Fullness.

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É cedo. Há um estado de semi-consciência nela que faz com que ela afirme isso. É cedo. E suas manhãs não são completas e muito menos manhãs – de fato – sem uma dose exagerada de cafeína. Nunca fora alguém que apreciava as primeiras horas de raios solares e simplesmente não suportava – nem confiava – em pessoas felizes e saltitantes logo cedo. Apertou as pálpebras com mais força como se estivesse ordenando o corpo a voltar ao estado sublime de inconsciência do sono. Inútil. Conseguia ouvir as engrenagens do seu cérebro acelerando e se esforçando para torná-la alerta, e querendo ou não, admitiu a derrota de estar acordada tão cedo.

                À medida que a consciência ia se apoderando do seu corpo, ela foi notando pequenas nuances. Diferenças. Não era uma manhã qualquer. Estava dolorida, constatou ao sobrar umas das pernas debaixo do edredom. Era uma dor familiar. Abriu os olhos e ajustou-se a claridade do ambiente. As cortinas faziam um péssimo trabalho de impedir os raios solares, mas ao mesmo tempo o quarto transparecia uma sensação aconchegante. E conhecia aquele quarto. Dormira naquele quarto diversas vezes. Suspirou sentindo todo o seu mau-humor esvair-se e dando lugar ao contentamento.

                Sentia-se contente.

                Para alguém completamente avessa às manhãs, sentir-se contente antes das oito da matina era um progresso. E sem adição de cafeína!

                Aos poucos os acontecimentos das últimas vinte e quatro horas foram sendo repassados entre as engrenagens da sua mente. Naquele instante ela se permitiu afirmar de que o seu final de semana fora uma verdadeira montanha-russa de emoções. Um simples Festival da Cereja no interior tornou-se uma seita de malucos com direito a sacrifícios humanos. E também trouxe uma nova perspectiva sobre a relação deles.

                As cartas estavam na mesa. Ela sabia. Ele confiou e confessou. A confiança sempre esteve presente, conseguia entender agora. Esse nunca fora o ponto crucial que o impediu de confessar antes. Tudo girava em torno de experiências passadas e terrivelmente traumáticas para ele, o que fez com que o mesmo se fechasse ainda mais a fim de evitar decepções e cobranças. Sentiu o seu coração comprimir um pouco ao imaginar o quanto deve ter sido solitário viver e crescer assim. De forma inconsciente ela tateou a mão que a segurava pela cintura e apertou de leve, sentiu-se desesperada para trazer algum conforto para o homem que dormia pacífico logo atrás dela.

                Virou-se no colchão ficando de frente com aquele que ocupava seus pensamentos naquela manhã ensolarada da capital do milho. Clark mantinha sua respiração compassada, leve, serena e tranqüila. As madeixas negras, sempre tão aprumadas e bem penteadas, agora apontavam para todas as direções. Um braço esticado e firmemente escorado na sua cintura, debaixo do edredom, enquanto o outro braço servia de apoio para a cabeça. Isso tinha virado um hábito, Lois não deixou de notar. Ao se abrir com ela, Clark tinha ficado mais fisicamente presente. Ele sempre estava dando um jeito de ter contato físico com ela, do mais simples entrelaçar de dedos no elevador do Daily Planet até surpreendê-la com um abraço carinhoso por trás na sala de cópias do jornal. Não que ela estivesse reclamando, mas era um novo lado de Clark Kent que ela não conhecia.

                Era um lado que ela estava adorando descobrir. E pela noite incrível que tiveram, o seu veredicto final era que esse Clark Kent estava mais do que aprovado. Pegou-se sorrindo revivendo a intensa noite de entrega, e isso explicavam o corpo dolorido. Estavam no loft conversando sobre seita e de como ela achava que Clark deveria – em breve – se expor para ser um símbolo de esperança; ele pedindo desculpas por ser tão superprotetor com ela e afirmando que Lois Lane segurou a onda sozinha. Os dois fazendo piada sobre churrascos. E de repente havia um diário que provavelmente responderia algumas das milhões perguntas que ainda rondavam a sua cabeça – ela ainda não parou para ler, mas faria isso em breve -, e "você é a pessoa certa. E sempre será.". Após o jantar Clark não precisou perguntar se ela dormiria na fazenda, a resposta foi direta "Quando eu sair do banho espero vê-lo na cama me esperando, Smallville."

FullnessWhere stories live. Discover now