Capítulo 1: Monterey e suas esquisitices

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Mamãe me deu um beijo na bochecha quando o carro parou em frente ao colégio. Olhando pela janela descobri uma construção que devia ter, sei lá, mil anos. Com aquelas colunas grossas e as escada¬rias, parecia ter saído de um livro de história. Naquele momento tive medo de não me adaptar àquela escola. Temi que meu futuro por ali fosse uma desgraça. 

§ 

O sino que marca a hora da entrada dos alunos tocou, e logo aquelas escadas ficaram totalmente vazias. Eu fiquei lá com cara de boba, ainda me acostumando com a ideia de que era só o primeiro dia de uma rotina que eu teria que seguir por um ano inteirinho. Subi as escadas apressadamente e fui me espremendo entre aquele bando de calouros animados por estarem indo para o ensino médio (ah, coitados) e aquele bando de secundaristas e veteranos felizes por estarem encontrando os amigos após o período de férias. Uma pena que eu não tivesse nenhum amigo para reencontrar. Com um pou¬co de dificuldade, consegui chegar a uma porta que dizia Diretoria, onde eu bati delicadamente. 

–– Pode entrar. 

— Olá –– levantei minha mão, numa espécie de aceno –– Eu sou Julie, a aluna nova. 

A pessoa atrás do balcão abaixou os papéis que estavam tampan¬do seu rosto. De repente, uma senhora baixinha de cabelos ruivos muito encaracolados, usando um vestido justo demais para alguém da idade dela, chegou perto de mim.

— Olá Julie! –– ela disse animada. Reparei que ela batia no meu ombro, no máximo. –– É ótimo ter você como uma de nossas alunas. Espero que você se sinta à vontade. 

— Claro –– disse, tentando parecer simpática –– Então, a senho¬ra tem meu horário ou algo do tipo? 

— Ah, é claro –– ela disse totalmente avoada, mexendo em uns papéis sobre a mesa –– Aqui está.

Eu olhei para o papel que ela havia me dado: meu horário, junta¬mente com o número das salas e o número e a senha do meu armário.

— Muito obrigada –– eu disse, já saindo da sala.

— Julie! –– ela chamou antes que eu pudesse por um pé para fora. –– Quero que saiba que qualquer problema, é só você falar comigo. Meu nome é Carolina Markanders. Todo mundo me chama de Senho¬rita Markanders, mas você pode me chamar de Carol. 

CAROL? Que lugar estranho, meu Deus.

— Claro, Senhorita Markanders –– eu disse totalmente aboba¬lhada. Ela me olhou semicerrando os olhos. –– Quero dizer, Carol. 

— Como estava Nova York? –– ela disse se sentando de novo. –– Sabe, eu realmente adoro Nova York!

— Não há nada como a temperatura da Califórnia, não é mesmo? –– eu respondi ainda tentando ser simpática, enquanto saia de lá an¬tes que ela fizesse alguma outra pergunta inadequada.

Andei o mais rápido que eu pude, o que não era muito, levando em consideração que eu não sou exatamente atlética. Fui procurando meu armário quase que totalmente perdida e reparei que os corredo¬res estavam bem mais vazios. Imaginei que todo mundo já devia estar nas salas e que eu ia chegar atrasada logo no primeiro dia. Que ótima maneira de começar um ano novo, Julie, parabéns! 

Finalmente achei o número 214 e comecei a girar a combinação que estava anotada no papel. Quando o armário abriu enfiei minha mochila toda lá dentro e conferi no meu horário qual livro eu iria precisar primeiramente. Não que eu acreditasse que algum professor fosse realmente dar aula no primeiro dia de aula, mas de qualquer forma queria estar preparada. Tirei todos os livros da minha mochila e coloquei no armário, deixando na mochila apenas o de Física, o meu estojo e um caderno. Mais um sinal soou. Acreditei ser o do começo da primeira aula. Bati a porta do armário com força e me virei para começar a andar em direção à sala 5, seja lá onde ela ficasse. Foi quando eu vi que alguém bloqueava meu caminho. E esse alguém era um garoto. Lindo de uma forma totalmente perturbadora. E ele estava olhando para mim, mais exatamente para meus sapatos. Para meus All Stars pretos surrados! Socorro! 

Mocassins e All Stars (PRÉVIA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora