encolher por dentro.

Porque ele estava fazendo aquilo? Como poderia existir alguém tão falso e calhorda como ele?

Aparentemente a selvageria de mais cedo se estendia para dentro de sua alma sórdida.

— Como vai? — Indagou com a voz rouca.

Puxei minha mão com a maior delicadeza que consegui.

— Estou bem. E o senhor?

A minha vontade era de lhe dar uma bofetada e um chute em suas partes baixas, depois ir embora e dar as costas para aquela palhaçada toda, mas mesmo que tudo em mim pedisse isso, eu não podia.

Muitas coisas dependiam de mim. Nas nossas plantações haviam muitos empregados que precisavam dos salários, eles tinham filhos e esposas, sem contar os empregados da casa.
Eu não podia colocar os meus interesses acima da vida de tantas pessoas que não tinham culpa alguma do que estava acontecendo.

— Estou bem. — Ele respondeu ainda me encarando.

Eu não saberia desvendar seu olhar, mas não queria mais ficar pensando nisso, porque a sensação que senti ao vê-lo pela primeira vez ainda estava lá. Fascínio e raiva, tudo meio atrelado.

— Eduardo, sente-se conosco. Ou prefere sair um pouco e mostrar o nosso belo jardim para a sua futura esposa? Tenho certeza de que irá adorar, Cecília. — Dona Antonella disse com um belo sorriso no rosto, olhando-me.

Seus pais não eram más pessoas, muito pelo contrário, mas eu me sentia sufocada ali, tudo parecia se fechar a nossa volta e era como se o ar se tornasse espesso demais.

Forcei-me a olhar para dona Antonella e a abrir um sorriso sincero.

— Jardim? Ah, claro... Como o senhor Eduardo quiser.

Mesmo de costas, eu sabia que mamãe estava radiante.

Mas eu não estava querendo fazer os gostos de ninguém, eu só queria sair dali.

— Então... Podemos ir, senhorita?— Ele perguntou e logo ergueu o braço para que eu me apoiasse nele.

Lentamente pousei minha mão em seu braço como fazia com o papai quando saíamos para visitar as plantações; olhei-o de soslaio e pedi licença a todos antes de irmos.

Eduardo, esse era seu nome no fim das contas, não falou nada e eu também; seguimos por um longo e silencioso corredor que era muito bem decorado com belos quadros e obras; ele então abriu a enorme e pesada porta de entrada e apontou para o caminho que nos levaria até o jardim.

Prometidos - Vol. 1 (nova edição)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora