Capítulo Único

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— Obrigado, Deus, por me oferecer essa oportunidade de ouro, por todas as vezes que eu tentei e falhei, clamando para que um dia eu pudesse abrir os olhos do meu irmão. Mas não tanto, ele já tem os olhos esbugalhados, se abrir demais receio que caía para fora do rosto. Então só preciso dessa chance pra ele ver que eu sempre estive certo, que…

— Hãn? – Jeongguk ainda não conseguia entender a agitação de seu irmão mais velho, e nem o monólogo cansativo e confuso que se iniciou desde que o contou sobre o dentinho que caiu. Ele havia levantado da cama mais cedo naquele dia, e acabou ficando surpreso após escovar os dentes e ver que o que estava mole, caiu na pia junto com a espuma da pasta de dente. E até o dado momento, seu irmão não parava de falar bobagens, e até fez prometê-lo que não contaria aos pais sobre sua recente janelinha adquirida na boca.

— Da outra vez não deu certo porque nossos pais descobriram, mas dessa vez você vai acreditar em mim! – Mordeu o lábio inferior cheinho, franzindo o cenho levemente. Do que Junghyun estava falando?

Depois de mostrar o dentinho de leite com um pouquinho de sangue – só para confirmar que realmente havia caído –, a pedido do irmão, ele não parava de sorrir e falar coisas que o deixava confuso. Mordeu o pãozinho de mel, olhando para a caneca do homem de ferro à sua frente, que estava cheia de leite de banana – o seu preferido.

Como se uma lâmpada acendesse acima de sua cabeça – igual aos desenhos animados que assistia –, o mais novo se agitou, arrancando um pedaço de seu pão e jogando no mais velho para chamar sua atenção.

— Você vai... Roubar minha moeda enquanto eu estiver dormindo? – estreitou os olhos, desconfiado. O irmão negou rapidamente com a cabeça. — Eu sabia! – apontou. — Por isso não quer que a mamãe e o papai saibam! Vai tentar pegar minha moeda pra você!

— Quê?! Tá louco, Ggukie? Eu ganho mesada, pra quê eu vou querer a sua moeda? – O mais novo encolheu os ombros, mesmo com a afirmação de que ele ganhava dinheiro dos pais todo mês, ainda sim estava desconfiado. Não era a primeira vez que Junghyun lhe pedia para omitir de seus pais que seu dente havia caído, na verdade para si, isso apenas deixava as coisas mais suspeitas do que já eram.

— Você é estranho... – murmurou, voltando a beber o leite para terminar o café da manhã. — Prefiro o Tae.

— O Taehyung?! – exclamou incrédulo sobre as palavras do irmão mais novo. — O vizinho? Certeza? Ele é muito esquisito, Ggukie!

Jeongguk acenou, concordando. Sem dar mais nenhuma brecha para o irmão falar, arrastou a cadeira e deixou a caneca dentro da pia. Ainda era muito baixinho para lavar, precisaria pegar um banquinho, mas não estava com vontade e nem disposição para isso no momento.

Voltou para o quarto que infelizmente, ainda dividia com o irmão. Teria que esperar até que seus pais reformassem o quarto de hóspedes para dar um maior à Junghyun, que atualmente era um adolescente no meio da puberdade e teria de ter mais privacidade.

Agachou ao lado da cama, puxando de baixo dela o seu cofrinho. Pegou com uma das mãos e conferiu o peso, poderia ser estranho, mas Jeongguk sabia exatamente quantas moedas tinham ali dentro e o quanto todas elas juntas pesavam. Descobriu que tinha uma memória muito boa quando, um dia, resolveu conferir seu cofrinho – em formato de porquinho – e notou que faltavam algumas moedas de quinhentos wons. Achou que era mais uma de suas paranóias, mas o peso não era o mesmo e depois de contar todas e realmente dar falta de algumas, interrogou o irmão. A princípio, ele não quis se entregar, mas ameaçou contar aos pais e ele confessou, devolvendo-lhe suas moedas quando recebeu a mesada do mês. Depois daquele dia, Junghyun nunca mais mexeu no seu cofrinho.

Sorriu com a lembrança. Seu irmão era um boboca, mas ainda assim era seu irmão.

— Então, Ggukie… – O mais velho apareceu na soleira da porta. — O que o Taehyung tem que eu não tenho?!

A Fada do Dente (Não) Existe | taekookWhere stories live. Discover now