Capítulo 15

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— Eu fiz — disse Olívia na sala escura. — Eu disse a ele que queria o divórcio porque estava apaixonada por você. Agora cumpra sua parte do acordo. Solte-a.
Timothy sorriu para ela. O mesmo sorriso alegre de sempre. Mas todo o restante em relação a ele havia mudado. Ele costumava ser caprichoso e bem-arrumado, com seus óculos de armação metálica. Mas não fazia a barba há meses. Suas roupas estavam sujas e largas.
Ele estava quase irreconhecível, e não era apenas na aparência. Olívia nunca imaginara que ele manteria uma menina de 6 anos como refém por vingança. Vendo os olhos arregalados de Cátia, seu rosto manchado pelas lágrimas enquanto ela se agarrava ao ursinho de pelúcia, Olivia mal podia acreditar que já tivesse lamentado tanto pela forma como tratara Timothy Wright.
— Belo trabalho — disse ele, sacudindo a cabeça, satisfeito. — Eu sabia que você só precisava da motivação certa para se livrar dele.
Olívia o olhou com os olhos estreitos.
— Então, solte a menina.
— Claro, tudo bem. Eu jamais gostei muito de criança mesmo. — Ele empurrou Cátia na direção de Pedro, esperando junto à porta. — Leve-a para casa. Ou até o mais perto que puder, sem que seja pego. — Timothy se virou de volta para
Olívia com um sorriso radiante. — Está vendo? Eu não sou má pessoa, Olívia. Foi você quem me forçou a fazer coisas ruins.
Cátia choramingou um pouquinho. Olivia caiu de joelhos diante da menina, abraçando-a com força.
— Está tudo bem — sussurrou ela, abraçando-a pela última vez. — Você ficará segura. Ele vai levá-la para casa. — Ela se virou agressivamente para Pedro. — Se machucá-la...
— Não farei isso. Só estou nisso pelo dinheiro. — Ele a olhou, depois desviou o olhar para Timothy. —Além disso, não é comigo que a senhora deveria se preocupar. Tchau.
Quando eles saíram, Olívia fechou os olhos, rezando pela segurança da menininha. Ian a encontraria. A essa altura, ele certamente já teria percebido que Olívia jamais se divorciaria dele. Não se ela lhe dissera que o amaria para sempre...
— Enfim sós — disse Timothy com um sorriso asqueroso. Olhando ao redor da casa de cimento, com cortinas rasgadas, perdida no meio da favela, Olivia sentiu outra contração forte. Ela vinha sentindo contrações durante a manhã toda. Sentira a primeira logo depois que Diogo lhe disse que não a amava, e elas só aumentaram a partir do instante em que Pedro lhe entregara o bilhete de Timothy.
Agora, ela olhava para o homem com quem quase se casara naquele adorável dia de primavera, não muito tempo antes.
— Por que você fez isso? — perguntou ela. — Por que me fez dizer aquelas coisas horríveis para o Ian?                    
— Eu queria que ele soubesse qual é a sensação de perder aquilo que você mais ama — disse Timothy, mostrando os dentes. — De ter o coração arrancado.
— Mas ele não vai sentir nada disso. Ele não me ama!
— Eu venho observando vocês dois há meses. Ele não esteve com outra mulher durante todo esse tempo. Nem olha. Ele volta para casa todos os dias às 17h em ponto. E você quer dizer que ele não está apaixonado? Boa tentativa.
Pensar nisso foi como se um raio a tivesse atingido. Seria mesmo possível que Ian a amasse? Oh, por favor, pensou ela, rapidamente fechando os olhos. Não tripudie.
Timothy deu uma risadinha.
— Ian Lima se acha tão poderoso. Ele tem aparência, charme, bilhões. Mas eu o derrotei. Eu ganhei você.
Ela sentiu outra contração. Uma contração forte e longa, diferente das outras, que a fez se sentir fraca. Ela começou a suar no corpo inteiro. Não, ela disse aos bebês desesperadamente. Ainda não. Ela não podia entrar em trabalho de parto ali!
Precisava dar tempo a Ian.
— Oh, Olívia. — Sentando sobre a colcha velha que cobria a cama, Timothy a olhou com uma expressão envergonhada.
— Eu amo tanto você, não vê isso? Eu faria qualquer coisa por você. Desde aquele dia em que a vi na Dairy Burger, com seus cabelos louros brilhando como um anjo, eu soube que era diferente das outras. Você nunca riu de mim. E me respeitava. Mas estava sempre preocupada com dinheiro. Eu sabia que teria de ser rico para você.
— Você realmente fez isso, não foi? — Ela respirava à medida a dor a invadia. — Vendeu bebês para ganhar dinheiro.
Ele sacudiu os ombros.
— Casais sem filhos. Executivas passaram tempo demais cuidando de suas carreiras. Todas ricas e tão desesperadas por seus bebês, enquanto pobres mulheres dão à luz o tempo todo, parindo crianças que não têm como sustentar. Ou proteger. — Ele deu um sorriso tímido. — Eu só estava fornecendo um serviço. Fiz isso por você, Olívia. Sempre por você.
Ela se sentiu enojada. Como poderia ter deixado de enxergar aquele lado do seu caráter? Como poderia ter deixado de ver a forma como ele estava obcecado por ganhá-la? Como poderia ter pensado que ele realmente a amava?
— Mas Lima arruinou tudo. — Timothy dirigiu o olhar para a barriga dela de uma forma que a fez colocar as mãos sobre a barriga de forma protetora. — Se não fosse ele, agora você estaria grávida dos meus filhos. Eu a teria na cama todas as noites me querendo. Somente a mim.
— Não, Timothy — disse ela baixinho.
Ela sacudiu a cabeça.
— Cometi um erro. Nunca deveria ter concordado em me casar com você. Esse sentimento que você tem por mim não é amor. Você nem me conhece.
Ele curvou os lábios num sorriso irônico.
— Talvez você esteja certa — disse ele com um tom cruel. — A garota que eu conhecia era inocente e pura. Ela jamais abriria as pernas para um playboy brasileiro como se fosse a amante de um marujo.
Ela respirou forte.
Timothy sacudiu a cabeça, deu um pulo da cama e a pegou pelo braço.
— Desculpe! — ele gritou. — Eu sei que foi tudo culpa dele. Ele a estuprou. Essa é a única explicação. Mas está vendo como o amor o faz cometer atos de loucura? Vê-la grávida está me deixando insano. Mas não é por muito tempo...
— O que quer dizer? — sussurrou ela. Ele deu um sorriso alegre.
— Eu tenho um médico local em rainha folha de pagamento. Em aproximadamente uma hora ele irá ajudar no parto dos seus bebês, depois você estará livre para vir comigo.
Livre? A palavra a aterrorizou. Outra contração forte a percorreu, deixando seus joelhos fracos. Ela pegou a cabeceira de ferro da cama para se equilibrar.
— Os bebês não vão nascer antes de duas semanas... — disse ela, ofegante.
— Está bem perto. Os nojentinhos ficarão bem. Irão para os novos pais, em Manhattan, que me pagaram uma quantia considerável por gêmeos recém-nascidos, sem fazer qualquer pergunta. Agora sou um homem rico, Olívia. Não tão rico quanto Lima, mas posso comprar tudo que você quiser. Nunca mais você precisará trabalhar. Seu único trabalho será me amar o dia inteiro...
A barriga dela se contraiu e ela quase caiu. Ela tinha que sair dali. Se tivesse os gêmeos agora, eles seriam tirados dela. Ela e Ian jamais voltariam a vê-los.
Precisava ser forte! Forte por seus filhos, forte pelo homem que amava!
— Se você levar os bebês, Ian o matará. — Ela sentou na cama, pois suas pernas davam a sensação de que iam ceder.
— Ele nem sequer me encontrará — disse Timothy, debochado. — Assim que partirmos daqui, sumiremos para sempre.
Ela não podia deixar que isso acontecesse. Tinha que distraí-lo. Com o coração aos pulos, ela desabotoou alguns botões da blusa, dando a ele uma visão melhor de seu decote.
— Nossa, está quente aqui — disse ela, abanando-se. — Por que não deixar que Ian fique com os bebês, depois podemos partir juntos.
Ela podia ver as gotas de suor no rosto pálido de Timothy, sua testa se aproximou, olhando o peito dela.
— Mas eu quero que Lima sofra — sussurrou ele. — E esses bebês são meu dinheiro de fuga. Quero os 4 milhões de dólares. O avião particular vai nos levar até o oeste africano, a um lugar onde ele jamais nos encontrará.
Ela tentou esconder o medo.
— Por que a pressa em partir? — disse ela, recostando na cama. — Por que não ficarmos e nos divertirmos aqui mesmo?
— Sim... — Estremecendo, ele mergulhou a cabeça nos cabelos dela, inalando profundamente. Ela o sentiu tentar levar a mão aos seus seios. Aquilo a deixou enojada, mas ela se forçou a continuar imóvel.
Ian, pensou ela desesperada, onde está você? Ele era tão poderoso, tão inteligente! De alguma forma, os encontraria. Ela só precisava lhe dar tempo. Precisava...
Timothy subitamente apertou seu seio. Depois o outro.
— Sim — disse ele ofegante. — É tão bom. Exatamente como eu pensei que seria...
Mas a repulsa se apoderou de Olívia. Quando ele tentou beijá-la, ela não conseguiu se conter e se afastou. Quando ele se inclinou sobre ela, ela o chutou no rosto.
Ele caiu para trás, confuso. Mas quando ela cambaleou até a porta, ele a pegou pelos cabelos. Com um rosnado, ele a atirou de volta na cama.
— Então é assim que vai ser? — Ela o viu pegando uma faca em cima de uma bandeja. — Está certo, vamos fazer do seu jeito...
Uma sombra escura surgiu sobre ele. Um anjo sinistro da morte com l,95m de puro músculo, atirou Timothy para trás, jogando-o no chão.                                                      
Ian estava sobre ele com a expressão contorcida de ódio.
— Lima ? — Ele se contorceu no chão. — Como?
Ian não respondeu. Mas, por baixo de sua máscara de ira,
Olívia viu o medo. Ele tivera medo de perdê-la.
Timothy levantou do chão, tentando cortá-lo com a faca. Com um rugido, Ian  lhe deu um soco no rosto e o derrubou com facilidade. Ele pegou a lâmina, dobrando a mão do outro homem. O sangue pingou dos dedos de Ian, mas seu rosto não expressava dor alguma — só ódio.
A faca caiu no chão, tilintando.
— Piedade, por favor — gritou Timothy, tentando proteger o rosto. — Não me machuque.
— Eu demonstrei piedade. Duas vezes. — Ian o socou no maxilar e o derrubou novamente. — Você ameaçou minha esposa. Meus filhos. Nunca mais!
— Ian — sussurrou ela. — Ele não me machucou. Por favor, deixe-o ir...
— Sim, deixe-me ir! — Com um grito sonoro, Timothy caiu no chão, fraco.
Ian respirou fundo, visivelmente controlando sua ira.
— Eu posso deixá-lo ir, Wright — disse ele em voz baixa. — Porque ela me pediu. Mas se eu o vir novamente...
— Você nunca mais me verá! Olívia sentiu outra contração forte.
— Me ajude, Ian — disse ela, com dificuldade. — Os bebês...
Ian imediatamente voou até ela. Ele ajoelhou na frente da cama, segurando o rosto dela com as duas mãos.
— Olívia , o que há de errado?
— Cátia? — resfolegou ela. — Você... encontrou...
— Ela está segura — disse ele. — Estamos com ela. Nós encontramos Pedro. Mas se Wright a feriu...
— Estou bem — disse ela, segurando-o, com força. — Mas estou tendo contrações. Os bebês estão chegando.
Ele a pegou em seus braços fortes.
— Agora você está segura, querida — disse ele, tranquilizando-a. — Meus seguranças estão logo atrás de mim. Nós vamos levá-la ao hospital.
Olívia afagou seu rosto forte e belo.
— Você veio me buscar — sussurrou ela, maravilhada. — Você sabia que eu jamais o deixaria. Sabe que eu o amarei para sempre.
— Eu sabia. — As lágrimas que não caíram brilhavam nos olhos escuros dele, quando ele sacudiu a cabeça. — Eu só demorei demais. Perdoe-me por ser um covarde e um tolo. — Ele a olhou. — Eu amo você, Olívia. Sua força, seu coração puro, sua alegria. Quero que você saiba. E a amarei até o dia de minha morte.
Ele a amava.
Uma onda de alegria percorreu seu corpo. Mas ela viu Timothy ficar de joelhos atrás deles. Segurando uma arma na mão, ele a ergueu, deliberadamente...
— Ian! — ela gritou. — Cuidado!
Ian se virou, segurando Ellie nos braços. Mas ele se moveu muito devagar. Devagar demais. Timothy disse:
— Se eu não posso tê-la...
E atirou.

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