Botão de desligar

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- Essa é a coisa mais estúpida que eu já ouvi - ela soltou uma risadinha. - Sua palavra não está em jogo aqui, você quer me ajudar por livre e espontânea vontade. Admita!

Ele virou o rosto, sentindo as bochechas ruborizarem.

- Você ta falando merda.

Ela riu mais uma vez, mas não rebateu. Ficou em silêncio até chegarem ao ginásio, que era enorme. Observou os detalhes, impressionada.

- É aqui que você treina?

- Sim - ele foi monossilábico, guiando-a até a parte de trás do ginásio. Ela supôs que ali fosse onde ele gostava de ficar, já que o local tinha algumas marcas fracas de explosões, principalmente perto das paredes.

Sem dizer nada, ele se afastou, deixando-a admirar o local por mais alguns instantes. Voltou com um balde cheio d'água, que ela sinceramente não fazia ideia de onde tinha vindo.

- Você é muito dependente das luvas - explicou o garoto ao ver sua cara de confusão, depositando o balde em sua frente. - Você se condicionou a pensar que não consegue desligar sua individualidade sozinha, que só as luvas conseguem te ajudar. Quando sua individualidade surgiu, você se machucou, não foi?

- Sim - respondeu, baixinho, sem reação ao vê-lo segurar suas mãos e retirar suas luvas. Os dedos longos permaneceram por alguns segundos em cima de suas cicatrizes, esquentando suas palmas geladas, e ela conteve o impulso de esconder as mãos atrás das costas.

- É normal negar sua individualidade nos primeiros anos. Muita gente não sabe controlar e acaba se machucando, o que cria uma visão negativa do poder, mas você ainda está em fase de negação. Você colocou na sua cabeça que sua individualidade é incompatível com seu corpo, e tem medo de usá-la - Bakugou soltou as mãos dela rapidamente, notando só agora que estava segurando a garota por tempo demais.

Ela estava impressionada demais para dizer alguma coisa. Sempre tinha visto Bakugou gritando pelos cantos e não sabia que ele era capaz de dizer frases longas sem soltar um palavrão. O garoto explicava suas observações de maneira calma, paciente, quase como um professor.

Totalmente diferente do Bakugou que ela esperava.

- Agora a gente vai deixar essa merda longe - ele arremessou suas luvas para o outro lado do ginásio sem cuidado algum. - E você vai se concentrar em apagar essa droga sozinha.

Esse era o Bakugou que ela esperava.

Reprimindo um sorrisinho, ela assentiu. Afastando-se um pouco dele, fechou os olhos e forçou suas mãos a esquentarem. O nervosismo fez suas palmas suarem e ela imaginou o fogo se acendendo, bem pequeno, na ponta de seus dedos.

- Consegue controlar a intensidade? - Bakugou perguntou, notando que uma chama quase tímida se projetava levemente nos dedos de [Nome], totalmente o contrário do fogo descontrolado que ele tinha visto outro dia no laboratório.

Ao ouvir a voz do garoto, mais perto do que ela esperava, [Nome] abriu os olhos, assustada, e o fogo se espalhou por suas mãos em um segundo.

- Só se eu estiver totalmente concentrada - respondeu, envergonhada, lutando para não entrar em pânico. Ainda não sentia dor, mas era só questão de tempo para que sua pele começasse a queimar.

- Então se concentre de novo - exigiu, cruzando os braços. - Imagine o fogo diminuindo.

Ela tentou, realmente tentou, mas só conseguia pensar que se não apagasse logo, iria se queimar. Não conseguia visualizar um botão de desligar; era como se houvesse apenas um interruptor que acendesse, mas não apagasse. Seu medo causou o efeito contrário ao que Bakugou pedira, e logo as chamas estavam ainda maiores.

Sem dizer nada, ele empurrou o balde d'água com o pé, aproximando-o dela. [Nome] mergulhou as mãos na água e o fogo se apagou imediatamente, o que a fez suspirar de alívio.

Bakugou a encarou por alguns instantes, deixando-a constrangida.

- Eu não consigo. O fogo só aumenta, não diminui - murmurou, com medo de tirar as mãos da água e sentir o fogo se alastrando novamente.

Ele estreitou os olhos levemente, parecendo pensar em algo. Depois, ergueu as mãos e fez algumas explosões leves em suas palmas. Foram tão fracas que quase não podiam ser vistas.

- As luvas que você projetou me ajudam a usar minha individualidade sem me machucar. Elas concentram melhor a nitroglicerina que sai das minhas palmas e permitem que eu use apenas o que acho necessário, me ajudando a controlar a intensidade sem me exceder. Mas eu não posso depender delas se quiser me tornar um verdadeiro herói. Em alguma emergência, posso estar sem meu equipamento completo - explicou, virando uma das mãos para trás e explodindo com mais intensidade a parede ao lado deles. O barulho foi alto e o concreto ficou chamuscado. - Para mim é natural, agora, mas isso acontece porque eu sempre usei minha individualidade, e ela evoluiu junto comigo. Você precisa começar a pensar no fogo como parte de você, e não como uma maldição.

O queixo de [Nome] estava no chão. Ficou em silêncio por tanto tempo, tentando processar o que Bakugou tinha dito, que ele começou a perder a paciência, franzindo o cenho e contorcendo o rosto em sua carranca usual.

- Eu vou tentar de novo! - concluiu ela, por fim, sorrindo na direção dele. Sentindo o coração palpitar e as mãos suarem de nervosismo, [Nome] imaginou as chamas se acendendo em sua palma, depois se espalhando para o resto de suas mãos, mas sem exceder os limites que seu corpo suportava. O esforço foi tanto para se concentrar que o suor escorria pela sua nuca, mas depois de um minuto o fogo continuava do jeitinho que ela tinha imaginado, sem esquentar demais ou aumentar descontroladamente. - Tá dando certo!

Ela sorriu ainda mais largo, olhando para ele com os olhos brilhantes de empolgação. E então Bakugou a surpreendeu ainda mais. Ele sorriu de volta.

O sorriso foi pequeno, fechado e apenas o repuxar de um lado dos lábios. Mas ele ficou tão incrivelmente bonito sorrindo, sem as linhas de expressão raivosas marcando seu rosto, que ela perdeu o ar, sem conseguir pensar em mais nada além daquele sorriso. Automaticamente, suas chamas diminuíram sem que ela percebesse, até se apagarem por completo.

Ele arregalou os olhos em sua direção.

- Você conseguiu apagar!

Completamente abismada, ela não soube o que dizer.

Parece que tinha encontrado seu botão de desligar, afinal.

-x-

Eu gostaria que vocês, se possível, comentassem o que estão achando pra eu saber se estou seguindo na direção certa :)

O próximo capítulo já é o último!

Crush - Imagine Bakugou KatsukiWhere stories live. Discover now