Power rangers: Homecoming

Capítulo 1 - De volta para casa

O ônibus da silver bullet parou em frente à pequena estação rodoviária. Era um dia quente de verão e o sol da manhã anunciava mais um dia perfeito, com poucas nuvens brancas adornando o céu. Chamar aquele pequeno espaço coberto com um antiquado telhado ondulado de folhas de alumínio rebitado, onde mal cabiam quatro ônibus de "rodoviária" parecia ser uma piada que nunca perdeu a graça. A única diferença era uma placa com cores saídas direto dos loucos anos 90: Bem vindo à Alameda dos Anjos – a terra dos Power Rangers.

Apenas um passageiro desceu. Era um homem feito, vestindo calças sociais cor de caqui, camisa azul marinho gola polo, uma jaqueta de couro bastante gasta. Carregava apenas uma mochila pequena, que não aprecia adequada a viagens longas. A cabeça já mostrava alguns fios acinzentados e a calvície parecia que estava ganhando a guerra contra os seus cabelos castanhos.

- Não mudou nada em quase 25 anos... – Ele olhou em volta, por trás dos óculos de grau redondos, comentando para si mesmo. De fato, a rodoviária estava do mesmo jeito quando ele a deixou para ir ao encontro do seu amor em Aquitar.

O homem apressou-se para travessar a cidade. Tinha muito que andar até chegar à casa da sua avó. A simples ideia de rever a vovó Cranston lhe trouxe um sorriso ao rosto. Já podia sentir o gosto da torta de maça. Queria ter vindo antes, mas como sempre o dever o impedia. Seja na terra, seja ao lado de sua amada Cestria. O dever. A voz de Zordon ecoou na sua mente mais uma vez: "Vocês foram muito além do dever e salvaram seu mundo de um destino terrível. O mundo tem muita sorte em ter vocês, e eu também."

Ele atravessou rapidamente em direção ao parque Memorial Prefeito Ernie Genelle. O nome o espantou um pouco. Lembrava quando Ernie passou o Juice Bar para um conhecido, quando se mudou para oferecer ajuda humanitária na América do sul. Não sabia que tinha voltado a Alameda dos Anjos e nem que tinha sido eleito prefeito. Uma rápida busca no seu celular mostrou ainda mais coisas: Ernie perdeu peso e por dois mandatos seguidos foi o melhor prefeito que a cidade já viu. Quando ele morreu, em 2008, o vereador Jerome Stone pediu que mudassem o nome do parque memorial Lincoln para parque Memorial Prefeito Ernie Genelle. Billy achou que tinha sido a coisa certa a fazer e se ressentiu por não ter estado ao lado de Ernie – e de tantos outros que precisaram dele nos anos em que ele esteve fora.

Outra surpresa no caminho: bem no centro parque tinham erguido uma imagem de mármore com a figura dos power rangers originais. Eram todas em tamanho natural e feitas com fidedignidade impressionante. A placa dizia: "Em homenagem aos nossos grandes heróis". Naquela hora do dia percebeu que alguns turistas atravessavam o parque, munidos de câmera e celulares. Quantas vezes ele lutara naquele mesmo parque gramado? Bem ali naquela árvore ele enfrentou os bonecos de massa pela primeira vez. Estava tudo tão vívido na sua cabeça que ele mal percebeu quando deixou o parque e se deu conta que estava quase de frente à sua antiga escola.

O prédio não parecia ter mudado nada. Pelo lado de fora ainda estava tudo como sempre foi... bem, um pouco mais gasto e com novas camadas de tinta nas paredes, quem sabe com algumas árvores a menos, mas essencialmente estava tudo lá.

- Cranston? William Cranston?

A voz veio do estacionamento dos professores, de onde uma senhora vestindo um folgado conjunto combinando casaquinho e saia branca, carregando um i-pad nos braços apressava-se na direção do jovem. Billy olhou para a figura sem reconhecê-la de imediato.

- Não me diga que já se esqueceu de mim... – Disse a professora com uma nota de dengo na voz. Billy espremeu os olhos e percebeu... Era a senhorita Appleby, sua professora dos tempos de escola!

- Senhorita Appleby! – Disse Billy, abrindo um largo sorriso. Os anos tinham sido tão gentis quanto podiam com a senhorita Appleby: ela ainda estava acima do peso, e os cabelos já estavam todos cinzentos, apesar dela manter o mesmo penteado.

- Senhora Appleby... – Corrigiu ela, mostrando o anel de casamento. – Mas veja como você cresceu. Parece que foi ontem que você e seus amigos deixaram Alameda dos Anjos para conquistar o mundo!

- Obrigado Senhora Appleby... – Corrigiu-se Billy. – Mas a senhora ainda dá aulas aqui?

- É meu último ano, querido. No fim do ano eu me aposento. Com tudo o que tenho direito. Vou me mudar pala a Flórida. Curtir a vida, como os jovens dizem. Muitos da minha época não chegaram até aqui, sabe? Aqueles anos loucos, com Rita Repulsa e Lorde Zed atacando a cidade... Eu acho que somos todos sobreviventes. Você tem notícias dos outros? Zack, Trinny, Kimberly? Ouvi dizer que aquele rapaz, Jason, entrou para o governo. Acho que está morando em Coral Harbor. Sabe o Tommy? Virou Doutor. Doutor Oliver, professor em Reefside!

- Foi mesmo? Fico muito feliz em saber... – Disse Billy, tentando desconversar. Ainda estava longe da casa da avó e queria chegar o quanto antes. – Mas... a senhora não tem aula agora?

- Oh querido... Isso mesmo. Obrigado por lembrar. Se eu não vir você de novo, quero desejar que tenha um futuro brilhante. – Disse a antiga professora apertando Billy num caloroso abraço.

Os dois se afastaram e quando Billy já estava a uns dez passos de distância ouviu a professora chamar seu nome. Ele se virou e viu que ela esse esforçava para fazer uma pose. Ela estava curvada para frente, com os braços dobrados para frente, como se imitasse chifres de um triceratops. Ele sorriu em cumplicidade e seguiu seu caminho.

Billy deixou a escola para trás e seguiu pela estrada. A casa da avó estava a pouco mais de quinze minutos de caminhada – se nada mais desse errado.