Capítulo 11: A Chuva

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— Você sabe que isso é tudo culpa sua, né? — Giovani disse ao acabar de discursar nebulosamente sobre seus sentimentos.

— Culpa de quê?

— O Rodrigo ter voltado a falar comigo, o Lorenzo estar saindo com essa menina... Ele me disse que vocês conversaram na festa, que você deu umas dicas pra ele e tal. Você não me contou isso.

— Hm, eu não diria que "dei dicas"; eu só sugeri que ele deixasse a Helô de lado um pouco, que, se ela 'tivesse mesmo a fim, uma hora ela viria falar com ele.

— E pelo visto funcionou. E agora ele te adora.

— Me adora? — Fernando franziu o cenho e encolheu as sobrancelhas.

— É. Disse ele—em segredo, claro, ele nem sonha que eu tô te contando isso e ele também nunca admitiria—; disse ele que, se não fosse você, ele não teria conseguido ficar com ela nunca.

— Eu não acho. Eu posso ter dado um empurrãozinho, mas...

— Bobagem. O Lorenzo sempre foi péssimo com as meninas, ele tava precisando de umas aulas. Mas ele te adora há muito tempo, desde aquele trabalho de Biologia que você fez pra ele. Ele já até me falou pra jogar aquela foto fora e te deixar em paz, acredita?

Enquanto essa parte da conversa acontecia, ele chegou. Tocou a campainha duas vezes, como sempre fazia, e esperou Giovani, que sinalizou para que Fernando encerrasse o assunto, ir recebê-lo. Estava com a mochila escolar nas costas, cabelo penteado, sorrindo, ainda mais lindo agora que estava todo todo. Quando viu Fernando, tentou vestir a máscara de bad boy, mas não durou muito: era difícil fingir detestar o responsável por sua alegria. Cumprimentou-o com um aperto de mão, coisa que nunca fazia. Essa era sua maneira de demonstrar afeto e gratidão, decerto.

A verdade era que Fernando já estava afeiçoado àqueles dois, e agora a ideia de que um dia a chantagem acabaria trazia certa apreensão, porque... o que viria depois? Se, por qualquer motivo, Giovani deixasse para lá a ideia de tirar Fernando do armário para os pais, os três perderiam o estranho vínculo que construíram, pois o vínculo era essencialmente a chantagem, o testemunho, o segredo. Quando isso acabasse, todo o resto acabaria junto. As tardes de estudo, as conversas absurdas entre Lorenzo e Giovani, as investidas sexuais misteriosas de Giovani... Tudo a perder; tudo a ponto de Fernando não saber ao certo se queria que a chantagem não existisse mais.

— Já comeu ela? — Giovani perguntou, quando já tinha cansado de estudar e voltado às suas palavras cruzadas.

— Não... Mas acho que vai rolar, cara.

— Ih, vai perder o cabacinho...! — o amigo cantarolou. — Você é virgem, fru?

Pareceu que todos os olhos do mundo se viraram para Fernando, que não esperava que o assunto fosse se voltar contra si. Tanto Giovani quanto Lorenzo pararam o que estavam fazendo para ouvir a resposta.

— ...Sou.

Os dois pares de sobrancelhas se ergueram, como se esperassem tudo de Fernando, menos que ele fosse virgem.

Lorenzo não disse nada, apenas desfez o olhar e continuou anotando o que estava anotando. Giovani, porém, demorou alguns segundos analisando Fernando, sorrindo de lado, maquinando.

— Quando? — dirigindo-se a Lorenzo, voltando ao assunto anterior.

— Não sei. A gente só ficou desse jeito uma vez, né, mas... o negócio foi intenso.

— Teve mão boba?

— Teve... Minha e dela.

— Dá-lhe, Lorenzete! — Giovani atirou uma bolinha de papel do sofá, mas errou a mira e acabou derrubando um copo vazio sobre a mesa. — Já agradeceu o Fê?

De Volta ao Santa Luz (romance gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora