Concern

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   —Eu surtei de novo, não surtei? – Foram as primeiras palavras de WangJi ao abrir os olhos e encontrar seu irmão deitado ao seu lado, mexendo no celular. Não era a coisa mais comum do mundo acordar e dar de cara com ele ali.

   —Não fale assim. – XiChen repreendeu, se sentando na cama e observando o irmão fazer o mesmo. – Como você está?

   —Minha cabeça está doendo. – WangJi resmungou, se esticando para alcançar o celular em cima do criado mudo. – São nove horas, por que não me acordou?

   —Você demorou para dormir, então por que eu te acordaria? XingChen está tomando conta da empresa, se é isso que te preocupa. – XiChen se levantou, indo em direção a porta. – Vou preparar o café da manhã, se o Sizhui ainda não preparou, e pedir para ele te trazer um analgésico.

   WangJi acenou positivamente, sem olhar para o irmão. Começou a checar algumas coisas no celular, mandando mensagem para XingChen perguntando se ele precisava de ajuda na empresa e avisando que voltaria depois do almoço. Se ficasse em casa provavelmente ficaria com a mente mais cheia ainda.

   Após um pequeno tour pelas redes sociais, decidiu tomar um banho para acordar direito e relaxar o corpo. Não queria pensar no ocorrido da noite anterior, até porque não se lembrava exatamente do que havia acontecido durante seu surto. Nunca se lembrava. O banho se estendeu por mais tempo do que o normal e quando saiu deu de cara com Sizhui sentado na cama, que provavelmente havia acabado de arrumar.

   —Trouxe o remédio. – Informou, estendendo um copo com água e uma cartela de comprimidos.

   —Obrigado. – WangJi sorriu fraco, se sentando ao lado dele. – Você me viu surtando na noite passada, não viu?

   —Não chame de surto. – Sizhui repreendeu, soando um pouco como XiChen. – E sim, eu estava aqui, queria ficar perto de você. Eu não podia ajudar, mas mesmo assim...

   Os dois ficaram em silêncio por algum tempo, antes de Sizhui colocar o copo e a cartela de comprimidos sobre a mesa de cabeceira e abraçar o pai. WangJi levou alguns segundos para processar a ação repentina, mas logo retribuiu o abraço enquanto fazia carinho nas costas do filho. Sabia que o garoto se preocupava, mas não queria que fosse daquele jeito, não queria que Sizhui se prendesse tanto a ele, aos seus problemas. Afinal, toda a situação da noite anterior era problema dele.

   Aquele era um dos poucos momentos em que Sizhui permitia-se se comportar da mesma maneira infantil de quando foi adotado. Quando não sabia que palavras usar, apenas abraçava a pessoa ou agarrava sua perna. Havia um bom tempo que ele não fazia aquilo.

   —Pai...

   —Hm?

   —Você quer que eu cancele a viagem? – Sizhui se afastou um pouco para poder olhar WangJi nos olhos. – Eu sei que isso te preocupou desde o início e... 

   —Você pode ir.

   —Mas...

   —Sizhui, não é a primeira vez que acontece e eu vou ficar bem. – Tentou tranquilizar. – São só duas semanas. Eu sobrevivo sem você... eu acho.

   Sizhui sorriu fraco, abraçando o pai de lado. Queria mesmo acreditar que WangJi não ficaria preocupado com ele indo para o lugar onde tudo tinha acontecido, mas não conseguia. Podia não ser tão observador quanto seu tio, mas sabia que o pai não iria sossegar enquanto ele não voltasse para casa. Novamente, se viu prestes a desistir da viagem.

   Era quase meio dia quando Sizhui finalmente deixou a casa, indo em direção ao shopping no qual encontraria JingYi e ZiZhen para comprarem as coisas da viagem. Xichen e WangJi seguiram para a empresa da família, o que deixou o garoto mais a vontade para sair.

   —Não quer mesmo ir com a gente? – JingYi perguntou enquanto olhava o preço de um carregador portátil.

   —Não... – ZiZhen sorriu fraco, olhando os fones de ouvido. – Yaling chega amanhã e eu quero ir com o ZeWu-Jun buscar ela no aeroporto.

   —A-Ling já vai voltar? Achei que fosse ficar ao menos mais uma semana lá. – Sizhui franziu o cenho, dando passagem para um dos clientes daquela loja. 

   —ZeWu-Jun chamou ela.

   —Eles são bastante próximos, né? – JingYi parou para olhar os dois amigos. – Já viram quando os dois estão no mesmo ambiente? Eles agem como se fossem da mesma família.

   —Ela não é minha prima, se é o que vocês querem saber. – Sizhui brincou pegando um travesseiro cervical e checando o preço. – Yaling é uma pessoa agradável, meu pai também gosta dela.

   —Falando no seu pai, ele não vai te proibir de ir comigo né? – Perguntou JingYi, enquanto os três seguiam em direção ao caixa.

   —Eu perguntei isso para ele hoje de manhã. – Sizhui suspirou de maneira triste. – Sei o quanto isso o preocupa, mas ele disse que eu podia ir.

   —E você continua preocupado...– ZiZhen constatou recebendo um aceno positivo em resposta. – Vamos ficar de olho nele para você. Isso sem contar que ZeWu-Jun e Xiao XingChen nunca deixam ele sozinho.

   —Saber disso me deixa um pouco mais tranquilo.

   —Última chance para você desistir. – JingYi alertou, colocando as coisas que havia escolhido em cima do balcão do caixa. – Não quero te obrigar a nada.

   —Não vou desistir. – Sizhui respondeu com determinação. – Eu quero ir, só... me preocupo com ele.

   O assunto se encerrou por ali e logo os três estavam fora da loja com algumas sacolas em mãos, falando sobre coisas para fazer no Caribe e como JingYi era estranho de querer ir justo para uma cidade universitária fantasma.

Living MemoriesWhere stories live. Discover now