Nada. Nenhuma notícia sobre Lua Azul, não importa quantas páginas eu passe. Qual é o problema dessa cidade?

E Vanessa não falou nada.

Levanto a cabeça. Ela está me encarando e não sei o que é essa expressão.

— O que foi? — Pergunto.

— Você viu um homem-cobra — ela fala.

Dou de ombros. Achei que já tinha falado isso antes, mas talvez só tenha comentado sobre ele com Rafaela. E pela cara de Vanessa... Talvez eu nem devesse ter mencionado isso para ela.

— Uhum.

Ela assente devagar. Pelo menos ainda não me chamou de louca. Se bem que... Se ela sabe o que acontece na mata, deveria saber sobre ele, não?

— E o que você achou sobre isso aí? — Vanessa pergunta.

Achei o que sobre o quê?

Ah.

Viro o notebook para ela.

— Estou procurando notícias sobre a cidade. Não vou pesquisar sobre um homem-cobra. Para quê?

Ela dá de ombros.

— Sei lá. Se tem alguém estudando algo assim?

Oi?

— Para quê?

Vanessa olha para a panela de novo, mas continua parada no mesmo lugar.

— Você não vai fazer nada?

Suspiro e viro o notebook de volta para mim.

— Fazer o quê? Eu que não vou fazer nada. No máximo, estou pensando se vale a pena beber até achar que imaginei isso tudo, juntar as coisas e voltar para a casa da minha mãe. Não sei nem por que estou contando isso para você.

Especialmente depois que ela se recusou a me contar o que sabe.

— Porque quer que alguém te diga que o que você viu foi real, mesmo que você não esteja duvidando — Nero fala.

Me viro para a porta de uma vez. Quando foi que ele entrou aqui? Ugh. Se eu soubesse que ele estava ouvindo com certeza não ia ter falado nada – e pelo visto ele ouviu a maior parte do que falei, senão não teria nem entendido o assunto.

Vanessa suspira.

— Nero...

Ele dá de ombros, sem sair do lugar.

— Você já decidiu contar. Só estou criando um atalho para a conversa toda, porque Daiane não vai confiar em você depois do que falou ontem.

Oi? Não que ele esteja errado, mas... Como?

— Do que eu... — Vanessa começa. — Ah. O que falei sobre não contar o que acontece na floresta.

Me contar o que acontece na floresta. Certo.

— Se você quer me contar alguma coisa agora só porque ele falou alguma coisa sobre poder me contar, prefiro nem saber.

Porque não quero nunca ser a pessoa que só tem alguma coisa por causa da permissão de alguém. Se ela quisesse me contar, que contasse, só isso.

Vanessa e Nero olham para mim e ela balança a cabeça com força.

— Quê? Não, Alessio não falou nada.

Alessio. Então esse é o nome dele.

E não sei por que eu estou me sentindo mal por descobrir isso através de Vanessa. Eu não quis perguntar, antes. Só isso. Não devia estar achando ruim que ele não tenha me contado seu nome.

Fecho o navegador e desligo o notebook. Nunca pensei que fosse falar isso, mas minha fome acabou de desaparecer, mesmo com o cheiro de comida que está aqui.

— Se ele não falou nada, então de onde que veio isso de já ter decidido contar?

Vanessa suspira e olha ao redor. Olha só, não tem resposta. Ugh.

— Podem parar de esconder.

Oi? Com quem ela está falando?

Alguma coisa cai atrás de mim. Me viro de uma vez e vejo a porta de um dos armários bater. Estranho. Não era para ela estar fechada? E o vento não ia ser o suficiente para abrir nenhum desses armários.

Nero ri em voz baixa. Olho para ele, que está me encarando como se esperasse alguma coisa. Loucos, todos eles. Só isso.

Me viro para Vanessa de novo. Ela se sentou na minha frente e está olhando para mim com as sobrancelhas levantadas.

Espera. Mas ela não estava vigiando a comida no fogão?

Okay, tem uma colher mexendo o feijão, então acho que ela não precisa vigiar nada...

Como assim tem uma colher mexendo o feijão sem nada segurando ela?

— Os pequenos são tímidos — Vanessa fala. — É normal não deixarem ninguém ver eles.

Balanço a cabeça.

— O quê?

Tenho a impressão de que ouvi uma risada – ou várias risadas juntas – mas não tem mais ninguém aqui além de nós três. Ou tem?

Olho ao redor de novo. Não tem ninguém aqui. Mas alguém colocou uma tigela de vidro em cima da bancada da parede e encheu de farinha ou coisa assim, porque não tinha nada ali mais cedo. E... Algo está picando cebola, do outro lado da cozinha.

O que é que está acontecendo aqui? Onde é que eu fui me meter?

Nero ri de novo.

— Mostre para ela, Vanessa. Eu ligo para Rafaela.

Mostrar o quê?

Olho para Nero. Mas não é ele. Quer dizer, é. Mas não é. Tem alguma coisa de diferente que ele não parece a mesma pessoa que sempre vi aqui e... Foi impressão minha ou um pedaço do braço dele desapareceu e apareceu de novo?

— Dai? — Vanessa chama, parada na porta que dá para o quintal.

Tá. Okay. Eu queria saber, não queria?

Respiro fundo e vou atrás dela.

Água e Fúria (Entre os Véus 2) - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now